A Estrangeira do Meu Coração
A Estrangeira do Meu Coração
Por: G. Rodrigues
O COMEÇO DO CAMINHO

Perder o emprego não estava nos planos de Josefina Abrantes, mas ali estava ela, sentada na cama estreita do quarto, encarando o e-mail de desligamento: “Agradecemos sua participação, mas…” como se pudesse reverter algo apenas com a força da mente. O silêncio no cômodo parecia maior que sua própria indecisão sobre começar — ou não — a procurar um novo trabalho.

Ela ajeitou o cabelo castanho ondulado diante do espelho rachado do banheiro. A luz fraca acentuava as olheiras suaves, resultado de noites mal dormidas desde que deixara a creche onde trabalhava. Seu rosto delicado, de traços marcantes e olhos grandes, cor de mel, refletia cansaço… e uma teimosa vontade de continuar.

Josefina respirou fundo, endireitando os ombros — o gesto automático de alguém que tenta parecer mais forte do que realmente se sente.

De volta ao quarto, abriu o notebook. Enquanto rolava vídeos para distrair a mente, um título chamou sua atenção: “Como funciona o programa Au Pair.” Ela clicou. À medida que via jovens vivendo experiências ao redor do mundo, uma centelha acendeu dentro dela.

— Au pair…

Já tinha ouvido falar, mas nunca prestado atenção. Um intercâmbio cultural, morar com uma família, cuidar de crianças… e ainda aprender um novo idioma.

Quanto mais assistia, mais seu coração acelerava.

“Pode ser em qualquer lugar do mundo”, dizia a garota do vídeo.

— Qualquer lugar… — murmurou, abrindo um sorriso.

Sem pensar muito, digitou: “Au Pair na Coreia do Sul.”

Seu coração bateu mais rápido.

Desde a adolescência, era apaixonada por doramas, música K-pop, pela cultura — e, especialmente, pelo ator Ye-jun, dono de um sorriso que ela já tinha pausado e ampliado mil vezes no celular. Um sonho distante, quase infantil… mas que sempre a fazia sorrir. Nunca contou isso a ninguém, mas o desejo de conhecer aquele país era real demais — e agora, ainda mais forte.

A ideia soou absurda no início. Depois, possível. Por fim, inevitável.

No impulso, acessou o site de uma agência renomada e preencheu um formulário enorme, que parecia mais uma confissão de vida. Relatou a experiência com crianças, listou os idiomas que sabia — inglês e espanhol fluentes — e descreveu sua vontade enorme de viver aquela oportunidade.

A resposta veio no dia seguinte:

“Parabéns, seu perfil foi selecionado. Entrevista marcada para amanhã.”

Josefina mal conseguiu dormir de nervosa.

Ainda assim, acordou cedo, arrumou o cabelo, colocou sua melhor blusa e sentou diante da câmera. A agente, Nicole, surgiu elegante, com um coque impecável, sorriso rápido e olhos atentos.

— Seu currículo nos chamou muita atenção, Josefina. Você tem 27 anos, ótimas recomendações e um perfil excelente para trabalhar com crianças. Sua fluência em idiomas impressiona. Mas, para a Coreia do Sul… precisaria ao menos do básico de coreano.

Josefina sorriu, tímida, mas decidida.

— Eu posso aprender. Já sei algumas coisas básicas tanto em coreano quanto em mandarim. Tenho facilidade com idiomas, prometo que vou me dedicar.

Nicole analisou algo fora da tela antes de continuar.

Havia um caso especial — uma vaga sensível, com uma criança que precisava de alguém experiente e paciente. O nome da família não seria revelado até a chegada em Seul. Em contrapartida, a remuneração seria excelente. O problema era aceitar viajar sob confidencialidade, sem saber quem a esperava do outro lado do mundo.

O estômago de Josefina revirou. E se fosse um golpe? Mas ela já havia pesquisado minuciosamente a agência, visto depoimentos, vídeos, avaliações. Tudo era legítimo. E, apesar do medo, algo dentro dela dizia que aquela era a porta que esperara por tanto tempo.

Antes de dormir, fez uma oração. E, rindo de si mesma, abriu uma postagem de Ye-jun.

— Quem sabe eu veja você um dia… — sussurrou, brincando com a própria fantasia.

Ela não tinha um plano perfeito. Mas tinha fé que poderia dar certo. E três semanas para resolver tudo — e aprender coreano o suficiente para lidar com uma criança, sem tropeçar tanto nas palavras.

Josefina apagou a luz.

Sem saber, parte do seu futuro — e do seu coração — já estava a esperando do outro lado do mundo. Querendo ou não.

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