O outono havia chegado outra vez a Santa Aurélia. As folhas caíam em tons de cobre e ouro sobre o jardim do solar Ferraz, onde o vento parecia sussurrar histórias antigas. O passado, embora enfim revelado, deixara raízes fundas que Isabel ainda tentava entender.
Nos dias que se seguiram à descoberta, Amélia passou a visitá-la com frequência. As duas, ainda desconfiadas uma da outra, se encontravam no ateliê de música, cercadas por partituras e chá quente. Era uma convivência silenciosa no começo, mas que, aos poucos, começou a se transformar em algo mais — um tipo de curiosidade mútua, quase ternura.
Isabel descobria na irmã um reflexo diferente de si: onde ela era calma e ponderada, Amélia era impulsiva, direta, e falava com as mãos, como se cada frase precisasse sair de dentro do peito. E, de um jeito estranho, aquilo a encantava.
— Você se parece mais com ele — disse Isabel uma tarde, entre um gole de chá e outro. — Com Adriano.
Amélia sorriu, mas o sorriso tinha uma sombra.
— Talv