Capítulo 3 – Negação

Daniel passou o restante do dia olhando para relatórios que não conseguia ler.As palavras estavam ali, os números também, mas nada fazia sentido. A imagem de Lívia, parada diante de sua mesa, a mão sobre o ventre e a voz firme dizendo que estava grávida, insistia em voltar como um golpe silencioso.

Grávida.

Ele fechou o arquivo com força e se levantou, caminhando até a janela. A cidade seguia seu ritmo normal lá embaixo, indiferente ao caos que se instalara dentro dele.

Aquilo não podia estar acontecendo. Daniel sempre tivera controle sobre tudo: negócios, relacionamentos, decisões. Não deixava espaço para erros, muito menos para imprevistos. Mulheres haviam passado por sua vida, mas nenhuma permanecera tempo suficiente para criar laços. Sempre deixara isso claro. Sem compromissos. Sem consequências.

— Droga… — murmurou, passando a mão pelos cabelos.

Pegou o celular e discou um número conhecido.

— Preciso que você verifique algo para mim — disse assim que a ligação foi atendida. — Discreto. Muito discreto.

Do outro lado, a resposta veio rápida e profissional.

— Quero tudo. Histórico médico, rotina, qualquer coisa que comprove ou descarte essa história.

Encerrou a ligação sentindo um peso estranho no peito.

Enquanto isso, Lívia caminhava sem rumo pelas ruas próximas ao prédio, tentando organizar os pensamentos. O encontro tinha sido pior do que ela imaginara. Frio. Calculado. Doloroso.

Ela apertou a bolsa contra o corpo, como se aquele gesto pudesse protegê-la.

— Eu vou conseguir — disse em voz baixa, mais para si mesma do que para o mundo.

Mas o medo era real.

Nos dias seguintes, Daniel se manteve distante. Nenhuma ligação. Nenhuma mensagem. Para ele, o silêncio era uma forma de negar. Se não falasse sobre aquilo, talvez deixasse de existir.

Lívia, por outro lado, sentia cada segundo pesar. Os enjoos começaram a aparecer, discretos, mas constantes. O cansaço parecia maior do que deveria ser. Tudo nela mudava, enquanto Daniel fingia que nada havia acontecido.

Até que, três dias depois, ele apareceu.

Lívia havia acabado de sair do trabalho quando o viu encostado em um carro preto, elegante demais para aquele bairro simples. O coração dela disparou.

— Precisamos conversar — disse ele, sem rodeios.

— Eu achei que você já tivesse dito tudo o que precisava — respondeu ela, tentando manter a calma.

— Eu preciso de respostas — rebateu Daniel. — Isso não é algo pequeno.

— Para mim nunca foi — respondeu Lívia, com firmeza.

Ele respirou fundo.

— Eu marquei uma consulta — disse. — Um médico de confiança. Quero que você vá.

— Você acha que eu estou mentindo? — questionou ela, sentindo a indignação crescer.

— Eu acho que preciso ter certeza — respondeu ele, seco.

As palavras cortaram mais fundo do que ela esperava.

— Eu não preciso provar nada para você — disse Lívia. — Esse filho é meu.

— Se for meu também, isso muda tudo — respondeu Daniel.

— Não muda quem você é — rebateu ela.

O silêncio se instalou entre os dois.

— Pense nisso — disse ele por fim. — Se você está dizendo a verdade, nós dois teremos que lidar com as consequências.

— Eu já estou lidando — respondeu ela.

Daniel entrou no carro e foi embora, deixando para trás uma Lívia ainda mais certa de uma coisa: ele não estava pronto para aceitar aquela realidade.

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