Léon é um homem controlador, Cada detalhe, cada processo, cada pessoa sob seu comando era meticulosamente gerenciado, nada podia passar por seus olhos sem que ele percebesse algum erro. Aos trinta anos, ele havia transformado a empresa que havia lhe sido passada, em uma máquina eficiente e com uma relevância que não era notada anteriormente, impulsionada por sua visão implacável. Mas essa necessidade de controle era apenas um reflexo de sua vida pessoal, do caos que ele tentava desesperadamente evitar. Junto à sua idade, havia chegado também à pressão para que Léon se casasse com uma jovem pretendente para que Léon pudesse passar seu sobrenome à frente, aquela idéia ultrapassada e forçada de casamento era algo que Léon recebia de maneira desgostosa, Léon não queria de casar, não precisava daquilo. Porém, após mais uma discussão com seu pai, sentia que precisava de uma resolução para aquele problema. Era um casamento que seu pai queria que Léon tivesse, e era isso que Léon precisava dar a ele. E como uma resolução doa seus problemas, estava Cecília, sua secretária e assistente, que desde sempre havia sido uma profissional competente e astuta, e poderia acabar sendo a noiva que Léon precisava em um casamento arranjado sobre contrato.
Ler maisEra possível de se ouvir a vociferação entre o Sr.Rutherford e seu filho, León, a quilômetros de distância da porta daquela sala, e Cecília acreditava fielmente que exatamente por esse motivo ela era a única funcionária alí. Era possível ouvir que León rebatia com irritação e obstinação o Sr.Rutherford sobre a idéia quase absurda de que León deveria aceitar a "pretendente" disponível para ele. Cecília quase sentia pena de León, mas ao se lembrar de tantos anos trabalhando para ele, Cecília até começava a se sentir mais leve ao ouvi-lo tão fora de si. Minutos após aquela discussão começar, Cecília ouviu o Sr. Rutherford abrir a porta, logo Cecília já estava com a postura ereta, sua expressão neutra, tal qual um robô condicionado apenas para o trabalho. Não importava, O Sr. Rutherford nem mesmo lhe deu um mísero aceno, a existência de Cecília era completamente desnecessária para um homem como ele, e por isso o homem grisalho na casa de seus 59 anos apenas passou reto por Cecília, que se encontrava sentada à sua pequena mesa, e foi levado pelo elevador. Não demorou nem mesmo um minuto para que Cecília ouvisse Léon berrar seu nome e antes que pudesse se dar ao luxo de se levantar daquela cadeira, Cecília respirou profundamente e suspirou, mantendo sua postura. Cecília adentrou à sala presidencial de Léon, o vendo perambular pela sala de um lado para o outro, nitidamente irritado e fora de sí. Cecília com a voz calma e mansa, treinada por variadas vezes, disse;
- Sim, senhor Rutherford? - Da próxima vez que aquele homem tentar adentrar essa empresa eu quero que ele seja EXPULSO! Você escutou bem? EXPULSO! - Vociferou Léon. Cecília sentiu uma vontade avassaladora de revirar os olhos e dizer "Mimado", mas manteve-se neutra. - Sinto muito, senhor Rutherford, mas acredito que não estaria ao meu alcance realizar tal pedido - Naquele momento Léon parou de perambular pela sala e lançou um olhar fulminante para Cecília, que se manteve neutra. - Como "Não estaria ao seu alcance", Cecília?! Eu PAGO você pra fazer o seu trabalho! - E infelizmente o meu trabalho não envolve ser metida em uma briga familiar entre um bilionário e o filho mimado dele - Cecília havia disparado tais palavras sem perceber, deixou que seus elevados pensamentos escapassem por seus lábios, apenas ao perceber a expressao de Léon à sua frente que Cecília sentiu seu corpo gelar naquele momento. Cecília pensou "Ótimo.. É agora que eu sou demitida". - Saía da minha sala, Cecília. AGORA! - Cecília virou -se para sair da sala de Léon e quando estava de costas finalmente pôde revirar seus olhos. Voltar à sua mesa fez com que Cecília ficasse mais tranquila, podendo finalmente focar em suas próprias tarefas em meio ao silêncio daquele ambiente gélido e vazio. Pelo resto do dia a porta da sala de Léon manteve-se fechada, e o próprio não incomodou Cecília como tinha o costume de fazer com suas inúmeras ligações e pedidos para que Cecília o trouxesse um café, a própria Cecília já fazia isso tantas vezes a anos o suficiente que já havia decorado a maneira como Léon tomava seu café "Espresso duplo com uma colher de açúcar e uma colher de canela", em seus