Capítulo 5 – Pressões

Daniel não conseguiu dormir.

Virava de um lado para o outro na cama ampla, cercado por lençóis caros que, naquela madrugada, pareciam apenas mais um lembrete vazio de tudo o que ele sempre acreditara ser suficiente. O relógio digital marcava três e quarenta e sete da manhã quando ele desistiu.

Levantou-se, caminhou até a janela do apartamento e encarou a cidade iluminada lá embaixo. Prédios, carros, pessoas vivendo suas vidas sem imaginar o turbilhão que se formava dentro dele.

Grávida.

A palavra ecoava em sua mente como uma sentença.

Daniel sempre fora o tipo de homem que antecipava riscos, que calculava cenários, que não deixava brechas. Sua vida fora construída com disciplina, decisões frias e distanciamento emocional. Não por arrogância, mas por sobrevivência. Crescera vendo sentimentos destruírem pessoas. Jurara que isso nunca aconteceria com ele.

E agora havia uma mulher que ele mal conhecia carregando um filho que, muito provavelmente, era seu.

Ele passou a mão pelo rosto e respirou fundo.

— Você deixou isso acontecer — murmurou para si mesmo.

Na manhã seguinte, chegou ao escritório mais cedo do que o habitual. Não queria pensar. Precisava agir.

— Traga minha mãe aqui hoje — disse à assistente, assim que entrou. — E cancele todas as reuniões.

— Hoje? — ela perguntou, surpresa.

— Hoje — confirmou ele, seco.

Helena chegou pouco depois do meio-dia.

Elegante como sempre, vestia um conjunto claro impecável e carregava no olhar a mesma autoridade que sempre dominara qualquer ambiente. Ao entrar na sala, observou o filho por alguns segundos antes de falar.

— Você parece cansado — comentou.

— Não dormi — respondeu Daniel.

— Imagino — disse ela, sentando-se. — Já soube da situação.

Ele fechou o maxilar.

— Eu imaginei.

— Uma jovem grávida aparece do nada dizendo que espera um filho seu — continuou Helena, cruzando as pernas com calma. — Claro que isso chegaria até mim.

— Ela não apareceu do nada — rebateu Daniel. — Foi um erro meu.

Helena o encarou com surpresa.

— Um erro que pode custar muito caro — disse ela. — Sua imagem, seus negócios, seu nome.

— Estamos falando de uma criança — respondeu Daniel.

— Estamos falando de consequências — corrigiu Helena. — E elas precisam ser controladas.

O silêncio se estendeu entre os dois.

— O que você pretende fazer? — perguntou ela, por fim.

Daniel respirou fundo.

— Eu ainda não sei.

Helena suspirou, como se aquela resposta fosse a pior possível.

— Então eu vou resolver — disse.

— Não — respondeu ele de imediato. — Não sem falar comigo antes.

Ela sorriu de lado.

— Já falei. Agora vou agir.

Do outro lado da cidade, Lívia acordou com o estômago embrulhado.

Correu até o banheiro, ajoelhando-se diante do vaso. O enjoo veio forte, acompanhado de uma tontura que a fez apoiar a mão na parede fria para não cair. Quando tudo passou, ficou ali por alguns minutos, respirando com dificuldade.

— Calma… — sussurrou. — É só uma fase.

Mas não parecia só isso.

Levantou-se devagar, encarando o reflexo no espelho. Estava mais pálida, os olhos fundos, o rosto marcado pelo cansaço. A gravidez ainda era recente, mas já transformava tudo.

Preparou um café fraco e se sentou à pequena mesa da cozinha. O celular estava ali, silencioso. Nenhuma mensagem. Nenhuma ligação.

Daniel continuava ausente.

— Melhor assim — murmurou, tentando convencer a si mesma.

Pouco antes do meio-dia, o telefone tocou.

Número desconhecido.

Lívia hesitou, mas atendeu.

— Alô?

— Lívia? — disse uma voz feminina, firme e controlada. — Aqui é Helena, mãe de Daniel.

O coração de Lívia disparou.

— Sim… — respondeu, com cautela.

— Gostaria de conversar com você pessoalmente — continuou a mulher. — Hoje.

— Sobre o quê? — perguntou Lívia, já sentindo um aperto no peito.

— Sobre a situação em que você se encontra — respondeu Helena. — Vou lhe enviar o endereço.

A ligação foi encerrada antes que Lívia pudesse dizer qualquer coisa.

Ela ficou alguns segundos parada, olhando para o celular.

Aquilo não era um pedido.

Horas depois, Lívia chegou à cafeteria indicada. O lugar era sofisticado, com mesas de vidro, pessoas bem vestidas e um ambiente que deixava claro que ela não pertencia àquele mundo.

Helena já estava sentada, tomando café.

— Sente-se — disse, sem sorrir.

Lívia obedeceu.

— Vou ser direta — começou Helena. — Essa gravidez é inconveniente.

A palavra atingiu Lívia como um tapa.

— Meu filho não é inconveniente — respondeu, sentindo o rosto queimar.

— Para você, talvez não — rebateu Helena. — Mas para nós, é um risco.

— Risco para quê? — questionou Lívia. — Para a reputação de vocês?

Helena manteve a postura firme.

— Daniel construiu um império — disse. — E impérios não sobrevivem a escândalos.

— Eu não sou um escândalo — respondeu Lívia, com a voz firme apesar do tremor nas mãos.

— Não, mas pode se tornar — disse Helena. — E é isso que queremos evitar.

Lívia respirou fundo.

— O que a senhora quer de mim?

Helena pousou a xícara com calma.

— Que essa história seja resolvida da forma mais discreta possível.

— Discreta como? — perguntou Lívia, já sabendo a resposta.

— Nós podemos garantir sua estabilidade financeira — continuou Helena. — Moradia, despesas, conforto. Você não precisará se preocupar com nada.

— E em troca? — questionou Lívia.

— Distância — respondeu Helena. — Você cria a criança longe do nosso círculo. Sem exposição. Sem interferências.

O ar pareceu faltar.

— A senhora está me pedindo para desaparecer — disse Lívia, incrédula.

— Estou oferecendo uma solução — corrigiu Helena.

Lívia sentiu algo se partir dentro dela.

— Meu filho não é um erro a ser escondido — disse, levantando-se. — E eu não sou um problema a ser resolvido com dinheiro.

Helena a encarou friamente.

— Pense bem — advertiu. — O mundo pode ser cruel com quem enfrenta pessoas poderosas.

— Eu já estou enfrentando — respondeu Lívia.

Saiu da cafeteria com as pernas tremendo, mas a cabeça erguida.

Pressões.

Todas vindo de um lado só.

No fim da tarde, Daniel recebeu a confirmação.

— Ela recusou — informou a assistente.

Daniel fechou os olhos.

— Claro que recusou.

Sentiu, pela primeira vez, algo que não combinava com ele: admiração.

Mas também percebeu que a situação estava longe de terminar.

Pelo contrário.

Ela estava apenas começando.

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