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- Precisaremos conversar sobre como faremos isso da maneira mais convincente que seja possível. Alencar é um homem desconfiado, ele nunca acreditaria que eu me casei com você de fato se eu simplesmente aparecesse com um contrato civil de casamento - De fato, Cecília imaginava àquilo. Cecília arqueou uma sobrancelha, a ironia dançando em seus olhos.

- Então, quer dizer que estou oficialmente escalada para o papel principal em 'A Esposa de Mentirinha' na sua vida? Vamos ter cenas de casal feliz e tudo o mais?

A pergunta, carregada de um cinismo divertido, arrancou uma risada genuína de Léon. Era como se, ao ouvir a incredulidade de Cecília, ele finalmente permitisse que a tensão se dissipasse por completo, substituindo-a por um alívio palpável.

- Apesar de eu nunca ter sequer ouvido falar desse filme, acredito que seja fácil de compreender o roteiro, então, sim. Teremos que criar no imaginário do Alencar e de quem mais for necessário de que nós dois estamos em um amor genuíno, e que você não é uma mulher interesseira, que eu e você já estávamos nos envolvendo antes, e qualquer outra baboseira que convença a elite de que eu estou "perdidamente" apaixonado - Foi a vez de Cecília acabar rindo, imaginar Léon dessa maneira era quase impossível.

- Vai ser um trabalho e tanto..Por Deus.

- Eu sei que vai, Cecília. Mas, vamos por partes. Imagino que você já tenha em mente que muita coisa vai mudar pra você, e sei o quanto isso pode acabar sendo desconfortável.

- Já passei por situações piores do que servir de esposa de mentira pro meu chefe não perder seu reinado, tá tudo bem, Léon. Sei que isso vai me causar uma mudança e tanto, mas, eu não tenho nada mais interessante pra fazer e já acho você minimamente suportável, não quero ter que lidar com o Alencar sendo meu chefe.

- E eu agradeço por isso e por todo o resto. E prometo que vou recompensa-lá, Cecília. Precisava ter a confirmação sobre a sua resposta para encaminhar as coisas daqui em diante.

- Encaminhar o quê?

- Nada com o que você tenha que se preocupar, quero um contrato entre nós para que você tenha certeza do que vai sair ganhando.

Durante o tempo que se seguiu, Léon e Cecília jantaram juntos, Cecília desviou do assunto principal apenas para falar sobre o único outro assunto que tinham em comum: Trabalho, agenda, reuniões. Diferente de qualquer outro momento ou interação formal que Léon e Cecília já tiveram antes, dessa vez, eles ainda mantinham certa formalidade, mas se conheciam melhor, Léon estava mais aberto ao que Cecília dizia afinal, Cecília seria a resolução de seus problemas, e mesmo que Léon pagasse Cecília por tudo aquilo, Léon sabia que ainda não seria o suficiente. Após a sobremesa, Léon pagou a conta apenas com a assinatura de sempre, e levou Cecília para a casa dela novamente, já passava das 22:00 horas da noite quando Cecília se viu outra vez sozinha em seu quarto e Léon já havia ido embora.

Quando Léon chegou à sua propriedade, foi recebido por Ethel, que com um sorriso gentil e curioso perguntou como havia sido o jantar com Cecília enquanto caminhava ao lado de Léon para a biblioteca.

- Ocorreu tudo bem, Ethel. Cecília vai me ajudar com toda essa situação.. Se Alencar realmente acreditou por um milésimo de segundo que poderia me derrubar estava enganado, a sorte está ao meu lado aparentemente, e Cecília também.

- Pelas descrições que você dá sobre ela, ela me parece ser uma menina doce e reservada.

- Com uma bela língua afiada as vezes. Acredito que vou em certo momento trazer ela para cá, Ethel. Vocês duas acabaram se conhecendo, com toda a certeza - Ethel assentiu e sorriu.

- Você me parece mais aliviado, menos tenso. Apesar do assunto principal, sobre o que mais vocês conversaram?

- Nada além do comum, Ethel, apenas trabalho. Cecília e eu não temos assuntos a tratar além disso.

- Mas seria uma boa idéia que tivessem, não acha? Você vai se casar com ela, Léon. Mesmo que seja de maneira temporária, vocês terão que agir como um casal por um tempo. Você deveria se interessar pelos interesses dela - Léon franziu levemente sua testa e riu levemente surpreso pela observação de Ethel.

- Ethel eu não preciso ser tão convincente assim, é um exagero, não acha? Cecília e eu saberemos fingir o suficiente, não se preocupe com isso. Já está tarde, você não vai dormir?

- Irei, Léon. Só estava esperando você chegar para me deitar, me preocupo quando você está na rua, você sabe.

- Já disse à você para não se preocupar, sei que Alencar tem certos 'surtos' de loucura, mas ele não iria tão longe ao ponto de tentar me mandar para um hospital de maneira tão aleatória.

- Sei que você não teme pela sua vida, Léon, mas eu sim. Alencar é um homem traiçoeiro, Léon, ele seria capaz de qualquer coisa para chegar até onde ele deseja. - Ethel sempre parecia ficar tensa quando o assunto tocado era o Alencar, Léon sabia que Ethel era amedrontada até mesmo pela ideia de se aproximar de Alencar, mas Léon nunca soube explicar o porquê, apenas acreditava que dado ao fato de que Alencar era digno da palavra "Carrasco", Ethel possivelmente era amedrontada apenas pela maneira como Alencar era. Ao menos, era nisso que Léon acreditava de maneira fiel.

Léon pôs sua mão no ombro de Ethel, e a olhou.

- Ethel você não precisa se preocupar, eu lhe prometo que nada vai ocorrer. Confie em mim. Sei que as vezes Alencar pode passar dos limites, mas até mesmo ele tem o mínimo de bom senso, ou o mínimo de dignidade.

Ethel sempre achou que a confiança que Léon tinha em si mesmo as vezes beirava a insanidade, pois Ethel não confiava na dignidade de Alencar, e tinha seus motivos para isso. Ethel suspirou profundamente, sabia que tentar convencer Léon de algo naquele segundo seria perda de tempo. Com seu ar maternal, Ethel acariciou o rosto de Léon, em seus olhos, o afeto digno de uma mãe.

- Tudo bem, Léon..Estou confiando em você.