Cecília estava novamente sentada à sua mesa próximo à porta do escritório de Léon. Desde a noite em que eles haviam conversado, surpreendentemente Léon estava sendo mais "pacífico" com Cecília, essa mudança à olhos desatentos poderia passar despercebida, mas para a própria Cecília nem tanto. Cecília estava lendo um contrato quando ouviu o som de passos de saltos altos se aproximando, ao olhar para cima, viu uma mulher jovem de estatura média, cabelos longos castanhos escuros, e vestido longo verde musgo, ela tinha uma expressão serena, Cecília quase sentiu que já havia visto seu rosto anteriormente.
- Pois não, senhora? Acredito que esteja perdida - Somente ao ouvir Cecília falando que a mulher olhou para ela, e então deu um pequeno sorriso. - A-Ah não, não, não estou perdida. - Desculpe senhora, mas esse andar é proibido para.. - Esse aqui é o andar da sala do Léon? - Cecília franziu levemente sua testa e assentiu. Ninguém nunca se referia à ele com tanta..Intimidade. - Ah, então estou no lugar certo. Que falta de educação a minha! Me chamo Lillian Rutherford, sou a irmã mais nova do Léon - Lilian à interrompeu dizendo, seu tom de voz era suave e cativante, quase como se cantasse. Cecília ficou levemente perdida, mas antes que respondesse qualquer coisa, Lilieen apertou a mão dela, balançando em cumprimento- É um prazer te conhecer. E você, quem é? - Me chamo Cecília, sou a secretaria do Senhor Rutherford. - Ah, é você a secretária de quem o Léon estava falando tanto..É um prazer te conhecer. O Léon está na sala dele? - Cecília assentiu, e antes que pudesse dizer qualquer coisa, Lilian já havia entrado na sala de Léon e fechado a porta. Dentro da sala, Léon estava, como sempre, sentado à sua mesa, em meio a um amontoado de papeladas e seu computador. - Oi Léonzinho - Lilian disse, logo Léon levantou-se com um pequeno sorriso em seus lábios e Lilian foi em sua direção o abraçando. - Lilian, não sabia que voltaria tão cedo do exterior. - Não queria ficar tanto tempo assim fora, Don também estava com saudades de casa, mas, mudando de assunto..A secretaria?! Léon ela é linda! - Léon riu e passou a mão pelo próprio rosto. - E louca. - Respondeu Léon. Léon se desvencilhou de Lilian, voltando a se sentar à sua mesa e Lilíeen se sentou na cadeira à sua frente. - Detalhes a parte. Vai, me diz como você está?..E o papai? Tem falado com ele? - Não por vontade minha - Respondeu Léon, friamente. Lilian suspirou. - Não entendo o porquê de vocês dois brigarem tanto como se fossem gato e rato, vocês são pai e filho, Léon. Vocês dois deveriam tornar a convivência entre vocês fácil! - Léon revirou os olhos, em reprovação a cada vírgula da fala de sua irmã. - Lilian você não entende, e acredito que nunca irá entender. Não sou eu que torno a convivência difícil, ele torna a minha vida difícil, a existência dele é difícil, Lilian - Lilian suspirou frustrada e cruzou seus braços. - Diga ao menos que vai ao evento da segunda feira, é na semana que vêm, Léon. - E passar horas ouvindo o seu pai reclamar sobre como eu deveria estar conhecendo a pretendente que ele tem em mente pra um casamento arranjado e frustrado? Não, obrigada. Prefiro passar a madrugada trabalhando. - Léon! Ele é seu pai também! - Não, Lilian. Ele é um estranho para mim, ele é o seu pai. Não meu. - Léon por favor, faça um esforço para ir..Por mim! Eu prometo que converso com o papai para que ele não fique discutindo com você..Eu sinto falta da nossa família reunida, poxa..Nós nem nos vemos direito, você está sempre se recusando a estar