Clara jamais foi mulher de se deixar levar por desconfianças tolas. Mas havia algo naquele homem que incomodava mais do que deveria.
Nos últimos dias, ele se tornara uma figura constante no parque. Sempre discreto, sempre gentil. Nunca ousava se aproximar demais, nunca ultrapassava a linha invisível de confiança que ela tanto zelava. E isso, curiosamente, fazia com que ele fosse ainda mais notado.
Naquela tarde, Clara percebeu algo que até então havia passado despercebido. Gabriel escorregava alegremente pelo brinquedo de madeira quando Lorenzo sorriu. Um sorriso simples, quase tímido. Mas havia ali um detalhe sutil, uma curva exata nos lábios, um brilho nos olhos... E por um segundo, ela viu o mesmo sorriso em Gabriel.
O pensamento a atravessou como um raio seco: não pode ser...
Mas e se for?
Ficou observando com mais atenção. Os gestos de Lorenzo eram curiosamente familiares. O modo como ele se abaixou para pegar um brinquedo que Gabriel deixara cair... a forma como falou com o meni