4- Guerra silenciosa.

Glauco lançou-lhe um olhar frio.

— Não por causa dela. Mas não quero esse tipo de coisa no meu território. Respondeu sem alterar o tom.

— Está bem. Respondeu Danilo, e preferiu não perguntar mais nada. O patrão parecia levemente mais... humano.

No porão, Amália olhava para a porta destrancada. Pensava em fugir, mas algo a paralisava. As palavras dele ecoavam em sua mente.

Ele não parecia alguém que fosse vendê-la. Também dissera que não tocaria nela. Mas se a pegasse tentando escapar... talvez a matasse. Os outros não faziam isso porque queriam revendê-la viva. Para Glauco, parecia tanto fazê-la viver quanto morrer.

Encolheu-se na cama. Estava frio. O estômago doía de fome. Mesmo exausta, custou a dormir.

Pela manhã, Nice viu Glauco voltar da corrida.

— Bom dia, senhor. Seu café está na mesa. E... o que faço com a garota?

— Ela não fugiu? Ele perguntou, curioso.

— Não, senhor.

— Leve um bom café da manhã para ela. E dê-lhe serviço.

— Sim, senhor. Respondeu Nice, virando-se para sair.

Glauco tomou banho. Vestiu uma calça social preta e uma camisa branca de linho. Dobrou elegantemente as mangas e desceu para o café.

No porão, Amália dormia profundamente quando foi acordada por Manoela.

— Vamos, acorde! Isso aqui não é hotel. Tem muito trabalho para ser feito!

Assustada, Amália sentou-se na cama. Estava um pouco perdida, o corpo fraco, a mente lenta.

— Dona Nice está te esperando na cozinha. Disse Manoela, já se afastando, mesmo tendo chegado como chegou, Manoela ainda acreditava que Amália era uma ameaça.

Amália viu Manoela sair. Só então se deu conta: não sabia onde era a cozinha. Na verdade, não conhecia nada ali além daquele pequeno quarto.

Levantou-se rápido, mas teve que se segurar no batente da porta, uma vertigem a fez perder o equilíbrio. Respirou fundo e, tateando a parede, saiu atrás da outra jovem.

Perdeu-a de vista no longo corredor. Numa bifurcação, hesitou. Escolheu o caminho da direita e, ao alcançar a luz, ergueu a mão e cobriu os olhos, a claridade incomodava.

Glauco tomava seu café quando ouviu o som de passos. Levantou os olhos e viu a garota surgindo pela porta, uma mão cobrindo os olhos, a outra apoiada na parede. Seus passos eram desajeitados.

— Está perdida? Ele perguntou.

Amália gritou de susto, tirando a mão do rosto e piscando várias vezes para se acostumar com a claridade.

— Eu...

Ele notou que ela estava pálida, os lábios antes rosados agora estavam brancos. Era teimosa, devia estar há dias sem comer.

— Venha aqui. Ordenou.

— Estou procurando a cozinha. Não quero...

— É uma ordem! Ele disse com sua voz fria.

Amália caminhou até a mesa com esforço, mas manteve distância dele.

— Sente-se aqui. Ele apontou a cadeira ao lado da sua. Estava sentado à cabeceira da longa mesa de jantar.

— Estão me esperando na cozinha, eu só me perdi... tentou explicar, temendo que ele achasse que tentava fugir.

— Nenhuma ordem nesta casa sobrepõe a minha. Entendeu? Se eu mando você se sentar, apenas obedeça.

— Está bem...

— “Está bem”? É assim que responde ao seu senhor? Glauco perguntou levantando uma sobrancelha.

Amália o encarou.

— Senhor? Você se acha meu dono?

— Não sou? Ele a olhou, curioso. Ela mal conseguia se manter de pé, mas sua coragem permanecia intacta.

— Não tenho dono. Disse, com o queixo erguido.

— Claro que não. Vira-latas não costumam ter donos. Sente-se e coma. Não quero criados desnutridos e inúteis na minha propriedade.

Após um gole no café, ele voltou a olhar para ela, ainda de pé.

— Quer que eu puxe a cadeira para você se sentar? Levantou uma sobrancelha.

Amália baixou os olhos, puxou a cadeira com dificuldade, era pesada, e sentou-se em silêncio, sem tocar em nada na mesa. Um nó se formava em sua garganta. Os olhos ardiam. “Não chore, Amália. Você já devia estar acostumada com isso”, dizia a si mesma.

Glauco a observava. Pálida, imóvel ao lado dele. Seu perfil era harmonioso. Queria entender o que se passava naquela mente naquele instante.

Estendeu a mão, pegou um pão recheado, encheu uma taça com suco e os colocou à frente dela.

— Coma. Doente, você não me serve para nada. Disse num tom mais suave.

Com mãos trêmulas, ela pegou a taça e bebeu. Engoliu com dificuldade. Sentiu o líquido frio atingir seu estômago vazio.

Do corredor, Manoela viu tudo. Quase toda a interação. E sorriu ao ouvi-lo chamá-la de vira-latas.

Amália comeu timidamente sob o olhar atento de Glauco. Ele garantiu que ela se alimentasse.

— Satisfeita? Perguntou. Observava que, apesar de “selvagem”, ela se comportava bem à mesa... quando não estava enfrentando-o.

— Sim, obrigada. Respondeu com a voz baixa e delicada.

— Pode ir agora.

Ela se levantou rapidamente, como se a cadeira tivesse espinhos. Saiu descalça, vestindo aquele vestido grande conseguido às pressas. Glauco observou suas costas até ela sumir pelo corredor.

Ao finalmente encontrar a cozinha, teve o braço agarrado por Manoela com violência.

— Quer se fazer de esperta se aproximando do patrão? Ela perguntou.

— Me perdi, você...

— Solte-a! Nice surgiu na hora exata.

— Vá cuidar do seu serviço! Ordenou à mais jovem, que lançou um olhar ressentido para Amália.

— O que você sabe fazer? Nice perguntou.

— Tudo. Sei fazer de tudo. Respondeu Amália, sem levantar os olhos.

— Bom. Vamos deixar as roupas com Manoela. Não ligue para ela, é jovem e não tem muito juízo. Vamos cuidar da limpeza. Disse Nice. — Assim você aproveita e conhece a casa.

Amália apenas assentiu com um sorriso discreto.

Subiram para limpar os quartos. Estavam todos vazios. Depois voltaram a cozinha novamente. Manoela já estava lá.

— Preciso de ajuda com as roupas. Ela disse.

— Amália pode ajudá-la? Perguntou Nice, ocupada com o preparo do almoço. Enquanto limpavam os quartos, havia perguntado o nome da nova criada.

— Sim. Respondeu Manoela, antes de sair em silêncio com Amália.

No quintal, Manoela atirou uma cesta aos pés dela.

— Estenda esses lençóis. Disse, com desdém.

Amália a olhou nos olhos, mas nada disse. Percebeu que sua presença incomodava.

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