A porta se abriu e, por um instante, perdi o fôlego. Não era o tipo de homem que eu esperava encontrar ali. Ele era jovem — bem mais do que a maioria dos homens que costumavam me contratar — e absurdamente bonito. Terno escuro sob medida, gravata perfeitamente alinhada, o cabelo castanho ligeiramente desalinhado, como se tivesse passado a mão por impaciência. Mas o que mais me atingiu não foi a aparência: foi a presença. Ele era o tipo de homem que preenchia o espaço sem esforço, como se o ar tivesse se tornado mais denso só porque ele havia entrado.
Seus olhos — intensos, frios e atentos — se prenderam aos meus por alguns segundos, mas não havia curiosidade ali, nem gentileza. Só um comando mudo, quase arrogante. — Vamos ser rápidos — disse, sem sequer se apresentar. Engoli em seco, surpresa. Geralmente, havia ao menos uma troca formal, um nome falso ou um aperto de mão, qualquer coisa que disfarçasse o negócio por trás da companhia. Mas aquele homem não parecia interessado em formalidades. Levantei-me devagar, ajeitando o vestido com as mãos, e caminhei ao lado dele pelo corredor elegante. As paredes de madeira polida refletiam luzes amareladas, e cada passo ecoava, como se denunciasse minha insegurança. Não sabia como agir. Deveria andar próxima a ele, como uma acompanhante confiante? Ou segui-lo de longe, obediente, como uma sombra? As duas opções me incomodavam. Sentia-me deslocada, quase ridícula, e essa sensação era inédita para mim. Ele não disse nada até chegarmos diante de uma porta dupla, de madeira escura. Então, virou-se para mim, com a expressão carregada de impaciência. — Não diga nada. Apenas sorria. E não atrapalhe. Assenti em silêncio, sentindo o estômago dar cambalhotas. Minha garganta parecia seca demais para responder. Seus olhos percorreram meu corpo de cima a baixo, demorados. Não havia malícia no olhar, tampouco interesse — era como se estivesse avaliando uma peça em exposição, decidindo se estava adequada ao padrão. — A roupa está aceitável — concluiu, arqueando levemente a sobrancelha. — Sem exageros. Um calor desconfortável subiu até minhas bochechas. Eu não sabia se queria rir ou socar aquele homem. A situação parecia um experimento social de mau gosto, uma pegadinha cruel da vida. Ele empurrou a porta e o ambiente do outro lado engoliu minhas reflexões. Era uma sala reservada, ampla, com uma mesa de madeira no centro e quatro cadeiras ocupadas por homens de aparência refinada. Gravatas alinhadas, ternos caros, gestos contidos que denunciavam uma vida de poder e influência. Alguns deles também tinham acompanhantes ao lado — mulheres tão arrumadas quanto eu, mas em vestidos brilhantes e decotados, feitos para chamar atenção de qualquer ângulo. O homem ao meu lado arqueou uma sobrancelha ao observá-las, e por um segundo tive a impressão de que ele se irritava com aquele contraste. Eu, discreta e sóbria demais, destoava delas de um jeito gritante. Senti meu coração acelerar. O que ele estaria pensando de mim, exatamente? E, mais importante, por que parecia que nada do que eu fizesse seria suficiente para aquele homem? Acompanhei-o para dentro da sala, fechando as portas com cuidado atrás de mim. O som do clique ecoou como uma sentença. Senti que a partir dali nada mais estava sob o meu controle. Caminhei até a mesa e, sem saber exatamente onde me posicionar, sentei-me ao lado dele. Ajustei a postura, as pernas cruzadas, as mãos repousando sobre o colo — insegura, como se estivesse sempre a um gesto de ser repreendida. Minha pele parecia mais sensível sob a luz amarelada do lustre, e cada movimento meu parecia exagerado diante do silêncio que se seguiu. Os homens presentes cumprimentaram meu acompanhante com respeito quase ensaiado, inclinando a cabeça ou estendendo a mão. Ele apenas assentiu, indiferente. — Vamos direto ao assunto — disse, sua voz grave cortando o ar com precisão. Um desconforto percorreu a mesa. Os outros se entreolharam, como se a pressa dele fosse uma quebra de protocolo. Ainda assim, começaram a falar. — O mercado de ações está instável, e algumas das maiores empresas já sentem os impactos... — disse um deles, um homem de meia-idade, enquanto ajeitava a gravata com dedos nervosos. — Estamos diante de uma nova crise. Talvez a mais complexa dos últimos anos. Outro completou, com mais confiança: — E acreditamos que uma aliança com você seria essencial para resistir a esse cenário. Eu observava em silêncio, tentando absorver o clima. Palavras como ações, projeções, salvamento e crise ecoavam em minha cabeça como se pertencessem a um idioma distante. Meu acompanhante recostou-se levemente na cadeira, cruzando os braços. Seus olhos frios examinaram cada rosto à mesa antes de falar: — E o que vocês têm a oferecer com essa parceria? A pergunta soou como um desafio. O silêncio que se seguiu foi quase constrangedor. Um dos homens, o mais jovem entre eles, hesitou visivelmente. Seus dedos tamborilavam na madeira da mesa, e parecia arrependido de estar ali. Ainda assim, respirou fundo e respondeu: — Todas as empresas que figuram entre as trinta melhores do mercado precisam de parcerias para se manterem no topo. A lógica é clara: união é força. Meu acompanhante arqueou uma sobrancelha, como se a frase fosse uma ofensa pessoal. Seus olhos estreitaram-se, e ele inclinou-se ligeiramente para a frente. — Repito — disse com firmeza, cada sílaba carregada de desprezo contido. — O que você tem a oferecer? O homem engoliu seco, emudecido. — A minha empresa — continuou meu acompanhante, sem pressa, sem disfarçar a arrogância — não está entre as trinta. Está entre as quinze maiores do mercado financeiro. Ele falou aquilo com tanta segurança que parecia uma sentença irrevogável. Não havia modéstia, nem humildade. Apenas um fato, colocado ali para esmagar qualquer dúvida. Por um segundo, esqueci de respirar. Olhei para ele de soslaio, fascinada e desconcertada ao mesmo tempo. Ele parecia feito de aço — frio, afiado, inquebrável. E, quando seus olhos se desviaram para mim por um breve instante, senti como se tivesse sido pega observando demais. A tensão daquele olhar me atravessou como um raio. Rapidamente forcei um sorriso discreto, lembrando da ordem que ele havia me dado. Apenas sorrir.