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Capítulo 7 – Entre o Medo e a Escolha

Lívia não conseguiu voltar direto para casa.

Saiu da cafeteria caminhando sem rumo, como se o corpo precisasse se mover para acompanhar a confusão dentro da cabeça. O vento frio da tarde tocava seu rosto, mas não era suficiente para afastar o calor que subia pelo peito, resultado de tudo o que fora dito — e, principalmente, do que ficara subentendido.

Proteção.

A palavra parecia bonita quando dita por Daniel, mas carregava um peso difícil de ignorar. Proteção podia facilmente se transformar em controle. Em dependência. Em silêncio imposto.

Ela atravessou a rua distraída, quase não percebendo o semáforo abrir. Só se deu conta quando um carro buzinou e o motorista gritou algo que ela não ouviu. O coração disparou, e ela levou a mão ao ventre instintivamente.

— Calma… — murmurou. — Está tudo bem.

Mas não estava.

Chegou ao pequeno apartamento quando o céu já começava a escurecer. Assim que fechou a porta, encostou-se nela e deixou o corpo escorregar até o chão. As lágrimas vieram silenciosas, sem soluços, como se já não tivesse forças nem para chorar direito.

Nunca se sentira tão sozinha.

Pegou o celular e abriu a conversa com Daniel. Digitou algo, apagou. Digitou de novo, apagou outra vez. Qualquer resposta parecia errada. Qualquer decisão, grande demais.

Sentia medo.

Medo de aceitar e perder a si mesma.

Medo de recusar e colocar o filho em risco.

— O que eu faço? — sussurrou para o vazio do apartamento.

Não havia resposta.

Do outro lado da cidade, Daniel também encarava o próprio reflexo, mas no vidro escuro da janela de seu escritório. A noite avançava, e ele continuava ali, sem ligar as luzes, perdido em pensamentos que insistiam em escapar do controle.

Lívia tinha razão.

Ele sempre resolvera tudo como um contrato. Pessoas entravam e saíam de sua vida como cláusulas temporárias. Nada ficava tempo demais para criar raízes. E agora havia uma mulher que o obrigava a encarar algo que não podia ser assinado, comprado ou encerrado com uma caneta.

Um filho.

Daniel passou a mão pelo cabelo, sentindo uma tensão que não experimentava havia anos. A proposta que fizera parecia lógica em sua cabeça. Segurança, estabilidade, proteção. Tudo o que ele sabia oferecer.

Mas, pela expressão de Lívia, percebera que aquilo também soava como uma ameaça.

— Maldição… — murmurou.

O celular vibrou em sua mão.

Mãe.

Ele suspirou antes de atender.

— Ela aceitou? — perguntou Helena, sem rodeios.

— Não — respondeu Daniel. — E mesmo que aceitasse, não seria nos termos que você quer.

Houve um breve silêncio.

— Você está se envolvendo demais — disse ela. — Isso não é prudente.

— Prudente é assumir responsabilidades — rebateu ele.

— Responsabilidade não significa abrir espaço para chantagens emocionais — respondeu Helena.

— Lívia não está me chantageando.

— Ainda — corrigiu ela.

Daniel fechou os olhos.

— Não fale dela assim.

— Você a conhece há quanto tempo? — questionou Helena. — Algumas semanas?

— Tempo suficiente para saber que ela não é quem você pensa.

— E quem ela é? — perguntou a mãe, com ironia.

Daniel hesitou.

— Alguém que não se vende — respondeu.

O silêncio do outro lado da linha foi carregado.

— Isso pode custar caro — disse Helena, por fim.

— Eu sei — respondeu Daniel. — Mas já está custando.

Ele encerrou a ligação antes que ela pudesse responder.

Enquanto isso, Lívia tomou um banho demorado, deixando a água quente cair sobre os ombros tensos. Tentava organizar os pensamentos, mas tudo parecia se misturar: a voz fria de Helena, o olhar firme de Daniel, o medo do futuro, a vida crescendo dentro dela.

Saiu do banho, vestiu um pijama largo e se sentou na cama. Abriu uma gaveta antiga e tirou de dentro um envelope amarelado. Contas atrasadas. Avisos. Lembretes de uma realidade que ela não podia ignorar.

Amava aquele filho antes mesmo de conhecê-lo.

Mas amor não pagava aluguel. Não garantia médico. Não afastava ameaças veladas.

O celular vibrou novamente.

Daniel.

Ela respirou fundo antes de atender.

— Alô.

— Você está bem? — perguntou ele, e a preocupação na voz a pegou desprevenida.

— Estou — respondeu, mesmo sem ter certeza.

— Eu não quis pressionar você hoje — disse ele. — Sei que pareceu isso.

— Pareceu porque foi — respondeu ela, com sinceridade.

Houve um silêncio breve.

— Você tem razão — admitiu Daniel. — E por isso estou ligando. Não para exigir uma resposta.

— Então por quê?

— Para dizer que, qualquer que seja sua decisão, eu não vou desaparecer — disse ele. — Não vou fingir que isso não existe.

Lívia sentiu o peito apertar.

— Promessas são fáceis — disse ela.

— Eu sei — respondeu ele. — Por isso não estou prometendo. Estou me comprometendo.

Ela fechou os olhos.

— Eu preciso de tempo — disse.

— Eu vou respeitar — respondeu ele. — Mas preciso que saiba que não está sozinha.

As palavras ecoaram dentro dela por longos segundos.

— Boa noite, Daniel — disse por fim.

— Boa noite, Lívia.

A ligação terminou, mas algo permanecia.

Pela primeira vez desde que descobrira a gravidez, Lívia sentiu que talvez não estivesse lutando completamente sozinha.

Mesmo assim, o medo ainda estava ali.

Naquela noite, sonhou que caminhava por um corredor longo e escuro, carregando algo precioso nos braços. Portas se fechavam ao redor, vozes sussurravam julgamentos, e, no fim do corredor, uma luz distante a chamava.

Acordou assustada, com a mão sobre o ventre.

— Eu vou te proteger — sussurrou.

Mas a pergunta continuava:

Quem a protegeria?

Ao amanhecer, Lívia tomou uma decisão.

Pegou o celular e escreveu uma mensagem curta para Daniel.

Precisamos conversar. Aceito ouvir sua proposta. Mas será nos meus termos.

Do outro lado da cidade, Daniel leu a mensagem e sentiu algo inesperado crescer dentro de si.

Esperança.

Mas também sabia:

Essa escolha não diminuiria os conflitos.

Apenas os tornaria inevitáveis.

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