Eduardo acordou antes do sol, com a sensação incômoda de que havia esquecido algo essencial. Tomou banho, vestiu a camisa azul que sempre usava em audiências longas e, antes de sair, abriu a gaveta onde guardava o maço de recortes sobre o acidente. Papel sobre papel, nada novo. O vazio lhe roía a paciência.
No caminho para o fórum, pediu ao motorista que fizesse um desvio. Parou em uma pequena banca de jornais que abria cedo. Comprou três diários e uma revista de variedades. Não procurava notícias; procurava vestígios. No rodapé de uma coluna social, uma nota discreta: “Clube de alto padrão em Curitiba lança nova musa ruiva, presença rara e exclusiva.” O texto não citava nome, apenas insinuava lendas de corredor. “Scarlett”, ele leu em voz baixa, testando o som. A palavra caiu no estômago como gelo. Ruiva. Exclusiva.
— Doutor? — o motorista o chamou do banco da frente, estranhando o silêncio.
— Nada — respondeu, dobrando a página com cuidado cirúrgico. — Siga.
No gabinete, Eduardo lig