Mundo de ficçãoIniciar sessãoOs dias seguintes em Montevino passaram com a suavidade de uma brisa de primavera. Victor acordava com o canto dos pássaros e o aroma do pão fresco vindo das padarias da praça central. Cada manhã parecia um convite para explorar algo novo. Caminhando pelos vinhedos, ele se surpreendia com a perfeição de cada linha de parreiras, o jeito como o sol acariciava as folhas e fazia as uvas brilharem como pequenas joias douradas.
Enquanto anotava observações em seu caderno, Victor pensava em como transformar aquele espaço em algo único. Não queria apenas uma vinícola; queria um lugar onde cada garrafa contasse uma história, onde quem bebesse sentisse a alma da Toscana, a força de Montevino e a reconstrução de sua própria vida. Cada detalhe era importante — desde a escolha do solo até o toque final no rótulo das garrafas.
Em uma manhã, conheceu Lucia, uma senhora que cuidava de um vinhedo centenário nas margens da cidade. Ela o recebeu com um sorriso acolhedor e uma chaleira fumegante de chá de ervas.
— “Você é novo aqui, não é?” — perguntou ela, enquanto oferecia a bebida.
Victor sorriu, sentindo que aquela frase carregava mais do que uma lição de vinicultura. Era também um conselho de vida. Ele se imaginou nos meses seguintes, caminhando por esses vinhedos, sentindo o crescimento das uvas, e, ao mesmo tempo, sentindo o próprio coração florescer novamente.
À tarde, retornou à cidade para fazer algumas compras e aproveitou para observar as pessoas com atenção. Havia uma calma contagiante ali — crianças brincando nas praças, idosos sentados nas portas conversando, cafés cheios de risadas e aromas de café fresco. Victor percebeu que Montevino não era apenas um lugar; era um refúgio, um espaço que permitia que cada pessoa respirasse profundamente e sentisse que a vida podia ser leve novamente.
Ao voltar à pousada, Victor encontrou seu caderno aberto e começou a esboçar o mapa da vinícola. Pensava na disposição das parreiras, nos caminhos de pedra que ligariam os galpões de produção às áreas de degustação, e em um pequeno jardim que queria cultivar próximo à entrada. Cada detalhe era pensado com amor e paciência. Ele sentiu uma pontada de alegria — nunca havia se sentido tão inspirado.
Mais tarde, decidiu ligar para Rodrigo para compartilhar suas primeiras impressões:
— “Rodrigo, estou começando a colocar tudo no papel. Cada detalhe importa. Acho que encontrei o lugar perfeito para a vinícola.”
Rodrigo suspirou do outro lado da linha, claramente tocado pelo entusiasmo do amigo.
— “Você realmente está diferente… mais leve. Estou feliz por você, de verdade. Só não se esqueça de descansar também.”
Naquela noite, enquanto o céu estrelado se abria acima de Montevino, Victor se sentou à beira de uma pequena colina e olhou para os vinhedos iluminados pela lua. Cada sombra, cada detalhe do terreno parecia contar uma história. Ele fechou os olhos e lembrou-se de Olivia, de Antony e de tudo que deixou para trás. Não sentiu amargura, apenas compreensão e um fio de gratidão: pela dor que o ensinou a ser mais forte, pelo passado que o impulsionou a buscar algo maior.
Enquanto rabiscava ideias para os nomes das primeiras linhas de vinho, sentiu um toque de excitação: não era apenas o início de uma vinícola, mas o início de uma nova vida. Cada ideia era uma promessa para si mesmo, uma semente que ele plantava no coração da Toscana.
No dia seguinte, Victor encontrou Matteo, um jovem produtor de vinho que trabalhava na região há anos e conhecia todos os cantos das vinhas. Matteo era comunicativo e apaixonado pelo que fazia.
— “Se você realmente quer criar algo com alma, vai precisar entender cada detalhe, não apenas plantar uvas. A terra fala com quem quer ouvir.” — disse Matteo, guiando Victor por um vinhedo recém-reformado.
Enquanto caminhavam, Matteo contou histórias de gerações que cultivaram vinhas ali, de festas de colheita e de momentos de celebração que marcaram a vida da cidade. Victor ouvia fascinado, percebendo que não estava apenas aprendendo sobre vinhos, mas absorvendo cultura, tradição e emoção.
Ao final da tarde, retornou à cidade, sentindo-se mais conectado do que nunca. Pensou em como seria abrir a vinícola de verdade, em como receber visitantes, em como cada garrafa contaria não apenas sua história, mas a história de Montevino, da Toscana e de sua própria jornada de reconstrução.
E, enquanto o vento soprava pelas colinas, trazendo o aroma doce das uvas maduras e das flores silvestres, Victor sorriu. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu o coração leve e cheio de esperança. Ele sabia que o caminho ainda seria longo, mas também sabia que estava exatamente onde precisava estar — no início de algo novo, algo que floresceria com ele, e ao lado dele.







