Capítulo 6 – A Proposta

Daniel estava de pé diante da janela quando recebeu a mensagem da mãe.

Ela recusou.

Aquelas duas palavras bastaram para tensionar ainda mais algo que já estava à beira do rompimento dentro dele.

Ele fechou os olhos por um instante, respirando fundo, como fazia antes de decisões importantes. Negócios arriscados. Fusões delicadas. Aquisições que poderiam custar milhões. Sempre soubera lidar com pressão.

Mas aquilo era diferente.

Não envolvia números. Envolvia pessoas.

E, pela primeira vez em muito tempo, Daniel não tinha certeza de qual era a jogada certa.

— Teimosia — murmurou.

Mas, no fundo, sabia que não era só isso.

Havia algo em Lívia que não se dobrava facilmente.

Pegou o celular e digitou uma mensagem curta.

Precisamos conversar. Hoje.

A resposta não veio de imediato.

Do outro lado da cidade, Lívia estava sentada na cama, abraçando os próprios joelhos, ainda sentindo o peso da conversa com Helena. Cada palavra ecoava em sua mente como uma ameaça velada.

O mundo pode ser cruel com quem enfrenta pessoas poderosas.

Ela fechou os olhos, tentando afastar o medo.

— Não vou me vender — sussurrou para si mesma.

O celular vibrou em sua mão.

Daniel.

O nome acendeu uma mistura confusa de raiva, insegurança e algo que ela não queria admitir: alívio.

Leu a mensagem duas vezes antes de responder.

Hoje não.

A resposta veio quase instantaneamente.

Isso não pode esperar.

Lívia respirou fundo.

Pode sim. Eu preciso de tempo.

Houve alguns segundos de silêncio.

Vou até você, escreveu ele.

O coração dela disparou.

Não, respondeu rapidamente. Nos encontramos em um lugar público.

Depois de alguns segundos, ele aceitou.

Cafeteria Central. Uma hora.

Lívia desligou o celular e ficou olhando para a parede, sentindo o estômago se revirar — e não era só o enjoo da gravidez.

Ela sabia que aquela conversa mudaria tudo.

Quando chegou à cafeteria, Daniel já estava lá.

Sentado à mesa mais afastada, vestia um terno escuro impecável, postura ereta, expressão controlada. Parecia deslocado naquele ambiente simples, como se estivesse sempre em outro nível — acima, distante.

Os olhos dele se ergueram no instante em que ela entrou.

Por um breve segundo, Daniel perdeu o fôlego.

Lívia parecia diferente.

Mais frágil. Mais pálida. Mas havia algo novo em seu olhar — uma força silenciosa, quase desafiadora.

Ela se aproximou e sentou-se sem cumprimentá-lo.

— Sua mãe falou comigo — disse ela, sem rodeios.

Daniel fechou o maxilar.

— Eu sei.

— Então sabe que a resposta é não.

Ele a observou por alguns segundos antes de falar.

— Minha mãe não deveria ter ido até você — disse, com a voz firme. — Mas a situação exige soluções.

— Soluções que envolvem me esconder? — retrucou Lívia. — Fingir que meu filho não existe?

— Não foi isso que eu disse.

— Foi exatamente isso que ela disse — rebateu.

O silêncio se instalou entre os dois.

Daniel respirou fundo.

— Eu não quero que isso se transforme em uma guerra — disse. — Nem para você, nem para mim.

— Então por que parece que estou sendo atacada por todos os lados? — perguntou ela.

Ele não respondeu de imediato.

— Porque você está no meio de algo grande demais — disse por fim.

— Grande demais para mim? — ironizou.

— Grande demais para qualquer pessoa — corrigiu ele. — Meu mundo não é simples, Lívia.

— O meu também não — respondeu ela. — Só que eu nunca tive escolha.

Daniel apoiou os cotovelos na mesa.

— Eu não estou tentando tirar seu filho — disse. — Estou tentando evitar que ele nasça em meio ao caos.

— O caos já existe — respondeu Lívia. — E foi criado por você.

