Mundo de ficçãoIniciar sessãoEla acreditou que o casamento seria seu porto seguro. Encontrou apenas indiferença, desprezo e cicatrizes que a alma jamais apagou. Grávida de gêmeos, assinou sozinha os papéis da separação e partiu sem olhar para trás. Sete anos depois, Lianna Aslan retorna. Não é mais a mulher frágil que implorava por amor, agora é uma das cirurgiãs mais respeitadas do mundo, uma mãe que aprendeu a erguer-se sozinha. Mas o destino não conhece misericórdia. Zayden Cross, o ex-marido arrogante que nunca aceitou perdê-la, reaparece em sua vida. Ele jamais assinou o divórcio, convencido de que ela voltaria. E agora, ele retorna com um pedido desesperado que apenas Lianna pode atender: “Por favor… salve ela.” E a paciente é justamente sua amante, a meia-irmã de Lianna… Entre segredos enterrados, orgulho ferido e um passado que insiste em sangrar, Lianna precisará escolher: salvar o homem que a quebrou em pedaços… ou assistir à sua queda de joelhos.
Ler maisPOV Lianna Aslan
Passei três anos dando tudo de mim para conquistar o coração de Zayden, mas o que chegou antes do amor dele, foi um acidente de carro.
Um segundo antes, eu ainda acreditava que poderia salvar o resto daquela noite. O jantar de aniversário do nosso terceiro ano de casamento, que ele esqueceu, a mesa posta com carinho, o vinho esperando no balde de gelo. As velas queimavam sozinhas sobre a mesa enquanto o relógio avançava, implacável.
Eu liguei. Mais de uma vez.
Nenhuma resposta. A cada chamada ignorada, o nó no meu peito apertava mais. A cabeça girava com todas as possibilidades: o trabalho, uma reunião, ou…O silêncio dele gritava mais alto que qualquer resposta. E, movida por um desespero que eu mesma não reconhecia, peguei as chaves e saí.
Minhas mãos tremiam no volante, o coração batia descompassado. As mensagens não entregavam, o telefone seguia mudo. “Por favor, só me atende”, sussurrei, a voz presa entre soluços e o barulho da chuva fina que começava a cair.
E então, um farol atravessou meu campo de visão. Um clarão. Um som metálico rasgando o ar.
O mundo virou de cabeça pra baixo antes que eu pudesse reagir. O vidro explodiu, o corpo foi lançado contra o volante, e o gosto amargo de ferro inundou minha boca.
O impacto me jogou para frente, o ar escapou dos pulmões num gemido fraco.
Tudo rodava. Luzes piscavam.
O som distante de sirenes veio depois, como um eco do fim. Eu tentei manter os olhos abertos, mas o peso do corpo venceu.
E antes que a escuridão me engolisse, a última imagem que vi foi o reflexo quebrado de mim mesma no vidro, uma mulher tentando consertar o que já estava em ruínas.
— Senhora! — uma voz distante ecoou, abafada pelo som do sangue latejando. — Consegue me ouvir?
Sim. Consegui. Mas a única pergunta que atravessou minha mente foi: onde ele está?
***
O cheiro de antisséptico me acordou. As paredes brancas, o bip do monitor cardíaco, o peso da gaze presa à minha perna.
Estava em... um hospital.
Meu corpo inteiro latejava, mas a dor mais profunda não vinha do machucado, era do vazio ao lado da cama. Nenhum buquê, nenhum bilhete, nenhum rosto conhecido.
Pisquei devagar, tentando entender quanto tempo havia passado. Na cabeceira, uma enfermeira sorria com profissionalismo treinado.
— Bem-vinda de volta, senhora Aslan. O acidente não foi grave. Um corte superficial e um leve trauma na perna, mas você vai se recuperar rápido.
Assenti, com a voz embargada.
— Alguém… veio me ver?
Ela hesitou.
— Já avisamos o seu marido. Ele atendeu, mas… ainda não chegou.
O nome ficou preso na garganta. Zayden. Ele sabia. E mesmo assim, ele não veio.
Horas se passaram, e o relógio da parede marcava quase meia-noite. O silêncio do quarto era opressor, quebrado apenas pelo som monótono das máquinas.
Peguei o celular na mesinha, a tela fria refletindo meu rosto pálido. Nenhuma ligação, nenhuma mensagem.
O coração apertou, uma pontada de desespero tentando atravessar o orgulho. Digitei seu número. Esperei o primeiro toque. O segundo. O terceiro. A caixa postal.
Desliguei antes de ouvir a voz dele.
A enfermeira voltou, segurando uma prancheta.
— Senhora Aslan, o obstetra pediu para conversar com você.
— Obstetra? — repeti, confusa. — Por quê?
Ela apenas sorriu, como se carregasse um segredo gentil.
— Porque o exame de rotina que fizemos deu positivo.
— Positivo…?
— Parabéns, senhora. Você está grávida.
O chão se abriu. Por alguns segundos, o mundo inteiro girou mais uma vez.
