Mundo ficciónIniciar sesiónLivro 1: Isabella, 22 anos, criada em uma família pobre, com um pai alcoólatra e violento. Determinada a mudar de vida e dar um novo começo para sua mãe, Isabella aceita uma oportunidade única: trabalhar como au pair para uma família na Espanha. Mas o que ela não esperava era que seu novo chefe seria Miguel Moretti, um CEO arrogante e fechado, que há anos enterrou seus sentimentos após a trágica perda da esposa. Miguel, de 35 anos transformou o trabalho em seu único refúgio. A única luz em sua vida é sua filha, Giulia, uma garotinha de cinco anos cheia de vida e curiosidade. Decidido a dar à filha a melhor educação possível, sem imaginar que a chegada daquela jovem brasileira iria abalar sua rotina e despertar emoções que ele jurava ter deixado para trás. Livro 2: Giulia Benites deixou a Espanha para estudar medicina em Londres, acreditando que sua vida finalmente estava entrando nos trilhos. Sobrevivente de um câncer na infância e filha de um pai amoroso que lhe ensinou sobre força, ela não esperava que a liberdade também trouxesse a vulnerabilidade de se apaixonar. Noah Calahan é o herdeiro de uma das famílias mais poderosas da cidade. Rico, talentoso e sufocado pelas expectativas dos pais, ele esconde de todos a paixão pela arte e o desejo de viver uma vida diferente daquela que foi traçada para ele desde o berço. Quando seus caminhos se cruzam na faculdade, a atração é instantânea. Mas o que começa como uma amizade leve e cheia de confidências se transforma em algo mais profundo. E uma única noite juntos muda tudo. Agora, com uma gravidez inesperada, Giulia e Noah precisarão enfrentar o maior obstáculo de todos: a família Calahan. Para o pai de Noah, Giulia jamais será digna de carregar o sobrenome da família.
Leer másMeus pés doíam depois de horas em pé, limpando quartos de hotel antes das aulas, e minha mochila parecia pesar o dobro do normal com os livros que eu mal tinha tempo de abrir. O cansaço era tanto que até respirar parecia exigir um esforço extra.
Com um suspiro, caminhei até o ponto de ônibus, onde uma pequena multidão de pessoas igualmente exaustas se amontoava. O trânsito caótico da cidade não perdoava ninguém, e o ônibus que eu precisava pegar sempre demorava mais do que deveria. Enquanto esperava, encostei minha mochila no chão e fechei os olhos por um instante, tentando me convencer de que ainda tinha energia para o trajeto de quase uma hora até casa. Quando o ônibus finalmente chegou, quase não consegui subir os degraus. Meu corpo pedia descanso, mas minha mente sabia que o dia ainda não tinha acabado. Encontrei um lugar no fundo, longe das janelas quebradas e dos assentos rasgados, e deixei minha mochila no colo. Encostei a cabeça no vidro frio, fechando os olhos. Normalmente eu usaria esse tempo para revisar as matérias do dia ou ler algum capítulo atrasado, mas hoje não dava. Hoje, eu só queria dormir. Mas o sono não veio. Em vez disso, os pensamentos começaram a girar como uma tempestade. A pilha de roupas para lavar, a janta que eu teria que preparar para mim e para minha mãe, e aquele relatório da faculdade que eu mal tinha começado. Tudo parecia girar ao redor de uma única verdade: eu precisava sair dali. Passei boa parte da minha vida estudando e me preparando com esperanças de que um dia algo mudaria. Crescer em um lar disfuncional, onde todo o apoio que você tem vem de si mesma, nunca é fácil e na maioria das vezes pensei em desistir. Me entregar a profissões estranhas e que no fundo eu sabia que apesar de render uma boa quantia de dinheiro, também poderiam me levar a caminhos ruins. Estudei muito para conseguir uma bolsa em uma escola e graças a uma professora consegui entrar em um curso pré-vestibular, e apesar dos olhares tortos dos outros alunos eu nunca me deixei abater e sempre lutei para ter o melhor. Agora verdadeiramente o esforço estava perto de valer a pena, apesar dos problemas em casa, também havia uma pequena chama de esperança brilhando para mim no final de todo aquele caos. Eu realmente poderia mudar a vida da minha mãe. Minha única chance era o programa de intercâmbio para o qual me inscrevi com a ajuda da professora Ana. Uma vaga de au pair na Espanha poderia ser a nossa salvação. Mas semanas se passaram sem resposta, e a esperança que eu agarrava com unhas e dentes começava a se desgastar. Quando o ônibus finalmente chegou ao meu bairro, já estava escuro. Caminhei