Mundo de ficçãoIniciar sessãoO amanhecer em Montevino tinha um encanto especial. A neblina suave sobre as colinas se dissipava lentamente, revelando vinhedos que pareciam estender-se até o horizonte. Victor acordou cedo, sentindo o ar fresco da Toscana invadir seu quarto na pousada. Um aroma de pão recém-assado chegava pelas janelas abertas, misturando-se ao perfume doce das videiras e flores silvestres. Pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu uma tranquilidade que não precisava ser buscada — apenas estava ali, natural, envolvente.
Depois de um café simples, mas saboroso, Victor decidiu caminhar até o vinhedo que mais lhe havia chamado atenção nos dias anteriores. O caminho serpenteava entre colinas suaves, ladeadas por ciprestes que pareciam tocar o céu. Cada passo era acompanhado pelo canto dos pássaros e pelo leve sussurrar do vento entre as folhas. Ele respirava fundo, sentindo-se parte daquelas terras, como se a Toscana o aceitasse de braços abertos.
Enquanto examinava as parreiras, rabiscando anotações em seu caderno, ouviu uma voz feminina atrás dele.
— “Você está verificando as uvas ou apenas admirando a paisagem?”
Victor se virou e encontrou uma mulher de cabelos castanhos claros, presos em um coque despretensioso, com olhos que refletiam a luz do sol como pequenos lagos. Havia algo em seu sorriso que transmitia segurança, delicadeza e curiosidade ao mesmo tempo.
— “Ambos”, respondeu Victor, tentando não soar nervoso. — “Sou Victor. Estou pensando em abrir uma vinícola aqui.”
Ela sorriu mais amplamente, aproximando-se.
— “Isabella. Trabalho aqui com a família há anos. Conheço cada vinhedo, cada segredo do solo.”
Victor sentiu um leve choque interno — havia algo em Isabella que parecia familiar e ao mesmo tempo misterioso. Ela exalava confiança, mas também uma ternura que fazia seu coração bater mais rápido.
— “Então você sabe exatamente do que estou falando”, disse ele, mostrando o caderno cheio de anotações e rabiscos.
O calor do sol aumentava, mas Victor mal percebeu. Cada palavra dela carregava um significado maior do que apenas explicações técnicas. Era quase como se Isabella tivesse percebido algo dentro dele que nem ele mesmo conhecia.
Durante horas, caminharam juntos pelos vinhedos. Ela lhe mostrou o solo mais fértil, explicou como algumas parreiras precisavam de cuidado extra, e como cada detalhe influenciava o sabor do vinho. Victor ouvia atentamente, absorvendo cada palavra como se fosse ouro líquido, enquanto um sentimento inesperado começava a se formar dentro dele — uma mistura de admiração, respeito e curiosidade.
Mais tarde, sentaram-se sob a sombra de um velho carvalho, e Victor abriu seu caderno novamente.
— “Sabe, estou tentando criar algo mais do que vinho. Quero que cada garrafa conte uma história, que seja um pedaço de Montevino em cada gole.”
Aquelas palavras ficaram ecoando na mente de Victor enquanto caminhava de volta à cidade. Ele se pegou sorrindo sozinho, lembrando de cada gesto, cada olhar de Isabella. Pela primeira vez, o coração dele sentiu uma leveza diferente — não era apenas a empolgação com a vinícola, mas algo mais profundo, uma sensação de que algo novo e belo estava prestes a começar.
Nos dias seguintes, Victor passou a se encontrar frequentemente com Isabella. Ela lhe apresentou moradores da cidade, pequenos produtores, e compartilhava histórias da região que ele não encontraria em livros. Victor percebeu que, enquanto aprendia sobre vinhos, também estava aprendendo sobre a vida, sobre as pessoas, e até sobre si mesmo.
Em uma tarde de sol intenso, enquanto eles caminhavam por um vinhedo em colina, Victor decidiu abrir seu coração de forma contida.
— “Sabe, Isabella… nunca pensei que fosse encontrar algo assim. Não apenas um lugar, mas… a sensação de que estou realmente começando de novo.”
Ela olhou para ele, séria, mas com um sorriso suave nos lábios.
— “O começo nem sempre é fácil. Mas quando sentimos que estamos no lugar certo, tudo parece fazer sentido.”
Victor sorriu, sentindo um calor suave no peito. Por um momento, ficaram em silêncio, apenas observando o vento dançar entre as folhas e as uvas. Ele percebeu que aquela conexão, ainda que sutil, era diferente de tudo que já experimentara.
Naquela noite, ao voltar à pousada, Victor ligou para Sofia e Gabriel para compartilhar suas primeiras experiências e os detalhes da amizade com Isabella — sem perceber que seu tom já carregava uma pontada de emoção que ia além da vinícola.
— “Vocês não vão acreditar”, disse ele, rindo. — “Conheci alguém incrível aqui… trabalha com os vinhedos, conhece cada detalhe da região. Ela me ajudou a entender melhor Montevino.”
Sofia soltou uma risada travessa do outro lado da linha.
— “Victor, estou adorando isso! Parece que além de vinho, você encontrou inspiração em outro lugar.”
Gabriel, mais contido, apenas respondeu:
— “Aproveite esse tempo, irmão. Montevino parece estar fazendo bem a você.”
Victor desligou, olhando pela janela da pousada para os vinhedos iluminados pela lua. Sentiu uma mistura de ansiedade e expectativa, como se cada dia ali pudesse trazer uma nova descoberta, um novo aprendizado e, talvez, um novo amor.
Enquanto rabiscava novas ideias para a vinícola, sorriu para si mesmo. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu que estava pronto para construir algo maior do que ele mesmo — e que, quem sabe, essa construção não incluiria apenas o sonho da vinícola, mas também a possibilidade de um coração que voltava a se abrir.
O vento da Toscana soprava suave, trazendo consigo promessas de dias iluminados, de conquistas e de encontros que mudariam a vida dele para sempre. E Victor sabia, sem precisar pensar demais, que Montevino seria o lugar onde tudo começaria a florescer — a vinícola, a vida e, talvez, o amor.







