A casa ficava num ponto alto, onde Curitiba parecia respirar com mais calma. Não era bonita nem feia: era sólida. Portas antigas, janelas pesadas, uma varanda estreita com vasos de samambaias que ninguém regava há dias. Aline entrou primeiro, testou luzes, verificou saídas, conferiu a rede de celular. Depois fez o gesto curto que significava “seguro o bastante por hoje”.
— Troquem o ar — disse, abrindo duas janelas. — Troquem de roupa. Troquem de assunto, se der. Eu fico na sala da frente. Qualquer coisa, toquem duas vezes na parede.
Não perguntou se estavam bem. Quem viu a morte de perto não está. A pergunta correta era: “vocês conseguem ficar em pé?”. E os dois conseguiam.
Vivian atravessou o corredor com passos lentos, os dedos roçando a tinta descascada, como quem lê uma história em braile. O quarto era simples: cama de madeira, colcha bege, uma cadeira encostada ao armário antigo, cheiro de lavanda guardada em saquinho. Na cabeceira, um abajur de vidro verde que dava à luz um tom