Eduardo observava a cidade pela janela do gabinete, o céu encoberto pelo cinza típico de Curitiba. Os papéis em sua mesa continuavam organizados, mas a mente dele estava um caos. Desde o jantar com Juliete, a paciência se esvaíra como vinho derramado. A cena dela reivindicando um pacto de infância ainda ecoava, tão absurda quanto sufocante.
A campainha discreta do gabinete tocou. Sem esperar resposta, Juliete entrou, radiante, carregando uma sacola de presentes.
— Trouxe algumas camisas novas para você, primo. Acho que combinam com a sua postura de juiz — disse, pousando os embrulhos sobre a mesa.
Eduardo ergueu os olhos, sério.
— Juliete, já pedi para não vir sem avisar.
Ela sorriu, como quem não ouve.
— Não se preocupe, um dia vai entender que tudo que faço é por nós. — Aproximou-se e tocou a manga do paletó dele. — O que nossos pais quiseram, eu vou honrar.
Eduardo afastou-se de súbito, a voz dura:
— Pare com isso. Não existe “nós”. Nem nunca existiu.
A cor sumiu do rosto de Juliet