no mesmo ambiente que o papai! - E eu tenho meus motivos para isso, Lilian. Já chega! - Léon respondeu em seu tom autoritário, e firme. Lilian se assustou, recuando levemente. Ao perceber sua reação, Léon suspirou frustrado e baixou sua cabeça, levantando seus olhos em seguida. - Me perdoe, Lilian, eu não quis.. E-Eu estou cansado, tudo bem?! Seja só um pouco mais compreensiva comigo.. - Você diz que ele é apenas um estranho pra você, mas a cada dia você fica mais parecido com ele, Léon - Aquelas palavras atingiram Léon, Léon se calou. As palavras o paralisaram, roubando-lhe a voz. Léon sabia que Lilian era sensível, e recuava quando se sentia em perigo com qualquer coisa. Léon não conseguiu responder algo, e Lilian se levantou em silêncio e saiu apressada da sala de Léon, deixando a porta aberta, aquela saída apressada atraiu a atenção de Cecília do lado de fora, que franziu a testa levemente confusa ao ver Lilian sair apressada e com o semblante entristecido. Cecília olhou a hora no monitor ao seu lado. 17:30 em ponto. Já não estava mais em seu horário de trabalho a uma hora. "Acho que a curiosidade pode não matar o gato dessa vez", pensou Cecília, enquanto se levantava e ia até a sala de Léon. Cecília deu dois leves toques na porta, o som fez Léon olhar em sua direção, curioso e levemente confuso por ver Cecília alí. - O gato bateu no rato hoje? - Já estamos fora do seu horário de trabalho, por acaso? - Para o seu azar, sim. Que infelicidade a sua - Cecília disse com um leve tom irônico e fechou a porta, indo em direção ao sofá de couro logo em seguida e se sentando. - Você sabe que ainda está na minha empresa, eu ainda posso demitir você. - É, eu sei, mas eu sei que você não vai fazer essa peripécia, como eu te disse da última vez, fui a única assistente que conseguiu ficar - Léon riu levemente, Cecília não conseguiu deixar de notar que Léon tinha um certo destaque em olheiras que pareciam mais profundas naquele momento - Eu não imaginava que você tinha uma irmã. Ela é adotada? - Léon arregalou os olhos, e não conseguiu segurar a surpresa ao ouvir aquela pergunta. - O que?! Não, Cecília. Por quê você imaginaria uma coisa dessas?! - Vocês dois são bem..Opostos. Digamos. Impossível de acreditar que vocês dois são irmãos. - Ah..Por isso. É, eu já ouvi esse tipo de comentário outras vezes. Talvez seja pela diferença de idade entre nós, sou dez anos mais velho do que ela. E ela é mais..Energética do que eu, digamos. - Ela parece gostar muito de você.. Que coisa estranha - Cecília disse com um tom irônico, claro. - Eu quase me senti ofendido, Cecília.. Quase. - Deveria levar como um elogio. Você pode ser odiado por muitos, mas se tem ao menos uma pessoa que ama você, significa que você é muito melhor do que qualquer um poderia perceber. Não acha? - Léon deu de ombros. - Nunca tive tempo para ter esse tipo de reflexão emocional. - Eu também não, Léon. Mas meu pai tinha.. Bastante - Pela primeira vez Cecília teve um semblante entristecido ao citar algo, e Léon não soube explicar a sí mesmo como aquilo fez Cecília parecer tão vulnerável, mas logo aquele semblante voltou a ser neutro. - Enfim..Preciso ir.. - Antes que Cecília se levantasse, Léon disse; - Você quer que eu leve você? Posso fazer duas ações de caridade esse ano. Ficarei mais próximo do céu, com certeza. - Cecília riu, pela primeira vez Léon pôde ver o sorriso em seus lábios. - Jesus colocou na bíblia que os ricos não entram no Reino dos céus, Léon. - Ainda bem que eu não acredito nessas coisas. Vamos? - Claro. Obrigado.