Depois de um tempo, entramos em casa para nos arrumar.
— Quero ir até a boate do meu pai — digo, pegando minha bolsa. — Preciso falar com ele? — Não, ele está lá. Só me leva ou eu vou sozinha. Vamos, Letícia. — Eu te levo, senhora — responde Henry, já se dirigindo ao carro. Durante o trajeto, Letícia me cutuca. — Tá doida pra ver o João, né? — Sim, já não sabe? Henry me olha pelo retrovisor e eu pisco de brincadeira. Ele volta a encarar a estrada, e Letícia ri. Chegamos à boate Empire Club. O lugar ainda está fechado, mas já fervilha com movimentação. Letícia corre para abraçar o pai. — Papai! — Oi, meu amor. O que faz aqui? — Oi, tio. Oi, papai — digo, me aproximando. — Oi, meu amor. O que vieram fazer aqui? — Ela não me deu escolha, senhor — Henry responde, meio sem graça. Olho para as mesas da boate, cobertas com armas e documentos. Meu pai percebe. — Por que não vão ao bar? Daqui a pouco a boate abre. — Papai... — Érica. — Tá bom. Olho para João, que está encostado no balcão com um sorriso divertido. Faço um gesto com a cabeça para outra área da boate e ele confirma com um aceno discreto. — Pai, vou ficar com a Lê lá no seu escritório, viu? — Vai lá, princesa. Tenho muito trabalho aqui ainda. Dou um beijo nele e puxo Letícia pelo braço. — Sério que vai me usar como bucha? — Só dessa vez. — Érica... Dou um sorriso travesso e entramos no escritório. A mesa está coberta com caixas abertas, cheias de joias e papéis. — Caralho, Érica, isso são joias! — Sério? Me aproximo, boquiaberta. — O que será que eles estão aprontando? — Não sei. Alguém b**e na porta. Corro para abrir e encontro os lábios de João nos meus. — Bonequinha. — Oi, lindo. — Vou deixar vocês sozinhos — diz Letícia, saindo. — Obrigado, pequena Lê — responde João, antes de me puxar para mais um beijo. — Estava com saudade de você. — E eu de você. — Garota... As mãos dele descem para minha bunda, apertando com força. Gemo baixinho. — Preciso voltar, senão seu pai vai desconfiar. — Por que não deixa eu abrir logo o jogo pra ele? — Não. — Você não quer ficar comigo. — Que isso, princesa? É claro que eu quero você. — Não parece. — Érica... — Você é tão babaca como eles. — Linda... Ele tenta se aproximar de novo, mas alguém b**e na porta. — Patrão, você precisa ver isso — diz Luan. — Merda — resmunga João, abrindo a porta. — O que aconteceu? — A carga foi destruída. — Tá brincando, né? — Não, senhor. — Eu vou matar esses filhos da puta. Ele me olha. — Te ligo. Por favor, me atende. Sai sem olhar pra trás. João entra no carro e dirige até o galpão, que está em chamas. — Vocês estão de brincadeira comigo? Como isso aconteceu em plena luz do dia? — O rapaz que ficou aqui disse que ouviu um barulho estranho e foi averiguar. — Onde está ele, caralho? — Ele deveria estar aqui. — Procurem ele. Se não, a cabeça de um de vocês vai rolar. Os homens ficam nervosos. — João, o que foi? — Nada. — Sério? Vamos lá. Não é só por causa das mercadorias que você está assim. — É a Érica. Ela quer que eu conte pro pai dela, mas não é tão fácil assim. — Não acho que ele vai dizer não só porque você é dez anos mais velho que ela. — Mas a minha filha pode ser uma coisa... — Sua filha não vai empatar em nada. Agora sua ex, sim. — Nem me fale daquela maluca. — Resolva seu pepino com sua novinha, e eu encontro o traidor. — Valeu. Mas preciso ir pra casa. Só isso. João entra no carro e me manda uma mensagem: João: Me encontre hoje. Quero conversar com você. Ele desliga a tela e dirige até em casa. Eu me sento na cadeira do meu pai, ainda no escritório. Letícia me observa. — Por que brigou com ele? — Odeio ser feita de idiota. E ele está me fazendo. — Meu Deus, Érica. Seu pai é tão protetor que acho que mataria ele se soubesse que vocês estão tendo um caso há dois anos. — Sim, mas eu já era maior de idade. — Nós sabemos. Mas seu pai não vai aceitar. Meu celular vibra. Olho a notificação. — Eu não vou. João: Sério? Vamos, linda. — Tudo bem. Vou dar um jeito, mas não prometo nada. João: Obrigado, meu amor. Apago a tela. — E aí? — Ele me chamou. Mas eu não vou. — Érica... — O que foi? Vou continuar vivendo no escuro enquanto ele vive na boate rodeado de mulheres? — Entendi. Mas não pega pesado. Você estava de acordo até hoje em não contar pro seu pai. — Me contar o quê? A voz do meu pai ecoa pela porta. Ele entra, nos pegando completamente de surpresa. — Me conta o quê? — meu pai pergunta, eu tentando manter a voz firme enquanto o coração acelerava.