Giovanni

Secar o cabelo de alguém nunca pareceu algo digno da minha atenção. Mas ali estava eu, sentado na beirada da cama, com Aurora entre as pernas, enquanto segurava um secador de cabelo em uma mão e passava os dedos naquelas mechas rebeldes com a outra. A luz fraca do abajur jogava um brilho dourado no rosto dela, que parecia distraída com algo que não compartilhou comigo — provavelmente pensando na próxima ironia afiada que ia soltar.

— Fica quieta, senão vou queimar sua orelha — avisei com uma ameaça brincalhona.

— Você fala como se soubesse usar isso aí — ela rebateu, sorrindo de lado. — Aposto que a última vez que encostou num secador foi nos anos 2000.

— Em Vegas, eu era um homem independente. — Respondi, erguendo uma sobrancelha com pretensão. — E continuo sendo. Só que agora, aparentemente, virei também cabeleireiro nas horas vagas.

Ela riu, e o som foi suave, quente, como o próprio ar quente que saia do secador. De repente, tudo naquela cena me pareceu íntimo demais. Fami