momentos de tédio até mesmo se questionava por quais razões Léon colocava canela em seu café, pois a própria Cecília tentou fazer isso em sua própria casa e achou péssimo. Dentro da sala de Léon, tudo mantinha-se em silêncio, em completo contraste com a mente barulhenta e turbulenta de Léon, que enquanto trabalhava, pensava de maneira acelerada e quase frenética nos problemas de sua vida pessoal que estavam consumindo sua mente. Léon estava tão concentrado no amontoado de documentos à sua frente que não viu a porta de sua sala ser aberta por Cecília, que ao vê-lo tão concentrado soltou uma leve tosse para chamar sua atenção. - Desculpe interromper, senhor Rutherford. Apenas vim comunicar que já estou indo embora e fechei sua agenda. - Léon olhou para Cecília e apenas assentiu. - Já são 17:30? - São sete horas, senhor Rutherford - Léon arregalou levemente seus olhos e levantou-se. - São sete horas?! O que ainda está fazendo aqui, Cecília? - Léon sabia que variadas vezes Cecília ficava até mais tarde por conta da demanda de trabalho à fazer, mas naquele dia não era necessário. - Não tenho muito o que fazer em casa, senhor Rutherford. E sinceramente prefiro adiantar meu trabalho de amanhã pra te suportar por menos tempo - Léon arregalou seus olhos com o tom neutro, mas as falas tão afiadas de Cecília. Nunca havia ouvido Cecília falar daquela maneira anteriormente. - Como?! - Estou fora do meu horário de trabalho, você não pode me demitir. No máximo pode me achar uma sem noção, mas eu te acho um magnata extremamente mimado, então, estamos em pé de igualdade nisso - Léon realmente se impressionava com a maneira neutra que ela falava coisas tão..Ácidas. - Nunca imaginei que ouviria uma funcionária minha dizer um absurdo desse tipo. Você é bem ácida quando deseja, não é mesmo? - Cecília deu de ombros. - Preciso ir, senhor Rutherford, eu tenho um caminho de duas horas até minha casa, se eu tiver sorte - Cecília se virou para sair, mas Léon a chamou. - Duas horas até sua casa? Mas já está meio tarde para você andar por aí sozinha, não acha? - Eu pego dois ônibus, senhor Rutherford. Nem todo mundo na sociedade é um magnata bilionário com direito à motorista e carro particular. - Eu levo você, Cecília. Não quero perder a única assistente que me resta - Cecília franziu a testa ao ouvir Léon, e cruzou seus braços questionando internamente se àquilo era mesmo uma boa idéia, mas, a própria se lembrou "Estou fora do meu horário de trabalho, e sinceramente não quero correr o risco de ser roubada por aí, melhor um magnata mimado do que um criminoso ao meu lado". - Tudo bem, senhor Rutherford. Obrigado pela gentileza. É essa a sua ação de caridade esse ano? - Léon revirou os olhos quase que instantâneamente pegando a chave de seu carro. - Acho que eu prefiro quando você está calada no seu horário de trabalho.- Como assim de um momento de vulnerabilidade, Léon?!Léon parecia hesitante em dizer, Cecília o olhou fixamente e disse:- Léon preciso que seja sincero comigo, se você quer minha ajuda nisso eu preciso saber no que estou me enfiando.Léon balançou a cabeça e respirou profundamente, seus ombros pareciam tensos.- A doze anos atrás Alencar sofreu um acidente que o deixou em coma por seis meses, apesar da empresa ter outros presidentes, nenhum deles poderia ocupar o cargo que o Alencar ocupava nem mesmo temporariamente, eram e ainda são regras internas. Quando Alencar fundou a empresa ele colocou sobre contrato que a esposa dele, tinha direito para controlar todos os seus bens, apesar dessa palhaçada estar apenas no papel ela de fato podia fazer isso, Sylvia poderia passar a empresa diretamente para quem ela quisesse no momento em que ela quisesse se o Alencar não estivesse sobre condições de saúde para isso. Eu sabia que a Sylvia não iria querer ir diretamente para a empresa fazer o t
Cecília se sentia abençoada e ao mesmo tempo amaldiçoada por folgar aos sábados, qualquer um jovem aos vinte e três anos acharia incrível folgar aos sábados, poderiam aproveitar um bar ou uma balada com seus amigos, beber sem culpa é de maneira, possivelmente, irresponsável. Mas Cecília não tinha amigos, sua vida era baseada no silêncio e na falta de companhia. Dizem que seu corpo demora em média 21 dias para se acostumar a algum hábito ou rotina que anteriormente você não tinha, e Cecília acreditava que havia acontecido isso com ela mesma. O silêncio e a solidão não são uma ameaça, eles não te abandonam em nenhum momento, eles apenas existem em você e, as vezes, existem no seu redor também. E Cecília conseguia ver o silêncio e a solidão quando estava sentada em seu sofá acinzentado, com uma xícara de café amargo entre suas mãos, e apenas a luz amarelada de seu abajur, posicionado em cima da mesinha de centro, iluminando o ambiente. Cecília via as paredes brancas de seu apartamento, v
