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O Projeto de um Recomeço

Victor passou os primeiros dias em Montevino explorando cada canto da cidade e da região ao redor, sentindo-se como alguém que finalmente respirava ar puro depois de meses sufocantes. As ruas de pedra da cidade velha eram estreitas e sinuosas, ladeadas por casas antigas cujas fachadas se abriam para janelas floridas, repletas de gerânios vermelhos e flores perfumadas que dançavam ao vento. O aroma do pão recém-assado que saía das pequenas padarias misturava-se ao perfume doce das vinhas e ao cheiro terroso das colinas que se estendiam ao redor, e cada respiração parecia limpar a poeira do passado que ele carregava no peito.

Durante o dia, Victor caminhava por entre vinhedos antigos, muitos deles com mais de cem anos, conversando com pequenos produtores locais que compartilhavam histórias de família, técnicas tradicionais e segredos que apenas o tempo podia ensinar. Ele ouvia atentamente, anotando tudo em um caderno de couro que levava consigo, enquanto o sol dourava as colinas e lançava sombras suaves sobre as videiras, criando um quadro de cores que mudava a cada hora. O verde profundo das folhas se misturava ao dourado da luz, e Victor sentia-se imerso numa pintura viva, uma mistura perfeita de natureza e história.

À noite, após caminhar pela praça central e observar as luzes das pequenas casas se acenderem como pequenas lanternas, ele ligou para Rodrigo. O som da voz do amigo trouxe uma sensação de conforto, ainda que misturada à ansiedade do que estava por vir.

— “Então, já se decidiu? Vai mesmo abrir uma vinícola?” — perguntou Rodrigo, com aquela mistura de surpresa e preocupação que sempre lhe era característica.

Victor sorriu, segurando uma taça de vinho local que tinha comprado em uma pequena loja da cidade, e sentiu o líquido vermelho refletir a luz das velas da trattoria.

— “Mais do que isso, Rodrigo. Quero criar algo com minha identidade. Não só produzir vinho, mas contar uma história em cada garrafa. Que cada gole faça quem beber sentir Montevino, sentir o que é transformar a terra em sonho.”

Houve uma pausa do outro lado da linha, e então Rodrigo riu, nervoso.

— “Você é sonhador mesmo… e isso me assusta.”

— “Dessa vez, o sonho vai virar raiz. Estou procurando um terreno bom para começar. Encontrei um espaço que pode ser perfeito, cercado de parreiras centenárias. Posso sentir que é aqui que quero que a vinícola exista, que a vida floresça de novo.”

No dia seguinte, enquanto caminhava pelas ruas estreitas e escorregadias de Montevino, Victor ligou para sua irmã Sofia. Ela atendeu com uma energia que sempre o lembrava da vivacidade da família.

— “Mano! Você sumiu. Onde está?”

— “Na Itália, Sofia. Montevino. Decidi abrir uma vinícola.”

— “Claro que você faria algo assim. Eu sabia que você não conseguiria viver sem um novo desafio. E quanto à empresa em Madri?”

— “Vocês e a mamãe vão cuidar dela com Rodrigo. Aliás, ele ainda não sabe que você voltou.”

Sofia riu, travessa, e o som da risada dela trouxe calor ao coração dele, como se lembrasse das tardes em que eram crianças, correndo pelos corredores da antiga casa da família.

— “Ah, adoro segredos. Deixe-me contar?”

— “Não, quero ver a cara dele quando souber.”

Depois, Victor fez questão de ligar para Gabriel, seu irmão mais velho e sempre protetor. A voz de Gabriel carregava uma mistura de surpresa, preocupação e orgulho.

— “Victor, você sumiu! A mamãe falou, mas eu não acreditei. Está mesmo na Itália?”

— “Estou. Preciso desse tempo… e preciso que você cuide da empresa comigo de longe. A mamãe já falou que vai assumir.”

— “Você pode confiar em nós. Reconstrua-se, irmão. Aqui estamos, mesmo à distância.”

Cada ligação fortalecia Victor, lembrando-o de que não precisava carregar o mundo sozinho. Sentia-se apoiado, mesmo distante da família, e cada conversa reforçava a certeza de que estava no caminho certo.

Mais tarde, naquela mesma noite, Victor voltou a falar com Rodrigo, que claramente carregava muitas perguntas e uma ponta de ansiedade na voz.

