O dia nasceu mais claro do que a véspera, um azul lavado que prometia pouco e, por isso mesmo, parecia seguro. Vivian acordou antes do relógio, com a sensação de que alguém a chamava pelo apelido — “Vivi…” —, e ficou alguns segundos tentando decidir se tinha sido sonho. Eduardo já estava de pé, o paletó sobre a cadeira, a manga da camisa dobrada de um jeito que dizia trabalho; mas o olhar, quando a viu, disse cuidado.
— Hoje é dia de feira — ele falou, como se anunciasse um evento internacional.
— Hoje é dia de sinal — ela respondeu, e o coração, sem pedir licença, acelerou.
Aline apareceu com o cabelo preso num nó alto e uma sacola de pano sobre o ombro. Dentro, o bilhete disfarçado, três linhas que não diziam nada e diziam tudo: “Sábado — bolo — feira”. Um horário a lápis, quase apagado, marcava a janela segura no final da manhã. A estratégia era simples e antiga: uma vizinha antiga da tia de Vivian levaria um bolo de fubá, como de costume; o bilhete iria embrulhado no papel de pão.