A manhã nasceu lenta, como se Curitiba tivesse decidido falar baixo. Vivian colocou o celular no modo silencioso e escreveu num papel preso com fita na parede do quarto: “Hoje não sou Scarlett. Hoje sou só irmã.” Repetiu a frase em voz baixa, como quem treina um músculo esquecido. No espelho, prendeu o cabelo ruivo em trança simples, passou um hidratante comum e guardou a nécessaire de maquiagem no fundo do armário. A personagem ficou do lado de fora. Dentro, respirava apenas a menina da estrada que salvara um homem desconhecido e segue salvando, todos os dias, a irmã.
No hospital, Mariana esperava na recepção com a touquinha azul e o caderno de poemas no colo. Ao ver Vivian, ergueu o braço num aceno tão amplo que quase derrubou a caneta. — Eu tenho um novo — anunciou, abrindo o caderno no meio. — “Pássaros que descansam entre tempestades.” Quer ouvir?
Vivian sorriu, e o rosto todo pareceu se ajeitar no lugar. — Quero.
Mariana leu num tom que misturava seriedade e ar: “Pássaros param