Léon havia levado Cecília, foi guiado durante o percurso por ela. Dentro do carro, entre eles havia apenas o silêncio, até que Cecília o quebrasse.
- Posso perguntar uma coisa? - Léon olhou para Cecília pelo canto dos olhos e apenas assentiu sem tirar sua atenção do percurso. - Por quê seu pai é tão..Ele mesmo? Ir à sua empresa pra te empurrar um casamento arranjado não parece medieval demais para alguém tão rico? Léon não conseguiu segurar o riso que acabou escapando de seus lábios, aquela versão tão 'sem filtro' de Cecília era até mesmo interessante para o próprio. - Você é tão desbocada assim diariamente? - Apenas fora do meu horário de trabalho, não estou pretendendo ser demitida agora. - Eu poderia te demitir no momento que fosse mais conveniente para mim, Cecília, eu sou seu chefe - Cecília deu de ombros e revirou os olhos. - Se você conseguisse achar uma nova assistente que lidasse com todas as suas exigências estaria me fazendo um favor também, se você me demitir agora sem justa causa eu posso processar sua empresa por danos morais e você ainda teria que me pagar uma rescisão alta, pelo menos seria alta aos meus olhos, pra você seria 'troco de pinga' - Léon franziu a testa levemente, nunca havia ouvido uma expressão daquelas anteriormente, mas era inegável que Cecília era inteligente para dizer tais palavras sem pudor, pois cada vírgula estava correta. - Você ainda não respondeu minha pergunta. Léon suspirou pesadamente e respondeu. - Alencar é um homem das cavernas, Cecília. Do pior tipo. Ele acha que eu tenho que "cumprir meu papel para com a sociedade familiar que temos". Aquilo é uma falácia, aquela família inteira e a boa imagem que eles criam é uma falácia, e eu infelizmente estou no centro do furacão deles. Eles querem que eu me case pra "permanência" do sobrenome. É uma..Bobagem - Cecília franziu levemente a testa e soltou "Uau". - Nunca imaginei que logo você sofreria pressão pra se casar com uma desconhecida. Parece até que estou ouvindo uma história sobre os tempos de monarquia, que loucura - Léon riu outra vez. - Oh, eu queria que fosse apenas uma história mal feita, como eu queria. - Você nem ao menos viu a pretendente, vai que ela é "naturalmente bonita e submissa" - Léon balançou a cabeça e riu. - A última coisa que desejo aos trinta anos é casar com uma completa desconhecida "Naturalmente bonita e submissa" - Cecília riu, não conseguiu evitar, para ela era cômico ver a situação desconfortável em que Léon se encontrava. Léon estacionou o carro em frente à um prédio acinzentado, Cecília retirou o cinto de segurança e se virou pra pegar sua bolsa. - Obrigada pela sua ação caridade do ano, Léon. Boa noite- Léon deu um meio sorriso. - Boa noite, Cecília, até amanhã. - Cecília saiu do carro, partindo para entrar no prédio, sentindo seu corpo suplicar apenas pelo banho e pela cama que a esperava. Léon, por outro lado, passou a mão por seus fios de cabelo curtos e escuros, pensando em todo o diálogo com Cecília, e sorriu, pensando "Ela é..Louca", e então deu partida com seu carro com rumo à sua propriedade. Ao destrancar a porta e entrar, vendo o espaço de seu apartamento, Cecília suspirou e disse à si mesma "Finalmente em casa..". Logo Cecília foi tirando os saltos altos desconfortáveis após tantas horas, caminhando e ligando as luzes pelo ambiente da sala e do corredor, Cecília foi caminhando até o banheiro que ficava em seu quarto, tirou todas as suas roupas e se permitiu afogar seu corpo na banheira após enche-lá de água quente, soltando um suspiro profundo e cansado. Cecília pensou sobre Léon, sobre como as coisas realmente poderiam ser mais complicadas do que pareciam, e por um mísero segundo Cecília sentiu até empatia por Léon, por todas as poucas vezes em que Cecília já havia visto ou ouvido alguma interação entre Léon e o pai de Léon, ja havia ficado nítido que nenhum dos dois se davam bem. Por um momento Cecília se pegou pensando que nunca saberia o que fazer se sua relação com seu próprio pai tivesse sido dessa maneira.."Pai..Queria que você estivesse por aqui ainda" Pensou Cecília. Após o banho Cecília foi direto em direção à sua cama, seus olhos estavam pesados, e seu corpo se sentia mais cansado do que Cecília poderia ter imaginado que se sentiria. Ao se deitar, Cecília abraçou seu travesseiro e suspirou, em meio ao escuro de seu quarto, Cecília se permitiu ser levada pelo sono. Do outro lado da cidade, Léon se encontrava adentrando o escritório de sua própria casa. Tudo estava, como sempre, silencioso, e gélido. Léon acendeu a luz do escritório, retirou a gravata e o palito do terno que usava, o jogando no sofá de couro no canto da sala. Não demorou muito para que Léon ouvisse duas batidas na porta de seu escritório, e logo a porta fosse aberta por Ethel. - Chegou mais tarde do que esperava, Léon - A voz de Ethel era suave e calma, como a de uma mãe. - Eu sei, Ethel, sinto muito. Precisei levar minha assistente até a casa dela. - Ethel franziu levemente sua testa já enrugada, não pôde evitar de se sentir surpresa. - Sua assistente? Para a casa dela? - Não imagine coisas erradas, Ethel. Ela ficou até mais tarde hoje, eu só quis..Fazer uma ação de caridade - Ethel riu levemente. - Oh Léon.. - Alencar foi até a minha empresa hoje - O tom de voz de Léon era desgostoso, e Ethel não pôde evitar de sentir seu corpo tenso ao ouvir aquele nome. - O que ele desejava? - Mais uma vez me empurrar guela abaixo essa ideia estúpida de me casar com sabe lá Deus quem..Uma baboseira - Ethel engoliu a seco, e se sentou no sofá de couro, olhando para Léon. - Léon..Sei que você não gosta dessa idéia, mas não tem medo do que ele possa fazer? Você sabe que ele não vai "deixar essa história morrer", Léon..- Léon suspirou profundamente, pois era verdade e ele sabia que Alencar nunca deixaria essa recusa sair impune. - Eu sei disso, Ethel..Mas eu já estou pensando em algo, eu te prometo.