Capítulo 6

Cecília se sentia abençoada e ao mesmo tempo amaldiçoada por folgar aos sábados, qualquer um jovem aos vinte e três anos acharia incrível folgar aos sábados, poderiam aproveitar um bar ou uma balada com seus amigos, beber sem culpa é de maneira, possivelmente, irresponsável. Mas Cecília não tinha amigos, sua vida era baseada no silêncio e na falta de companhia. Dizem que seu corpo demora em média 21 dias para se acostumar a algum hábito ou rotina que anteriormente você não tinha, e Cecília acreditava que havia acontecido isso com ela mesma. O silêncio e a solidão não são uma ameaça, eles não te abandonam em nenhum momento, eles apenas existem em você e, as vezes, existem no seu redor também. E Cecília conseguia ver o silêncio e a solidão quando estava sentada em seu sofá acinzentado, com uma xícara de café amargo entre suas mãos, e apenas a luz amarelada de seu abajur, posicionado em cima da mesinha de centro, iluminando o ambiente. Cecília via as paredes brancas de seu apartamento, via a TV desligada, e apesar da luz à sua frente, sentia como se o ambiente estivesse escuro. Cecília sentia a brisa vindo da varanda através da porta de vidro parcialmente aberta, em contraste com o calor da fumaça de sua xícara de café. Cecília pensava "Eu deveria colocar um quadro alí.." mesmo sabendo que não colocaria. "Eu deveria ter ido àquelas festas durante à faculdade", mesmo sabendo que não iria nem mesmo se sua vida dependesse disso. "Eu preciso mudar.." mesmo sabendo que não mudaria. "Eu sinto sua falta.." E só então as lágrimas invadiam seus olhos, e o choro silencioso preenchia o ambiente. Até que o som do toque de seu celular invadisse o ambiente, e ao pegá-lo em cima da mesa Cecília viu a notificação de uma mensagem vinda de um número desconhecido.

"Olá Cecília. Me perdoe incomoda-lá dessa maneira em seu dia de folga. Eu poderia buscá-la em uma hora para conversarmos sobre aquele assunto pendente entre nós?"

Cecília imaginou pela maneira de escrever que era Léon lhe enviando aquela mensagem, limpou suas lágrimas e respondeu:

"Não se incomode com a minha folga, eu não estava fazendo nada demais. Por favor não se atrase"

A resposta de Cecília foi visualizada, mas não respondida. Cecília levantou-se e foi para o seu quarto, conhecia Léon o suficiente pra imaginar que ele iria até um restaurante específico que ele sempre ia quando precisava tratar de uma reunião de negócios com tamanha importância, Cecília agora iria, de fato, tratar de negócios importantes com Léon, algo que poderia resolver os problemas da vida dele e da própria vida de Cecília.

Pontualmente em uma hora Léon ligou para Cecília apenas para avisar que estava à sua espera, Cecília logo foi ao seu encontro. Léon lhe disse que levaria ao restaurante que Cecília conhecia, por conta de todas as reuniões das quais Léon já fez anteriormente e Cecília participou como sua secretária, e Cecília apenas assentiu. A viagem até o restaurante foi feita inteiramente em silêncio, externo, pois internamente Léon não pôde deixar de notar o quão diferente Cecília era fora dos trajes que usa diariamente na empresa. Diferente da camiseta social e do blazer acintenzado, e da saia que ia até seus joelhos apesar de justa, Cecília vestia um vestido longo na cor de vinho tinto, caracterizado por um decote em V. A maquiagem em seu rosto era leve o suficiente para destacar seus traços, seus olhos. Cecília estava de fato, magnífica, mas Léon não diria aquilo.

Quando chegaram ao restaurante foram levados a uma mesa privada para dois, e ao se sentarem, logo foram recebidos por um garçom a disposição que no tom formal de sempre perguntou à ambos o que desejariam, Cecília deixou que Léon escolhesse por ambos, e complementou apenas dizendo:

- Poderia me trazer uma dose de James Martin's? - O garçom assentiu e se retirou, Léon franziu sua testa levemente.

