Mundo de ficçãoIniciar sessãoO responsável assistente, Minjae, chegou da empresa com a postura de um general que havia sido convocado às pressas para conter um motim. A porta do quarto de Clara estava aberta, e ele parou no batente como quem acabara de testemunhar um cenário de guerra.
Josefina e Clara completamente encharcadas, ofegantes e cobertas de tinta. O olhar dele percorreu a cena lentamente, como se fizesse um cálculo do prejuízo por centímetro quadrado: tinta espalhada pelas paredes, balões estourados, papéis rasgados, tapete e cortinas molhadas… e ambas ofegantes, encharcadas e cobertas de tinta com aquela brincadeira.Em doze anos trabalhando para o senhor John, Minjae, nunca tinha presenciado algo parecido.
— Não basta ela ter perdido aula! — Ele declarou, com a seriedade de quem anuncia uma sentença.
Josefina engoliu seco. Clara levantou o braço, pronta para falar e jogar toda culpa na babá.Mas antes que qualquer uma pudesse dizer uma palavra, ele ergueu a mão.
— Silêncio. Vocês vão me ouvir caladas!
A palavra cortou o ar como uma espada. Clara engoliu o protesto. Josefina murchou os ombros.
Ele as encarava como se a situação fosse um desastre sem precedentes, e ambas estavam prontas para receber o veredicto. — Isso é inadmissível. — Continuou, irritantemente sereno, o tipo de calma que obrigava qualquer um a se arrepender preventivamente. Ele encarou Josefina, e seu olhar apertado era quase um: “no meu turno não”. — Senhorita Abrantes… você é adulta. A-DUL-TA. — Ele falou separando as sílabas, devagar para ver se ela compreendia. — Você deveria dar o exemplo. Cometeu não uma, nem duas... mas três infrações graves nesta casa! — Disse visivelmente aborrecido, erguendo três dedos, como se fosse uma placa de multa. Passou a andar de um lado para o outro, refletindo. — Primeiro: Clara não foi à escola por incompetência da babá. Ele continuou. — Segundo: destruição do quarto. — Ele apontou ao redor. — Parece que aqui dentro ocorreu um golpe de estado infantil com munição colorida. Sem contar que a babá não se conteve, nem conseguiu manter a ordem e disciplina do ambiente.Josefina respirou fundo, tentando não rir.
— Terceiro: vocês quase provocaram um curto no sistema de climatização com essa água toda. Se eu disser isso ao senhor Hyun, ele volta de viagem na mesma hora. Ele pressionou a testa, como se calculasse a dor de cabeça futura. — Como castigo, vocês vão limpar tudo. E — olhou para Josefina — você vai repor o conteúdo que a menina perdeu da aula. Sem reclamar. Quando eu voltar, quero este quarto impecável. Entendido? Foi exatamente nesse momento que o celular de Josefina vibrou. Ela mal ergueu a mão, e Minjae arrancou o aparelho como um juiz apreendendo prova ilegal. — Vou ficar com isso, até segunda ordem. — É minha família, preciso dizer que estou bem! — Ela protestou.— Sem distrações. — Ele sussurrou, virando-se.
O celular tocou outra vez. Ele atendeu com um sorriso falso de atendimento ao cliente.— Olá, ela trabalha. Está bem. — Respondeu, com o pouco que sabia de português.
Era uma videochamada, então virou a câmera para Josefina — coberta de tinta, cabelos grudados, olhos arregalados, forçando um sorriso — como se exibisse um espécime raro. Ela tentou falar, mas Minjae desligou antes.
— Pronto. Resolvido — disse, guardando o celular no bolso como item confiscado.Josefina sussurrou, indignada:
— Isso é o cúmulo… por que não me demitiu logo?
Ele lançou um meio sorriso pretensioso e saiu do quarto.
Clara a observava de sobrancelhas erguidas, após piscou para a babá, boquiaberta, como quem ainda tentava entender:'Como assim? Por que ela não foi demitida?'
A pergunta pairou no ar como um perfume de mistério, ao tentar recapturar o que aconteceu naquela manhã.
[Continua...]







