O amanhecer não trouxe respostas, só uma claridade tímida filtrada pelas cortinas. Vivian abriu os olhos devagar, como quem teme o que a luz revela. Eduardo dormia ao lado, o braço sobre o peito, a respiração calma. A paz daquele quadro doeu de bonita e de breve: bastou lembrar do que não podia fazer — ligar para casa — para o peso voltar ao estômago.
Ela sentou na beira da cama, os pés procurando o frio do chão como quem precisa de prova de realidade. O celular novo estava sobre a cadeira, sem capa, sem personalidade. “Número em observação”, Aline dissera. “Canal comprometido. O cartel bloqueia e rastreia.” O antigo, confiscado no dia da prisão, talvez ainda respirasse num arquivo morto. Entre um e outro, havia um deserto. No meio, Mariana.
Eduardo despertou com o movimento e, sem abrir completamente os olhos, encontrou o ombro dela com a ponta dos dedos. — Dormiu um pouco?
— O suficiente para lembrar que não posso ligar para a minha irmã — ela respondeu, e o olhar ficou turvo por um