3- O fim ou o começo de algo?

Amália se assustou, se encolhendo sobre a cama, ao ver Glauco abrir a porta.

— É assim que me agradece? Trago você para minha casa, ofereço minha comida... e você a recusa? Glauco disse diretamente.

Assustada, Amália baixou os olhos.

— Eu...

— Vou te mostrar que não tem nada na sopa. Disse ele, direto.

Aproximou-se da mesa. Pegou o prato e com um pouco mais de quatro colheradas, comeu toda a sopa, até raspar o prato por completo.

Amália o olhava, atônita. Aquele homem grande, arrogante, de feições fortes... estava ali, de pé, devorando a sopa que ela recusara.

— Apenas me deixe ir. Disse, baixinho. Talvez, se o tocasse com algum senso de piedade, ele a deixasse partir.

— Ir? Tem alguém lá fora te esperando? Um amante? Glauco se inclinou, invadindo seu espaço.

— Não tenho ninguém. Não sei do que está falando. Amália piscava rápido, ansiosa.

Sua voz quase sumia. O calor dele, o cheiro amadeirado de sua pele, a intensidade dos olhos verdes... tudo a desnorteava. Sentia o coração disparar, suas mãos estavam suando.

Glauco segurou seu queixo. Pequeno, frágil. Tão diferente de Sofia.

Os olhos de Amália eram límpidos, assustados, seus lábios pequenos e bem feitos.

Os olhos de Sofia eram sedutores, provocativos. Seus lábios, sempre vermelhos com os batons mais caros, pareciam feitos para a perdição. Tudo nela transbordava luxo... e luxúria.

A garota à sua frente era bem diferente de Sofia. Os cabelos e olhos claros lhe conferiam uma aparência angelical, não fosse pela expressão dura e o olhar carregado de raiva. E ele se divertia com isso.

— Se não tem ninguém, então me diga... por que quer ir? Glauco soltou-a e recostou-se, observando-a com curiosidade.

Amália hesitou.

— Por quê? Eu... é... Respirou fundo, mas mudou de rumo, erguendo o olhar desafiador:

— Por que você quer me manter aqui?

Glauco soltou uma gargalhada baixa. “Inteligente” pensou ele. “Ela não sabia para onde ir e ele sabia disso, então desviou o foco da conversa com astúcia”. Achou interessante.

— Você será minha criada pessoal. A frase veio direta, cortante.

Na luz fraca, ele percebeu os olhos dela se arregalarem. As bochechas coraram, revelando a confusão que se espalhava em sua mente.

— Criada pessoal? A voz dela subiu um tom. — Não serei sua amante!

Outra gargalhada ecoou pelo cômodo.

— Você acha que está em posição de me contrariar? Glauco perguntou, ainda se divertindo. — Sabe quem eu sou?

Amália se ergueu da cama, o olhar fixo, o queixo erguido.

— Não sei. E também não me interessa!

Ele a observou por um instante, depois soltou um único comentário:

— Selvagem.

Ela estreitou os olhos.

— O quê? Você que é um... Amália estava com medo, mas seu orgulho era maior.

— O quê? Ele deu um passo à frente e segurou seus braços frágeis. Que desapareciam em suas mãos. — Diga. Ele a encarou com olhos afiados.

— Brutamontes! Hipócrita! Amália se debateu. — Quer que eu acredite que é diferente? Me tirou de lá para fazer o mesmo que eles!

Glauco não respondeu de imediato. Algo em sua expressão mudou.

— O que eles fariam com você? Perguntou, num tom mais baixo, mas cortante. — Já passou por isso? Ele perguntou com seus olhos afiados e um misto de incredulidade e raiva.O silêncio caiu entre os dois. Amália desviou o olhar, e ele viu seus olhos se encherem de lágrimas.

Lentamente, ele soltou seus braços.

— Me responda! Você já passou por isso? Ordenou, a voz grave se intensificando.

Ela estremeceu com o grito, mas respirou fundo e murmurou:

— Eu fui vendida, sim... mas fugi. Todas as vezes, eu fugi. Ela disse com toda a coragem que conseguiu juntar dentro de si.

Glauco piscou, absorvendo as palavras. Então soltou uma gargalhada alta, como se aquilo fosse absurdo.

— Aqueles imbecis deixaram você escapar?

Na cozinha, Danilo, Nice e Manoela ouviram o som inesperado do riso de Glauco. Era raro. Muito raro.

— O que tem de engraçado nisso? Amália retrucou, com a raiva crescendo.

Glauco deu um passo à frente.

— Acha que pode fazer o mesmo comigo?

Antes que ela pudesse reagir, ele a puxou de súbito, aproximando seu corpo do dele.

O coração dela disparou. Pega de surpresa, bateu as mãos contra o peito dele, tentando se afastar.

Glauco não recuou. Com um gesto lento, o polegar roçou sua bochecha e depois os lábios.

— Fique tranquila. Não pretendo dormir com você. Sua voz era baixa, carregada de ironia. — Não faz meu tipo.

Então, soltou-a. Sem equilíbrio, Amália caiu sentada na cama.

— Hoje você vai ficar sem jantar. Já que o desperdiçou... a menos que me peça com jeito.

Ela o encarou, indignada.

— O que quer dizer com jeito?

— Ajoelhe-se e me peça. Então mando trazer outro prato de comida. Disse, olhando fixamente para ela.

— Nunca! Respondeu, firme.

— Tudo bem. Vai ser uma noite longa. Agora vou jantar, porque estou com fome. Disse, saindo e deixando a porta entreaberta.

Amália o viu sair. Esperou alguns segundos e tocou a porta, incerta.

— Achou que eu ia mesmo te deixar sair assim tão fácil? Ouviu a voz dele no corredor, com um sorriso sarcástico.

— Só ia encostar a porta. Respondeu.

— Claro que sim.... Disse ele, continuando pelo corredor.

Antes de desaparecer:

— Nem pense em fugir. Garanto que não sou como os outros.

Na sala de jantar, Glauco se sentou à mesa. Não demorou para Nice e Manoela trazerem o jantar. Danilo também se aproximou.

— Senhor...

— Já sei. Não foi leiloada. Glauco o interrompeu.

— Sim, senhor.

— Vá. Teremos outras oportunidades.

Quando o assistente virou para sair:

— Sente-se! Ordenou.

— Eu... Danilo pareceu hesitar.

— Já jantou?

— Sim, senhor. Na cozinha.

— Ótimo. Sente-se. Preciso falar com você. Sirva-se, se quiser.

— Obrigado. Estou satisfeito. Respondeu, sentando-se com cuidado.

— Aquilo hoje no leilão é comum? Perguntou Glauco.

— Nos leilões, não. Mas já ouvi sobre esse tipo de comércio no porto.

— Quem está por trás?

— Há muitos boatos, mas nada concreto.

— Investigue isso.

— Sim, senhor... Danilo hesitou. — Posso fazer uma pergunta?

Glauco assentiu com a cabeça.

— É por causa da garota?

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App