até casa, sentindo o peso da mochila e do medo que sempre me acompanhava ao cruzar aquela porta. Assim que entrei, ouvi um som que gelou meu sangue: um estalo seco, seguido de um grito abafado. Corri para a sala e encontrei minha mãe caída no chão, as mãos cobrindo o rosto enquanto lágrimas escorriam. — Mãe! — larguei a mochila e me ajoelhei ao lado dela. — O que aconteceu? Ela apenas chorava, incapaz de falar. — Sua mãe é uma inútil! — a voz dele ecoou atrás de mim. Meu padrasto estava de pé, com uma garrafa de cachaça numa mão e uma carteira estufada de dinheiro na outra. Seus olhos estavam vermelhos, o hálito carregado de álcool. — Eu faço tudo por esta casa e é assim que sou tratado? — Você não faz nada além de destruir! — gritei, levantando-me para encará-lo. — Saia daqui! Ele riu, um som frio e carregado de desprezo. — Eu saio quando quiser, pirralha. E vou levar o que é meu. — Ele ergueu a carteira, balançando-a no ar. — Vocês não são nada sem mim. Sem dizer mais nada, saiu batendo a porta com força. O som ecoou pela casa vazia e frágil como um aviso: ele voltaria. Corri de volta para minha mãe, que tremia no chão. — Mãe, a gente não pode continuar aqui. — Segurei suas mãos com força. — Vamos embora. Eu arrumo outro lugar, qualquer coisa. Só não podemos ficar esperando ele voltar e fazer pior. Ela balançou a cabeça, soluçando. — Não, Isa… Ele vai mudar. Ele só está nervoso… — Ele nunca vai mudar! — As palavras saíram num sussurro desesperado. — Por favor, mãe… por nós duas. Mas seus olhos não encontraram os meus. Ela apenas chorava, perdida demais no próprio medo para acreditar em qualquer saída. Senti um nó na garganta, uma mistura de raiva e impotência que me sufocava. Eu não podia continuar presa naquele ciclo. Se ela não iria comigo, eu teria que ir sozinha. — Vem, vamos cuidar disso — falei baixo, tentando controlar o tremor na minha voz Ajudei-a a se levantar com cuidado e levei-a até o banheiro. Peguei uma toalha limpa, molhei com água fria e pressionei de leve sobre o corte em seu rosto. Ela soltou um leve gemido de dor, mas não protestou. Lavei o sangue seco com delicadeza, aplicando uma pomada enquanto sentia meu coração apertado. Era sempre assim: eu cuidava das feridas enquanto ele causava outras. Quando terminei, ela estava exausta, os olhos inchados de tanto chorar. — Vai descansar, mãe. Eu faço o jantar depois — sussurrei, ajudando-a a se deitar no sofá. Ela apenas assentiu, os dedos ainda trêmulos segurando a manta que eu havia colocado sobre ela. Saí da sala em silêncio, com o peito pesado, e segui para o meu quarto. Encostei a porta e desabei na cama, abraçando o travesseiro com força. O som de uma notificação me fez pular. Meu celular vibrou no bolso. Peguei o aparelho com as mãos trêmulas e vi, na tela bloqueada, o ícone de um e-mail. O meu tão sonhado e-mail de aprovação no intercâmbio.A notícia ficou ecoando na minha cabeça o resto da noite.Marina voltou.Duas palavras. O suficiente pra fazer tudo dentro de mim se revirar.Quando entrei de volta na cobertura, a cena diante de mim era tão serena que por um instante duvidei do que tinha acabado de ouvir. Serena estava na cozinha, preparando o jantar, o cabelo preso em um coque frouxo, enquanto Clara, ainda com o pijama de unicórnio, desenhava na bancada.— Papai! — ela gritou assim que me viu. — Olha o desenho que fiz da gente no parque!Sorri, forçando naturalidade, e me abaixei ao lado dela.— Está lindo, meu amor. — Beijei sua testa, sentindo o coração apertar.— Vai jantar com a gente? — perguntou Serena, virando-se com aquele sorriso que, ultimamente, vinha me tirando o chão.— Eu… não vou poder. — Endireitei o corpo, tentando esconder o peso da voz. — Preciso resolver uma coisa na empresa, mas volto antes de você colocá-la pra dormir.Ela pareceu hesitar por um momento, mas apenas assentiu.— Tudo bem. A gente
O peso leve em cima do meu peito me despertou antes mesmo do som da chuva cessar completamente. Clara estava ali, ajoelhada sobre a cama, os cabelos desgrenhados e o pijama cor-de-rosa amassado, me olhando com aquele sorriso que eu nunca consegui resistir.— Papai, acorda! — ela gritou, rindo, enquanto me sacudia pelos ombros. — É domingo!Abri um dos olhos e fingi um resmungo.— Domingo é o dia oficial de dormir até tarde, minha pequena.— Mas eu quero ir ao cinema! — Ela cruzou os braços, fazendo o melhor bico dramático que já vi. — O filme novo da princesa estreou e a Júlia já viu.Suspirei, me rendendo.— Tudo bem, tudo bem. — Levei a mão aos cabelos dela. — Se você me deixar tomar café primeiro, a gente vai.Clara deu um gritinho de vitória e pulou da cama.— Oba! Posso chamar a Serena também?Aquilo me pegou de surpresa.— Serena? — repeti, tentando disfarçar o desconforto repentino.— Sim! Ela precisa ver o filme comigo. Ela vai adorar!Sentei-me na cama, tentando argumentar.—
