Mundo ficciónIniciar sesiónO Aeroporto Internacional de Guarulhos estava cheio demais para o tamanho do coração de Josefina. Entre abraços, pedidos de foto e promessas de vídeo-chamada, ela tentava parecer forte — mas a verdade é que as mãos tremiam.
Lourdes a apertou como se quisesse impedir o voo de decolar. — Última chance de desistir — disse a mãe, já com os olhos marejados. — Mãe… vai dar tudo certo. — Josefina sorriu, tentando convencê-la e a si mesma. O pai a beijou na testa e lhe entregou um envelope com dólares “para emergência”, como ele chamava. Júlia filmava tudo como se fosse um reality show. Após muitos abraços e respirações profundas, Josefina finalmente passou pelo portão de embarque. Seriam mais de 27 horas de viagem, contando uma conexão em Dubai. Tempo suficiente para pensar em tudo o que gostaria de fazer em Seul… ou tentar não pensar em nada, já que o nervosismo apertava cada vez que imaginava seu futuro ali.E se não gostassem dela? Se fosse expulsa logo de cara?
Josefina suspirou fundo, tentando afastar os pensamentos intrusivos.
Seul, 7h da manhã
Enquanto Josefina sobrevoava o Golfo Pérsico, Minjae vivia seu próprio pesadelo matinal. — Clara! Anda logo, você vai se atrasar para a escola! — Ele gritava, olhando o relógio pela quinta vez em dois minutos. A menina, sentada dentro da mini “casinha de bonecas”, apenas mostrava um pezinho balançando e uma risada discreta. — Eu não vou! — Ela respondeu, escondida, a voz ecoando dentro da casinha. — Vai sim! — Minjae respirou fundo, as mãos nos quadris. — Eu tenho mil coisas para resolver ainda hoje, sua nova babá chega daqui a pouco e… Ai, meu Deus… CLA-RA! A menina explodiu em gargalhadas, achando graça da impaciência dele. Com as pernas balançando como se o tempo não importasse, Clara fazia pirraça com precisão cirúrgica — o tipo que tirava Minjae do sério. O assistente, sempre metódico, passou a mão no cabelo e perdeu a paciência de vez. Abaixou-se, puxou a garota pelas pernas para fora da casinha — e ela saiu gritando, dando t***s e pontapés como se fosse um sequestro. — Eu vou ter um ataque antes dos quarenta… — ele resmungou. Chamou uma das funcionárias mais jovens: — Soo-jin! Leva ela para vestir o uniforme, escovar os dentes, arrumar o cabelo... TUDO. Eu preciso sair. AGORA. A moça arregalou os olhos, chocada, como se tivesse acabado de receber uma bomba prestes a explodir. — A-a-agora? S-sozinha…? — Ela gaguejou. — PELO AMOR, ANDA! — Minjae pressionou a ponte do nariz. — Eu preciso ir para o aeroporto buscar a nova babá. E ela precisa chegar inteira na mansão! A responsabilidade é toda MINHA. Então, NÃO estraguem isso! Clara sorriu, sugestiva e fofa ao mesmo tempo, como se aquilo fizesse exatamente parte do seu plano de aterrorização para estragar a chegada da babá. Minjae quase chorou. — Eu volto antes em duas horas! — Ele avisou, já correndo. — Ou talvez três! Sei lá! Saiu apressado, a pasta de documentos debaixo do braço e a certeza de que aquele dia tinha tudo para desmoronar. Para ele, Clara poderia colocar tudo a perder como fez com outras candidatas. Algumas horas depois, no Aeroporto de Incheon, Josefina finalmente pousou.No caminho para a mansão, ele explicou como as coisas funcionavam por lá, os humores da criança. Mas Josefina estava encantada demais com a paisagem para absorver metade do discurso.
Ao chegar, uma porta imensa se abriu, ela prendeu a respiração.
Ela mal entendia o jeito deles falarem. Seu nome parecia travar na boca deles.
Curiosa, pegou um porta-retrato para ver a foto da família.
— NÃO TOQUE EM NADA! — Minjae gritou, quase infartando.
Josefina levou um susto tão grande que quase derrubou o quadro.
— Me desculpa! Eu só queria saber com quem eu vou trabalhar… saber quem é a criança.
Minjae passou a mão no rosto, exausto, e finalmente se sentou.
— Vou esclarecer antes que você cometa outro vexame. A criança se chama Clara. Tem seis anos. Perdeu a mãe em um acidente. Mas não toque nesse assunto. Nunca. Entendido?
Josefina assentiu, nervosa. Depois foi levada para conhecer as áreas que poderia transitar e o quarto que permaneceria.
Quando Clara chegou, viu Josefina no jardim. Parou e ficou a observando atentamente como se estivesse diante de uma ameaça internacional.
E então:
CHUTOU a canela dela com força. Sem dizer uma palavra, subiu correndo as escadas, bateu a porta e trancou.
Minjae ficou roxo de vergonha.
— Eu falo com Clara depois. — Retrucou derrotado. — Não quero que isso se repita, mas... ande, vá lá, quero ver seu desempenho.
Josefina olhou para a porta fechada, ainda sentindo a dor na perna.
Riu, abafado, como quem não acreditava.
— Primeiro dia e já levei um chute… ótimo começo. — Murmurou.
A aventura mal tinha começado. E Clara já deixava claro: não seria uma tarefa nada fácil.