Cecília estava sentada à frente de Léon, ele parecia levemente ansioso, talvez até mesmo nervoso, e Cecília estava confusa. Cecília olhou o relógio em seu pulso, viu que já marcava 18:30 no relógio. Ela estava fora de seu horário de trabalho a uma hora. - Léon eu já estou fazendo hora extra a uma hora, meus pés doem, eu odeio esses saltos altos, meu humor não está dos melhores e estou cansada de ficar com meu rosto neutro quando eu evidentemente estou com o humor de alguém que comeu uma puta e não gostou. Então, por favor, se possível, você poderia falar de uma vez o que você quer? - Léon arregalou seus olhos levemente, surpreso com o tom direto de Cecília, e até ranzinza.- Por Deus, Cecília você me assusta de uma maneira diferente toda vez que vejo você fora do seu horário de trabalho. É como ver uma pessoa completamente diferente.- Que bom, porque essa pessoa diferente na sua frente nesse exato momento está pronta pra levantar a bunda dessa cadeira e ir embora se você não disser
As semanas se passavam tão lentas quanto Cecília desejava. Seu trabalho estava cansativo e remoto como sempre, apesar de Léon ter mudado bastante a maneira como tratava Cecília. Para Cecília, vê-lo sendo menos mal humorado e mais "humano" para com ela, era uma evolução e tanto. Cecília estava sentada em sua mesa de sempre, concentrada na tela do monitor e na tarefa de fazer uma nova planilha, tarefa essa que Léon havia designado a ela. Estava tudo silencioso, quando derrepente a atenção de Cecília foi levada apenas ao som de passos vindo em sua direção. Uma mulher loira com olhos escuros e pele branca, que estava usando um vestido preto de linhas retas e decote em V, seus saltos eram pretos com a sola vermelha, e apenas aquele detalhe fez Cecília perceber que aquela mulher com certeza era de alta elite, assim como Léon. A mulher se aproximou, sua expressão esbanjava um certo ar egocêntrico que Cecília não sabia explicar. - Boa tarde, senhora. O que deseja? - Cecília disse, em um tom
Cecília estava novamente sentada à sua mesa próximo à porta do escritório de Léon. Desde a noite em que eles haviam conversado, surpreendentemente Léon estava sendo mais "pacífico" com Cecília, essa mudança à olhos desatentos poderia passar despercebida, mas para a própria Cecília nem tanto. Cecília estava lendo um contrato quando ouviu o som de passos de saltos altos se aproximando, ao olhar para cima, viu uma mulher jovem de estatura média, cabelos longos castanhos escuros, e vestido longo verde musgo, ela tinha uma expressão serena, Cecília quase sentiu que já havia visto seu rosto anteriormente. - Pois não, senhora? Acredito que esteja perdida - Somente ao ouvir Cecília falando que a mulher olhou para ela, e então deu um pequeno sorriso. - A-Ah não, não, não estou perdida. - Desculpe senhora, mas esse andar é proibido para.. - Esse aqui é o andar da sala do Léon? - Cecília franziu levemente sua testa e assentiu. Ninguém nunca se referia à ele com tanta..Intimidade. - Ah, ent
Léon havia levado Cecília, foi guiado durante o percurso por ela. Dentro do carro, entre eles havia apenas o silêncio, até que Cecília o quebrasse.- Posso perguntar uma coisa? - Léon olhou para Cecília pelo canto dos olhos e apenas assentiu sem tirar sua atenção do percurso. - Por quê seu pai é tão..Ele mesmo? Ir à sua empresa pra te empurrar um casamento arranjado não parece medieval demais para alguém tão rico?Léon não conseguiu segurar o riso que acabou escapando de seus lábios, aquela versão tão 'sem filtro' de Cecília era até mesmo interessante para o próprio.- Você é tão desbocada assim diariamente? - Apenas fora do meu horário de trabalho, não estou pretendendo ser demitida agora. - Eu poderia te demitir no momento que fosse mais conveniente para mim, Cecília, eu sou seu chefe - Cecília deu de ombros e revirou os olhos.- Se você conseguisse achar uma nova assistente que lidasse com todas as suas exigências estaria me fazendo um favor também, se você me demitir agora sem j
Último capítulo