Mundo ficciónIniciar sesiónClara observou Josefina por alguns segundos, franzindo o nariz com desconfiança e irritação.
Então, de repente, soltou a mão da babá com força, como se finalmente se libertasse de uma tensão invisível. — Como você não foi mandada embora, hm? — Resmungou, curta e direta, tentando entender o motivo do seu projeto "expulsão babá" não ter dado certo. Josefina arqueou uma sobrancelha, surpresa. — Pior que tenho que concordar. O silêncio caiu por alguns segundos. Cada uma analisando a outra, como se testasse limites. — Ele gosta de você? — Clara soltou a pergunta sem rodeios, olhos fixos nos de Josefina. A babá tossiu, quase engolindo a própria língua, sem jeito. — Claro que não! Ele só gosta de mandar! — Respondeu, com um riso nervoso. — Além disso, deve ser pelo contrato. Se me demitem, recebo meus direitos com bônus. Caso seja eu… não saio com nada. Josefina levou a mão à boca ao perceber que tinha soltado uma informação confidente para sua pequena adversária. Clara arqueou as sobrancelhas, dando de ombros. — Hm. De qualquer jeito você está com os dias contados. Sem esperar resposta, virou-se e saiu em direção ao closet. — Vou tomar banho. E você cuida de limpar isso logo. Josefina respirou fundo, achando aquilo inacreditável. Clara queria guerra, mas não sabia com quem estava lidando e quase como um sussurro de resistência Josefina soltou uma frase típica: — Eu sou brasileira… e não desisto nunca! Deu um sorriso de canto pronta para o novo desafio. Pegou os materiais de limpeza, cada passo carregado de resignação e determinação. Alguns minutos depois, Clara retornou, de roupão, cabelos molhados pingando levemente pelo ombro. Ficou parada, observando Josefina esfregar o carpete, silenciosa. Um estranho respeito pairava no ar. Então, com um movimento rápido, aproximou-se da cômoda, escondendo o tablet atrás do corpo. — Você quer que ele tome isso também? — Resmungou Josefina, sem olhar para Clara. Clara ignorou a pergunta, fazendo a sua própria: — Quero te perguntar algumas coisas. A babá suspirou, exausta, sentando-se no chão. — O quê? — Seu nome é mesmo… Jo— Jo— Jo-se… fina? — Clara arrastou as sílabas devagar, como quem tenta pronunciar uma palavra proibida em latim. — Tipo isso. — Josefina riu, sem conseguir disfarçar o motivo. — Seu nome parece complicado… bem estranho. Nunca ouvi falar. É comum no seu país? — Clara perguntou, pulando na cama. — É mais comum entre as mais velhas. Josefina tentava se concentrar em tirar a mancha da porta, mas a menina continuou: — E por que te deram esse nome, então? A mulher parou por um segundo direcionando seu olhar para garotinha. — Minha mãe quis homenagear a minha avó, que ajudou no parto. Clara permaneceu em silêncio por um instante, absorvendo a informação. Depois rolou sobre os lençóis recém-trocados, ficando de ponta cabeça na cama, os cabelos caindo como cascata sobre o travesseiro. — Jo Nanny. — A menina chamou com uma suavidade encantadora. — Mas esse é o nome completo da sua família? — Não, meu nome completo é Josefina Silva Abrantes. Silva da minha mãe e Abrantes do meu pai. Curiosa, Clara pegou o tablet e começou a pesquisar. — Silva é o mais comum do seu país? — Sim, no Brasil quase toda família tem. Clara riu baixinho, com aquele sarcasmo afiado que só ela tinha. Rolou novamente na cama, sussurrando: — Então você é pobre mesmo… Um nome estranho e comum. Josefina sorriu com a ousadia da menina, mas algo no gesto parecia mais desafiador que ofensivo. — E qual é o seu nome completo? — Ela perguntou, finalmente se permitindo ser curiosa. Clara fez um bico, olhando para Josefina com expressão de pequena chefe ofendida. — Como assim não sabe? Se quiser saber… pesquisa, ué! — E saiu, andando com uma naturalidade ríspida e fofinha, desaparecendo pelo closet. Josefina observou a menina sumir, e, apesar da ousadia perturbadora, sentiu algo diferente. Um aquecimento sutil no coração. A guerra silenciosa parecia ter apaziguado, por enquanto. Aquele sorriso de Clara não era apenas provocação — era um fragmento de sinceridade. Valia a pena, pensou Josefina, respirando fundo. Eu vou continuar aqui e ela vai amar a minha presença. E no fundo, sabia: a muralha que Clara tinha estabelecido estava começando a se romper.