As palavras o atingiram mais do que ele gostaria de admitir.

— O que você quer, então? — perguntou ele, finalmente. — Diga.

Ela hesitou por um instante.

— Eu quero respeito — disse. — Quero que você pare de tentar resolver isso como se fosse um contrato.

— Tudo na minha vida é resolvido assim — respondeu ele.

— Então talvez esse seja o problema — rebateu ela.

Daniel se recostou na cadeira, analisando-a.

— Vou ser direto — disse. — Quero assumir a responsabilidade.

Lívia arregalou os olhos.

— Assumir como? — perguntou, desconfiada.

— Financeiramente, em primeiro lugar — respondeu ele. — Você terá segurança. O bebê também.

— E emocionalmente? — questionou ela.

Ele hesitou.

— Eu não sei fazer isso — admitiu.

A sinceridade inesperada a pegou de surpresa.

— Então não prometa o que não pode cumprir — disse ela, mais suave.

Daniel respirou fundo.

— Existe uma alternativa — disse. — Uma proposta.

O estômago de Lívia se contraiu.

— Que tipo de proposta?

— Um acordo — respondeu ele. — Legal. Claro. Protegendo todos os envolvidos.

— Eu não sou uma cláusula — respondeu ela.

— Não — concordou ele. — Mas o bebê precisa de garantias.

Ela permaneceu em silêncio.

— Eu posso reconhecer a paternidade — continuou Daniel. — Mas precisamos definir limites.

— Limites para quem? — perguntou ela.

— Para exposição — respondeu. — Para interferências externas.

— Sua mãe — murmurou Lívia.

— Principalmente ela — confirmou ele.

Lívia o encarou por longos segundos.

— Você está disposto a enfrentá-la? — perguntou.

Daniel não respondeu de imediato.

— Estou disposto a tentar — disse por fim.

Ela soltou uma risada curta, sem humor.

— Tentar não é suficiente quando se trata de um filho.

— Eu sei — respondeu ele, com firmeza. — Por isso quero fazer do jeito certo.

— Do seu jeito — corrigiu ela.

— Do jeito possível — rebateu ele.

O silêncio voltou a se instalar.

— Você me machucou — disse Lívia, de repente. — Mesmo sem perceber.

Daniel franziu a testa.

— Eu não prometi nada naquela noite — disse.

— Mas também não pensou nas consequências — respondeu ela. — Eu pensei. Sempre penso.

Ele abaixou o olhar.

— Eu falhei — admitiu.

A palavra soou estranha em sua boca.

Lívia sentiu algo dentro de si vacilar.

— O que exatamente você está propondo? — perguntou, finalmente.

Daniel respirou fundo.

— Que você fique sob minha proteção — disse. — Temporariamente.

— Como assim? — questionou.

— Um lugar seguro — explicou ele. — Longe de interferências. Com acompanhamento médico. Estabilidade.

— Soa como uma prisão dourada — respondeu ela.

— Não é — garantiu. — É uma tentativa de fazer as coisas certas.

— Para quem? — perguntou.

— Para o bebê — respondeu ele, sem hesitar.

Lívia levou a mão ao ventre instintivamente.

— Eu preciso pensar — disse.

— Eu sei — respondeu Daniel. — Mas não temos muito tempo.

— Por quê?

— Porque minha família não vai parar — disse ele. — E porque, gostando ou não, você agora faz parte do meu mundo.

Ela se levantou devagar.

— Eu não pedi por isso — disse.

— Nem eu — respondeu ele. — Mas estamos aqui.

Ela o encarou uma última vez.

— Não tome decisões por mim — disse. — Eu não sou fraca.

— Eu sei — respondeu ele, com convicção.

Lívia saiu da cafeteria com o coração acelerado.

Daniel permaneceu sentado, observando-a se afastar.

Pela primeira vez, percebeu que dinheiro, poder e controle talvez não fossem suficientes para protegê-lo do que estava por vir.

E que aquela proposta poderia ser apenas o começo de algo muito mais perigoso:

Sentimentos.

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