- Você toma uísque?!

- Eu tenho vinte e três anos e você como meu chefe, ou eu cometo suicídio, ou viro alcoólatra em algum momento - Léon não pôde segurar o riso que escapou ao ouvir a resposta de Cecília.

- Não sou um chefe tão ruim assim, Cecília. Existem muitos magnatas bem piores por aí.

- Você não assediar suas funcionárias e não fazer desvios de funções não lhe torna um chefe melhor. E eu não trabalho para outros magnatas, eu só trabalho para você e devo fazer meu trabalho de assalariada, reclamar do meu chefe - O garçom retornou apenas trazendo o uisqui para Cecília.

- Tudo bem, eu entendo. Acredito firmemente que você tenha mais a reclamar de mim do que o contrário. Você foi a única secretaria que conseguiu se adaptar bem à minha agenda e rotina empresarial.

- É. O que a gente não faz por um emprego minimamente bem remunerado, não é mesmo?! - Cecília disse de maneira leve e irônica, fazendo Léon rir novamente, e Cecília acabou soltando um riso também e bebeu uma pequena quantidade do uísque.

- Bom, de qualquer maneira, obrigada por ter aceitado meu pedido de vir aqui, Cecília. E obrigada por aceitar essa conversa, ou ao menos em pensar sobre nosso assunto pendente. Isso é importante para mim, eu estou colocando quase minha vida sobre suas mãos.

- Você parece desesperado o suficiente e eu não tenho nada mais importante para fazer. Vamos direto ao assunto? O que você tem em mente, Léon?

Léon suspirou.

- Você sabe melhor do que ninguém que estou com a corda no pescoço com essa história ridícula de ter que me casar com a Luna. - Cecília assentiu - E eu sei que não terei paz até me casar com alguém, eu conheço Alencar o suficiente para saber que ele seria capaz de me prejudicar de qualquer maneira que fosse possível e impossível para me obrigar a me render aos seus planejamentos, e o atual é que eu me case.

- Entendo que é possivelmente nisso em que você quer me enfiar, Léon, mas você não acha que Alencar vai te prejudicar de qualquer maneira se você se casar com qualquer mulher que não seja a Luna?

- Em termos normais, sim, a menos que eu me casasse sem que ele soubesse. Existem falhas em qualquer área da sociedade, Cecília, até mesmo no direito e área empresarial. Se eu me casar, tudo o que eu tenho passa a poder ser mexido pela minha esposa, da mesma maneira que todos os bens dela passam a serem mexidos por mim. Me casar com a Luna é como atirar em meu próprio pé, conheço os pais dela o suficiente pra saber que seriam capazes de fazer qualquer coisa para que ela comandadas tudo o que tenho em minhas mãos atualmente.

- Alencar nunca iria permitir que algo da sua família passasse para ela, Léon

- A empresa não faz mais parte dos bens da minha família, Cecília. A empresa é apenas minha e todo o capital dela me pertence, Alencar não tem mais nenhum tipo de direito sobre a empresa desde a minha posse. - Cecília franziu a testa, surpresa, e confusa. A empresa não foi fundada pelo Léon, apesar da família de Léon ter uma herança de gerações, a empresa atual foi fundada pelo próprio Alencar, e Cecília imaginava que mesmo que Léon estivesse a frente dos negócios hoje em dia não o fizesse ser o dono majoritaeio daquele lugar.

- Mas isso é impossível, Léon. O Alencar é o fundador da empresa.

- Não me orgulho de admitir isso, mas eu me aproveitei de um momento de vulnerabilidade física de Alencar para tomar a empresa, Cecília - Cecília estava bebendo seu uisqui quando ouviu aquelas palavras, e quase o cuspiu, completamente surpresa.

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