— “Quero que saiba que não está sozinho na empresa. Minha família vai estar ao seu lado. A mamãe, Gabriel e… Sofia.”

Houve um silêncio do outro lado da linha.

— “Sofia?” — Rodrigo parecia surpreso. — “Ela voltou?”

— “Sim, voltou para ficar. Ela mesma vai te contar os detalhes.”

Rodrigo pigarreou, ainda surpreso.

— “Não esperava por isso… fazia anos que não a via.”

Victor riu, lembrando-se de todas as pequenas travessuras de Sofia quando crianças e de como ela sempre conseguia trazer leveza às situações mais tensas.

— “Sua voz entrega mais do que você imagina, Rodrigo. Mas isso é assunto para outro dia. Agora quero falar sobre a vinícola.”

Enquanto caminhava sob o céu estrelado da Toscana, Victor rabiscava no caderno possíveis nomes para sua marca. Cada nome carregava memórias, sonhos e desejos, refletindo seu anseio de criar algo que fosse mais do que vinho — algo que contasse uma história, sua história. O coração ainda ferido começava a se encher de entusiasmo, e cada palavra escrita parecia plantar uma semente de esperança.

Nos dias seguintes, Victor dedicou-se a explorar os vinhedos, observando os detalhes de cada parreira, o modo como o solo era cuidado, a forma como o sol aquecia as folhas, e como a brisa trazia vida às uvas maduras. Ele conversava com os produtores, aprendendo sobre técnicas de poda, fermentação e envelhecimento, absorvendo cada detalhe como se estivesse bebendo conhecimento líquido. Cada história compartilhada, cada conselho dado, parecia transformar-se em tijolos para a construção da sua própria vinícola.

Em uma manhã particularmente dourada, enquanto caminhava por uma estrada ladeada por ciprestes que pareciam apontar para o céu, Victor parou para admirar o horizonte. O sol refletia nas colinas como ouro líquido, e ele sentiu uma onda de emoção percorrer seu corpo. Pensou em Madri, em Olivia e Antony, e em como cada dor do passado agora servia de impulso para construir algo maior. As lembranças vinham com suavidade, quase como se a Toscana estivesse dizendo: “Transforme a dor em beleza, transforme o passado em arte.”

À tarde, encontrou um pequeno produtor chamado Marco, um homem de sorriso fácil e mãos calejadas pelo trabalho duro. Marco mostrou-lhe vinhedos que, segundo ele, eram perfeitos para quem queria criar vinhos com alma. Victor anotava tudo, sentindo que cada detalhe era crucial para sua visão.

— “Você quer que o vinho conte uma história, não é?” — disse Marco, olhando-o com curiosidade.

— “Exatamente. Quero que cada garrafa carregue Montevino, que cada gole faça quem beber sentir que está aqui, entre essas colinas e esse céu.”

O homem sorriu, impressionado com a paixão dele.

— “Então você é do tipo que acredita na magia da terra… Vai precisar de paciência, mas também vai encontrar beleza em cada passo.”

Victor assentiu, sentindo que finalmente encontrara um lugar onde poderia colocar seu coração e suas ideias em prática.

À noite, sentado em um pequeno café na praça, ele olhava para o céu estrelado, rabiscando novos nomes para a vinícola. Sentia-se leve, mas profundamente conectado com a terra, com a história da região e consigo mesmo. Cada estrela parecia sussurrar promessas de dias melhores, e ele percebeu que, embora estivesse sozinho fisicamente, nunca estivera tão acompanhado por amor, esperança e propósito.

E assim, entre caminhadas pelos vinhedos, conversas com moradores, ligações familiares e longas reflexões sob o céu da Toscana, Victor começou a reconstruir não apenas sua vida, mas também sua alma. Cada passo, cada palavra escrita no caderno, cada sorriso recebido da cidade, parecia plantar raízes profundas em seu coração, mostrando-lhe que a vida sempre oferece novas oportunidades para florescer, mesmo após tempestades.

Ele sabia que o caminho seria longo e cheio de desafios, mas sentia, pela primeira vez em muito tempo, que estava exatamente onde deveria estar. E enquanto o vento da Toscana soprava suavemente através das videiras, ele murmurou para si mesmo:

— “Um novo projeto, uma nova vida. Aqui eu vou florescer. Aqui, finalmente, encontrarei o meu lugar no mundo.”

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