A exaustão de Park Mijae

O bilionário John Hyung passava mais uma noite trancado no escritório envidraçado da HyungTech, enquanto Seul brilhava abaixo dele como um mar de luzes que já não o impressionava. O relógio marcava quase meia-noite quando a porta se abriu sem sequer três batidas.

Park Minjae entrou devagar.

Alto, postura militar, terno impecável, cabelo preto alinhado de forma quase antinatural e a expressão de um homem que já havia desistido de pedir aumento. O silêncio era tudo o que John desejava… e exatamente o que Minjae nunca trazia.

— Senhor Hyung… Clara… bem… — Ele inspirou como quem se prepara para um mergulho profundo. — Ela trancou a governanta no closet. Outra vez. Ela não queria dormir e acabou fazendo isso.

John não levantou os olhos dos relatórios.

— Quanto tempo desta vez?

— Vinte minutos. A senhora Han está exigindo férias e compensação.

John apenas assentiu, indiferente.

Minjae piscou, exausto. Aquilo era sua vida agora: formado nas melhores universidades, fluente em quatro idiomas, assistente executivo de um bilionário… e babá substituto de uma menina de seis anos determinada a destruir emocionalmente qualquer adulto despreparado.

— Senhor Hyung, precisamos contratar alguém — Minjae insistiu. — As candidatas estão fugindo antes mesmo da entrevista.

John pousou a caneta devagar. Minjae endireitou a postura como se fosse enfrentar um juiz.

— Quero alguém de fora.

— De fora… da Coreia? — Minjae engoliu seco.

— Isso. Se possível fora de tudo. — John fechou o relatório. — Alguém que não saiba nada sobre mim, sobre a empresa ou sobre minha família. Mas que fale inglês perfeitamente. Clara precisa disso.

Se a babá durar dois meses… eu a levo para os Estados Unidos para morar com a gente e oficializar o contrato.

Minjae o encarou como quem observa um homem anunciar que vai colocar fogo no próprio escritório.

— Dois meses é… otimista, senhor.

Foi nesse momento que John ergueu os olhos de coloração intensa e cansados. O tipo de olhar que encerrava qualquer argumento.

— É o suficiente para saber se alguém consegue lidar com Clara.

"Se alguém for capaz disso", Minjae pensou, mas não verbalizou para preservar o próprio emprego.

No dia seguinte, a ex-babá deu uma entrevista para a mídia. Declarou que Clara era: “indisciplinada”, “sem limites”, “provavelmente com problemas mentais”. Chamou a menina de “peste”.

Clara assistiu atentamente e sorriu.

Um sorriso torto, travesso, orgulhoso — como quem conquista mais uma vitória numa guerra que ninguém percebe que existe.

A garotinha tinha olhos expressivos demais, corte de cabelo longo e reto, franja que ela mesma tentava ajustar escondida, e um modo imperativo de bater o pé que fazia Minjae suar frio. Brilhante. Sagaz. Mas ressentida. Uma dor que ela tentava disfarçar — transformando em caos.

A morte da mãe, Kyung-mi, completaria dois anos naquele mês. E conforme a data se aproximava, Clara parecia explodir com atitudes cada vez piores.

John fazia o que acreditava ser o certo: dava tudo o que a pequena queria. Ele tentava ser um pai presente na vida dela, mas nem sempre conseguia. Compensava a ausência com mimos, sem perceber que a menina não precisava de coisas — precisava de alguém. E cabia a Minjae lidar com o resto.

Ele, com seus óculos de armação fina, ternos caros e humor inexistente, havia sido mordido, chutado, ignorado, ameaçado com glitter e obrigado a assistir desenhos infantis até reconsiderar todas as decisões da própria vida.

Às vezes pensava que seu salário não cobria nem metade daquela tortura psicológica.

— Senhor Hyung, com todo respeito… — ele pigarreou — eu fui contratado para gerenciar sua agenda, não para negociar com uma criança de seis anos que tem o olhar de quem pode esmagar um vivo. Sua adorável filha é… uma mini chantagista.

John arqueou uma sobrancelha.

— Por isso precisamos de alguém que entenda de crianças e saiba lidar com Clara. Urgentemente.

Então, os critérios foram enviados à agência. Com requisitos quase impossíveis de serem aceitos por uma au pair.

Mas houve uma candidata que se dispôs.

Minjae, recebeu uma notificação da agência. Ele mal pôde acreditar que alguém teria essa coragem. Mas estava apreensivo que algo pudesse dar errado, por isso preferiu não contar ao chefe que já tinha encontrado alguém ideal para o cargo. Para ele a família era imprevisível e Clara poderia encontrar um jeito de estragar tudo.

Provavelmente porque John poderia considerar em desistir da ideia também.  Ou talvez… porque o instinto dele lhe dizia que aquela babá estrangeira poderia ser a solução que eles precisavam para Clara. Então, o leal Minjae preferiu não arriscar.

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