A casa estava em silêncio quando fechei a porta do quarto de Clara.O abajur em formato de nuvem deixava um tom suave de luz no ambiente, e ela dormia abraçada ao urso que Serena lhe dera no primeiro dia. Ajeitei a coberta até o queixo dela e fiquei ali por um instante, observando o ritmo tranquilo da respiração da minha filha. Era raro tê-la assim, serena — sem trocadilhos. Desde que Marina desaparecera de vez, Clara tinha dificuldade em adormecer. Sempre pedia uma história, um colo, uma presença. Hoje, no entanto, parecia completamente em paz.Sorri de leve, passei a mão em seus cabelos finos e murmurei: — Boa noite, pequena.Quando me virei, ouvi o som distante da chuva batendo contra as janelas da sala. O relógio do corredor marcava quase onze da noite. Eu pretendia apenas pegar um copo d’água e talvez revisar alguns e-mails antes de dormir, mas o aroma que vinha da cozinha me fez mudar o rumo.Canela.E um toque de limão.Desci os degraus devagar, a gravata pendurada em volta do
O dia parecia não ter fim.As horas no escritório se arrastaram entre reuniões tensas, ligações sem solução e a pilha de relatórios que eu ainda precisava revisar antes de segunda. Quando finalmente consegui sair, o céu já estava tingido de tons alaranjados, e o trânsito da cidade me lembrou que a sexta-feira ainda não tinha acabado.Dirigi em silêncio, o som abafado do motor me servindo de companhia. O telefone tocou duas vezes — ignorei ambas. Tudo o que eu queria naquele momento era silêncio.Mas, quando o elevador se abriu e a porta da cobertura deslizou, fui recebido por algo que imediatamente dissolveu parte do peso do dia.— Papai! — a voz de Clara soou doce e animada, e antes que eu pudesse reagir, um pequeno turbilhão de cachos e perfume infantil se jogou nos meus braços.Ela segurava um buquê de girassóis quase maior que ela.— Surpresa! — disse, rindo. — Eu comprei pra você!Abaixei-me, ainda meio surpreso, e senti o cheiro das flores se misturar ao dela — aquele aroma leve
Acordei com um peso leve sobre mim e uma risada baixinha bem perto do ouvido. Ainda meio sonolenta, demorei alguns segundos para entender o que estava acontecendo — até sentir os cachos de Clara roçando meu rosto.— Acorda, Serena! — ela exclamou, pulando sobre a cama, os olhos brilhando. — Vamos tomar café fora hoje!Soltei uma risada arrastada, puxando o travesseiro para esconder o rosto.— Café fora? Mas ainda nem é oito da manhã...Ela riu mais alto, ignorando completamente a minha tentativa de continuar na cama.— Vamos, vamos! O papai foi trabalhar e eu quero tomar café na rua!Dei-me por vencida e sentei na cama, os cabelos bagunçados e a voz rouca de sono.— Tudo bem, princesa. Mas só se a gente convidar a Lourdes pra ir com a gente.Clara abriu um sorriso que iluminou o quarto.— Combinado!Ela estendeu a mão para mim, e eu aceitei o convite. O toque dela era pequeno, quente e confiante — e, por um instante, senti um tipo de paz que há muito tempo eu não experimentava.A leve
O som suave da respiração de Clara é a primeira coisa que escuto ao despertar. O quarto ainda está mergulhado na penumbra da manhã, a luz filtrando pelas cortinas com a calma de um sábado preguiçoso. Por um instante, fico apenas observando minha filha dormir — o rosto tranquilo, os cabelos espalhados pelo travesseiro, as mãos pequenas segurando o ursinho que Serena lhe deu na noite anterior. Há algo de quase sagrado nesse silêncio, uma paz que raramente encontro fora daqui.Ajeito o cobertor sobre ela e me levanto com cuidado, tentando não fazer barulho. O chão de madeira range levemente, denunciando meus passos, e eu prendo a respiração como se o mundo pudesse desmoronar caso ela despertasse. Mas Clara continua imóvel, perdida em seus sonhos.O relógio sobre a cômoda marca seis e quarenta. É sábado, e mesmo assim preciso passar na empresa. Algumas pendências urgentes, relatórios que não posso deixar para segunda. Por mais que Lourdes diga que eu deveria descansar, é difícil desligar.
Último capítulo