O Memorial de Kyung-mi

A mansão Hyun estava envolta por um silêncio espesso, quase reverente. As flores brancas, alinhadas em perfeita simetria no salão principal, exalavam um perfume suave, enquanto o retrato de Kyung-mi — elegante, sorrindo com delicadeza — parecia observar a todos de dentro da moldura dourada.

Clara, que normalmente corria pelos corredores como um pequeno trovão, nem ousava fazer barulho. Vestia um hanbok branco simples; as mangas longas cobriam seus pulsos miúdos. Os olhos, geralmente travessos, estavam sérios — teimosamente secos, como se chorar fosse admitir derrota.

John observava a filha de longe, ajeitando a gravata preta com mãos que tremiam mais do que gostaria. Dois anos haviam se passado desde a morte de Kyung-mi, mas a presença dela parecia impregnada nas paredes, nos móveis, na memória viva de cada canto da casa.

Minjae circulava pelos funcionários como um general silencioso, fiscalizando tudo com o perfeccionismo habitual.

— Senhor Hyun — o assistente chamou com uma reverência contida. — A família chegou.

John respirou fundo.

A porta principal se abriu com a lentidão cerimoniosa que dias assim exigiam.

O primeiro a entrar foi o avô de Clara, Han Dae-shik, o patriarca. Um homem de expressão séria, mas que, ao ver a neta, derreteu como cera sob o sol.

— Minha pequena… — murmurou, ajoelhando-se para abraçá-la.

Clara, que raramente aceitava carinho, deixou-se envolver. Enterrou o rosto no peito do avô como se buscasse algo que tinha perdido.

Atrás dele vieram os tios, Han Seojin e Han Dahye — filhos do segundo casamento de Dae-shik. Cada um colocou flores diante do memorial montado com fotos, velas e uma tigela de chá quente para o espírito de Kyung-mi.

Dahye se abaixou e ajeitou a fita do hanbok da sobrinha.

— Você está linda hoje, Clara-yah.

A menina apenas assentiu, séria.

Dae-shik caminhou lentamente até o genro, que estava junto à varanda interna, fixo no horizonte cinzento de Seul. John parecia mais magro, o cabelo comprido e a barba por fazer lhe davam um ar cansado — muito diferente do herdeiro impecável da família Hyun que todos conheciam.

— Lamentável, não é? — Murmurou o velho, observando o retrato da filha. — Primeiro perdi meu primogênito… depois minha amada esposa… e agora minha filha. A vida realmente não tem misericórdia.

John permaneceu em silêncio.

— Você está diferente, John. Está comendo direito? E esse cabelo… essa barba… — disse, com uma crítica carregada de preocupação. — O que aconteceu com o homem que liderava a empresa da sua família?

O sogro suspirou fundo.

— Não quero ver você se deteriorar assim. A Clara precisa de você. — Seus olhos ficaram marejados. — Ela é tudo que nos restou da Kyung-mi. Meus filhos do segundo casamento eu amo profundamente, mas… a Clara… — sua voz fraquejou — ela é o último traço do meu primeiro amor.

John engoliu seco, sem coragem de encarar o sogro

— Não é nada fácil. — Murmurou.

O silêncio se instalou até que Dae-shik recomeçou:

— Vai visitar seus pais nos Estados Unidos?

John hesitou, balançando a cabeça.

O sogro arqueou a sobrancelha, desconfiado.

— E seu avô? Já foi visitá-lo no hospital?

John desviou o olhar, desconfortável.

— Ainda não, senhor.

Dae-shik soltou um suspiro frustrado e pousou a mão no ombro dele.

— Se cuide, filho. A Clara precisa de você inteiro.

Aquelas palavras cortaram mais fundo do que John podia imaginar.

Minjae aproximou-se com prontidão.

— Senhor… a cerimônia começa em dez minutos. A imprensa está sendo mantida do lado de fora.

John apenas assentiu.

A cerimônia prosseguiu. O salão se encheu de orações silenciosas e perfumes suaves de incenso. Clara se manteve contida, agarrando-se aos tios e ao avô, embora evitasse olhar diretamente para a foto da mãe.

Quando tudo acabou, a família Han se retirou da mansão.

Assim que a porta se fechou, John chamou o assistente — mas Clara se prendeu à perna dele, como se o mundo fosse acabar se ela soltasse. Depois de alguns minutos, ergueu o queixo com teimosia típica.

— Appa… posso comer bolo depois? A mamãe ia deixar.

John sorriu, triste.

— Pode, meu amor.

Minjae a levou até a cozinha. Assim que voltou, John o chamou ao escritório.

— Minjae, viajo esta noite para os EUA. Quero confirmar se está tudo certo com a nova babá. Você ficará totalmente responsável por Clara nesses dias.

O assistente empalideceu.

— S-senhor… quantos dias… exatamente?

John ajeitou o relógio.

— Não tenho data certa. Talvez uns quinze dias.

O rosto de Minjae ficou ainda mais pálido.

— E… e se ela não obedecer? — Gaguejou. — Se a babá não durar um dia?

John sorriu com certa tranquilidade.

Foi até a mesa, imprimiu alguns papéis e estendeu ao assistente.

— Ela precisa permanecer pelo menos duas semanas. É o mínimo para o teste.

— O que é isso? — Perguntou Minjae, quase engasgando.

— Regras básicas do período de adaptação. Se achar que não dará certo, procure outra imediatamente. — Deu um tapinha leve no estômago dele. — Caso ela falhe... não recebe nada! Sem moleza para essa garota. Entendeu?

Minjae ficou ali parado, segurando os documentos com mãos trêmulas. Não fazia ideia de como aquilo poderia dar certo. Mas John estava perigosamente calmo — como sempre, ele tinha que ficar quando tudo estava um caos.

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