📖 Narrado por Caio Valença
As mãos suavam.
O colarinho apertava.
O terno sob medida começava a sufocar como uma armadilha de veludo.
Mas eu mantinha a pose.
Era isso que diferenciava um rei de um plebeu: a capacidade de sorrir enquanto cravavam a adaga.
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Cleiton não olhou pra mim.
Filho da puta.
Lia os votos um a um, como se estivesse anunciando uma lista de compras.
— "Favorável à reavaliação da presidência: Marcelo Gouveia."
— "Favorável: Cláudia Rezende."
— "Favorável: Hélio Montanha."
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Cada "favorável" era um prego no caixão.
E os nomes não paravam.
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Segurei o braço da cadeira com força, sentindo o couro ranger sob meus dedos.
As veias latejando no pescoço.
A respiração controlada na marra.
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Alguns tentavam desviar o olhar.
Outros me encaravam de frente covardes já sentindo o cheiro do sangue e querendo se afastar antes que respingasse.
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Quando o último voto foi lido, Cleiton baixou a cabeça.
O silêncio tomou a sala.
Um silêncio denso, brutal