- Como assim de um momento de vulnerabilidade, Léon?!
Léon parecia hesitante em dizer, Cecília o olhou fixamente e disse: - Léon preciso que seja sincero comigo, se você quer minha ajuda nisso eu preciso saber no que estou me enfiando. Léon balançou a cabeça e respirou profundamente, seus ombros pareciam tensos. - A doze anos atrás Alencar sofreu um acidente que o deixou em coma por seis meses, apesar da empresa ter outros presidentes, nenhum deles poderia ocupar o cargo que o Alencar ocupava nem mesmo temporariamente, eram e ainda são regras internas. Quando Alencar fundou a empresa ele colocou sobre contrato que a esposa dele, tinha direito para controlar todos os seus bens, apesar dessa palhaçada estar apenas no papel ela de fato podia fazer isso, Sylvia poderia passar a empresa diretamente para quem ela quisesse no momento em que ela quisesse se o Alencar não estivesse sobre condições de saúde para isso. Eu sabia que a Sylvia não iria querer ir diretamente para a empresa fazer o trabalho que o Alencar fazia, ela não entendia de nada sobre negócios e nunca se interessou por isso, e eu já trabalhava lá desde os quinze anos, eu já entendia tudo o que precisava, eu era observador. Então, eu comecei a me provar prestativo, eu levava as coisas de extrema urgência à Sylvia para que ela assinasse, tentava explicar para ela o que cada coisa significava, mas ela nunca nem olhava os papéis, ela confiava em mim, apenas assinava qualquer coisa que eu pedisse, e pensando nisso, eu coloquei em meio a alguns papéis um documento civil reconhecido judicialmente e no cartório que a Sylvia estava me passando toda a empresa e a capital dela e de Alencar. Cecília permaneceu em silêncio por um momento que pareceu se estender indefinidamente. Seus olhos, antes focados em Léon, desviaram-se para um ponto indefinido na mesa, como se a mente estivesse lutando para processar a audácia das palavras que acabara de ouvir. A incredulidade era palpável, embora contida em uma expressão facial que se esforçava para manter a compostura. Cecília sabia que Léon e Alencar não se davam bem, era nítido, eles se olhavam como se fossem dois estranhos prontos para se matarem a qualquer segundo. Cecília se perguntava o porquê de tanto ódio entre eles, e naquele momento, sabia que um golpe contra o próprio pai não era a coisa mais correta a se fazer, mas se perguntava quais os motivos de Léon ter feito isso. Léon não parecia ser um homem ambicioso ao extremo, ele não era tão arrogante, ele não aterrorizava seus funcionários, apesar de calado e exigente, Léon era sempre formal e educado. - Ela e o Alencar nunca descobriram isso? - Cecília questionou após o silêncio entre eles. Léon deu de ombros. - Quando Alencar acordou já era tarde demais para que pudesse fazer qualquer coisa, eu já estava ocupando meu cargo com excelência, eu joguei com as regras do próprio Alencar, eu fiz tudo perante a Lei, o que ele poderia fazer? Surtar como um cão cheio de raiva não me faria mudar o que eu tinha feito, e nem o quão burro ele foi por ter permitido que a Sylvia pudesse assinar coisas tão importantes e prejudiciais. Agora você entende o porquê estou precisando da sua ajuda? Preciso que você se case comigo de faixada para que Alencar não tente roubar tudo o que eu tenho agora. Eu prefiro a morte do que permitir que Alencar volte ao poder que tinha anteriormente e possa fazer com que a minha vida e a vida da minha irmã se tornem um inferno, Cecília. Você não faz idéia do tipo de coisa que Alencar fazia naquela empresa, do quanto os funcionários daquele lugar já foram prejudicados por ele. Sei que não sou perfeito, mas não me assemelho em nada com a crueldade de Alencar. Então, estou humildemente lhe implorando para que me ajude, Cecília. "A surpresa ainda pairava no rosto de Cecília, mas, por trás dela, uma compreensão crescente começava a surgir. Ela via, nos olhos de Léon, um desespero genuíno, uma determinação feroz de impedir que Alencar reassumisse o poder. A hesitação ainda estava presente, mas a empatia em Cecília acabou falando mais alto. Percebendo que aquela era, de fato, a única saída para ele, Cecília respirou fundo, reunindo sua coragem. - Tudo bem, Léon. Eu ajudo você. Eu já ouvi alguns comentários sobre o Alencar, a maneira como todos temem a ele não me parece algo positivo, e se eu posso evitar que tantas pessoas sejam prejudicadas dessa maneira, eu o farei. Ao ouvir a aceitação de Cecília, um visível alívio percorreu o semblante de Léon. A tensão que antes rigidizava sua postura pareceu dissipar-se, permitindo-lhe exalar profundamente, como se um peso considerável houvesse sido removido de seus ombros. - Você está salvando a minha vida, Cecília. Serei grato a você pelo resto dela.