Eu sorri de forma involuntária, não tinha certeza do motivo, mas logo desfiz o sorriso e olhei para baixo. Talvez, se eu evitasse contato visual, seria tudo mais fácil. A verdade era que o que me assustava nele não era algum tipo de sentimento repentino à primeira vista, mas a possibilidade da existência de um. Ele parecia alguém fácil de ser amado, e isso era perigoso, principalmente porque pessoas assim tinham vantagem quando queriam mentir. O tipo de pessoa que eu buscava evitar.
— Por favor, sente-se. - Ele disse me convidando e sinalizando em direção a cadeira em frente a sua mesa.
— Obrigada. - Eu acenei com a cabeça e me sentei.
— Fico feliz que tenha aceitado o convite. - Ele se sentou à minha frente em sua cadeira de longo espaldar e se reclinou.
— Eu… - Hesitei por um momento e então continuei. — Na verdade, queria agradecer por não ter comentado nada com o Dr. Rafael.
— Não havia nada para comentar. - Ele disse acenando com a cabeça. — Você precisou sair por conta de uma emergência. Acontece. Sua mãe está bem?
Emergência… É, eu ainda teria que inventar uma história melhor.
— Está sim. - Falei sabendo que era melhor ir direto ao ponto. — Dr. William, eu-
— William. - Ele me interrompeu. — Pode me chamar só de William.
— Ah… Perdão, eu não me sinto confortável assim. - Disse tentando ser educada. — Dr William, por que o senhor insistiu em mim? Eu deixei bem claro que o senhor deveria procurar outros candidatos.
Ele correu os olhos pela mesa como se estivesse pensando na melhor forma de responder, eu aguardei em silêncio me perguntando se ele tinha ficado constrangido por eu não ter atendido ao seu pedido de tratamento informal. Eventualmente, ele teria que se acostumar a não conseguir tudo que queria.
— Bom… - Ele disse dando um suspiro. — Na verdade, é que eu já decidi contratar você. O contrato já está até redigido. - Ele pegou uma pasta que estava a sua frente e empurrou na minha direção.
— Como é? - Perguntei surpresa pegando a pasta e abrindo ainda incrédula. Dentro havia um contrato já completo com meus dados preenchidos, até a assinatura dele estava lá. Só faltava a minha.
— Veja bem, Helena, eu sou um homem ocupado e exigente, procurei por vários locais, tive vários candidatos e candidatas diferentes, e posso dizer com toda certeza: você é a que mais se encaixa no que eu procuro. - Ele se inclinou apoiando os cotovelos na mesa e continuou. — Acho que seria benéfico para nós dois se você aceitasse. Você é exatamente o que eu preciso.
Eu tirei os olhos do contrato e os ergui olhando para ele. Talvez eu estivesse imaginando coisas, mas podia jurar que aquilo foi um flerte, a escolha de palavras foi bem tendenciosa para um homem cuja vida gira em torno de manipular palavras. Haviam duas opções ali: ou ele realmente estava interessado em mim profissionalmente, ou havia algum motivo pessoal. Seja qual fosse a opção, ele claramente não sabia ouvir “não”, ou simplesmente não queria ouvir. Fechei a pasta com o contrato e coloquei sobre a mesa. No entanto, antes que eu pudesse dizer algo, ele falou:
— Não me entenda mal, Helena, se você não quiser, eu entendo. Você não é obrigada a aceitar, e se não o fizer, não guardarei rancor algum. Mas eu gostaria que desse uma chance. Por isso, se você olhar a página 3 do contrato, verá que há uma cláusula diferente dos contratos de contratação comum.
Eu abri a pasta novamente e fui direto para a página três. Estava escrito
“Durante os primeiros 03 (três) primeiros meses de vigência deste contrato, o EMPREGADO poderá, a seu exclusivo critério, rescindir o presente vínculo empregatício a qualquer momento, sem necessidade de cumprimento de aviso prévio e sem aplicação de qualquer penalidade. Ficam assegurados ao EMPREGADO todos os direitos trabalhistas adquiridos até a data da rescisão, incluindo o pagamento proporcional de salários, férias acrescidas de 1/3 constitucional, 13º salário e depósitos de FGTS correspondentes.”
Eu abri a boca meio sem acreditar no que lia e perguntei:
— Você está… você está me dando um período de experiência onde quem está sendo testado é… você?
— Basicamente. - Ele respondeu dando de ombros. — Além disso, vou falar com o Dr. Rafael e, caso você não se adapte, poderá retornar para o escritório dele.
— Mas quem vai ficar com ele durante esse tempo? - Perguntei curiosa.
— Uma das nossas. Não se preocupe, Está tudo certo, só precisa dar o sinal positivo.
Aquela era uma oportunidade de ouro, eu não tinha nada a perder, na verdade, tinha somente a ganhar. Mesmo que eu decidisse não continuar ali, sairia de lá com um bom dinheiro durante aquele tempo. Certo, três meses. Apenas três meses. Pensei. Se eu não começasse a sentir algo por ele dentro de três meses, continuaria. Caso contrário, voltaria ao meu antigo emprego com uma desculpa qualquer e fingiria que aquilo nunca tinha acontecido. As paredes continuariam de pé, eu continuaria protegida e minha carreira também.
— Ok, aceito. - Disse sorrindo e pegando uma caneta. - Mas não sei se sou tudo isso que você pensa.
— Você é sim. - Ele respondeu rindo. — Eu sei que é.
Eu o olhei rapidamente e assinei. Decidimos dar continuidade com a papelada naquele mesmo dia. Passei no escritório de Rafael e contei o que tinha acontecido. Luísa ficou extremamente animada com a notícia, mas disse que sentiria minha falta. Era recíproco, eu realmente sentiria a falta dela. Rafael me deu os parabéns e disse que já sabia de tudo, William já tinha deixado claro para ele que queria me contratar. A transição durou cerca de dois dias, foi tudo muito rápido, aparentemente já estava tudo engatilhado. Quando chegou o dia de começar, cheguei mais cedo, passei na recepção e recebi meu crachá. William não havia chegado ainda, aparentemente ele chegava mais tarde, como de costume com CEOs. Ajeitei minha mesa, ficava do lado de fora do escritório de William, era bem espaçosa e me permitia observar a entrada do elevador, assim ficava ciente de quem chegava e saía. Naquele andar havia somente a sala dele e de seu Co-CEO, Fábio Cossé, o “C” da BC Advocacia. Em breve eu conheceria a ele e a sua secretária,
Aproveitei o tempo e atualizei tudo na minha agenda haviam me enviado os arquivos de William. Rolei a tela do tablet verificando os nomes dos clientes e reuniões marcadas para aquele dia. Sentei-me em minha mesa que ficava próximo ao escritório dele e acessei o e-mail empresarial. Com toda certeza ele era bom no meio tributário, haviam até donos de grandes empresas querendo se consultar com ele. Foi exatamente por isso que achei estranho quando vi um nome familiar e repulsivo na lista. “H. Consultorias”, a nova empresa de Henry.