O domingo amanheceu com um barulho de pássaros que parecia zombar do peso nas costas de Vivian. Ela passou café, esquentou pão na frigideira e ficou olhando a fumaça subir como se dali pudesse nascer uma resposta que não doesse. A mesa da cozinha da tia Marlene tinha um tabuleiro invisível: numa casa, os livros da faculdade; na outra, a pilha de boletos com o elástico cansado. Entre as duas, um espaço que já não comportava mais equilíbrio.
— Dormiu? — Marlene apareceu de chinelos, o avental por cima da camisola.
— Quase. — Vivian sorveu um gole de café que raspou na garganta. — Tia… eu queria te falar de uma coisa.
Marlene pousou o olhar, alerta. A sobrinha raramente anunciava conversas assim.
— Recebi uma proposta — Vivian disse, escolhendo as palavras como quem pisa em pedras soltas. — Em Curitiba. É trabalho. Perto de hospital… de clínica. Cuidar de pessoas. É… temporário, mas paga bem. A gente conseguiria colocar as contas em dia e garantir as medicações da Mari.
O silêncio foi cu