Grávida.
A palavra pesou no ar, densa, absurda. Um bebê. Ou melhor, dois, porque o médico logo explicou que eram gêmeos... dois coraçõezinhos batendo dentro de mim enquanto o homem que os colocou ali estava… em algum lugar, menos ao meu lado.
***
Na manhã seguinte, recebi alta.
O sol atravessava as janelas do hospital, e o ar parecia mais leve do que eu merecia.
Caminhei mancando até a recepção com uma muleta improvisada e a pasta de exames apertada contra o peito.
Peguei o celular. Respirei fundo. Liguei para ele de novo.
Chamou uma vez. Duas. Três.
Até que ouvi.
O som do toque. Atrás de mim.
Meu corpo inteiro congelou. O coração disparou, como se quisesse avisar: não se vire.
Mas eu me virei.
E lá estava ele.
Zayden. O homem que eu esperei a noite inteira, o homem que prometeu cuidar de mim em “todos os dias bons e ruins”. O homem que devia estar ali por mim.
Mas ele não estava sozinho. Estava com Camille. Minha meia-irmã. Aquela que cresceu à sombra do ciúme, sempre olhando para tudo o que eu tinha e agora tinha o que restava de mim. Ela estava nos braços dele.
Zayden inclinava-se sobre ela, a mão firme em sua cintura, os lábios colados aos dela num beijo lento, íntimo. Um beijo que eu conhecia bem demais.
O celular quase escorregou da minha mão. O som do toque ainda ecoava, cruel, repetindo a cena como uma trilha sonora macabra da minha humilhação.
Camille riu contra os lábios dele, um som leve, doce, ensaiado. O tipo de riso que eu costumava dar quando ainda acreditava que Zayden era meu porto seguro.
Ao ver aquela cena íntima, senti uma fraqueza em todo o meu corpo e desabei no chão.
Os ferimentos causados pelo acidente doíam intensamente. Parecia que cada ferida estava sendo aberta, rasgando minha pele. Mas apesar de toda dor, nenhuma delas se compara à que eu sentia no coração, ao ver o meu marido com outra. Com minha irmã.
POV ADRIANQuando o número dela apareceu no meu telefone, eu soube.— Adrian… — a voz dela veio firme demais. — Eu fui suspensa. De verdade. O mundo ficou em silêncio.Não aquele silêncio calmo. O silêncio de quem está prestes a quebrar alguma coisa.— Onde você está? — perguntei, já pegando as chaves.— No carro. Já peguei as minhas coisas.— Me espera aí. Não sai daí! ***O hospital parecia diferente quando cheguei.Mais frio. Mais falso. Como se as paredes soubessem que tinham acabado de cuspir uma das melhores médicas que já passaram por ali.Vi Lianna no estacionamento, sentada no banco do motorista, imóvel. Os ombros rígidos. O olhar perdido no nada.Bati no vidro. Ela levou um susto leve e destravou a porta.— Entra. — murmurou.Entrei e fechei a porta com cuidado demais para alguém que queria socar o mundo.— O que aconteceu? — perguntei.Ela contou. Tudo.A reunião.Zayden.A denúncia anônima.A suspensão “preventiva”.Viviane.Enquanto ela falava, algo em mim se reorganiza
POV LIANNADeixar as crianças na escola nunca foi tão difícil.Não porque elas choraram, elas estavam animadas, falando da aula de artes, da história que a professora prometeu contar, do lanche novo. Difícil foi não contar nada.Difícil foi sorrir sabendo que, naquele mesmo prédio onde eu salvei tantas vidas, alguém tinha decidido me colocar no banco dos réus.— Mamãe, você volta cedo hoje? — Selina perguntou, prendendo meu casaco antes de correr para o portão.Eu me abaixei à altura dela.— Vou tentar, meu amor.Era meia verdade. E as meias verdades estavam se acumulando na minha garganta.Selin me abraçou rápido, do jeito desajeitado dele.— O tio Adrian vai buscar a gente?— Vai sim.Isso pareceu acalmá-los. E me quebrou um pouco mais.Entrei no carro e fiquei alguns segundos parada, as mãos no volante, respirando fundo. Adrian tinha se oferecido para ir comigo. Eu disse não. Precisava atravessar aquilo sozinha. Se eu caísse… precisava saber que ainda sabia levantar.O hospital sur
POV LIANNAEu não chorei quando saí do hospital. Isso foi o mais estranho.Não chorei no corredor longo demais. Não chorei no elevador espelhado que me devolveu um rosto profissional demais para alguém que acabara de ser arrancada do próprio chão. Não chorei nem quando entreguei meu crachá provisoriamente, como se aquilo fosse só um detalhe burocrático.Chorar exigia energia. E tudo em mim estava… oco.Adrian dirigia em silêncio. Um silêncio tenso, respeitoso, perigoso. A mão dele apertava o volante com força demais. Eu via. Ele queria falar. Queria explodir. Queria resolver.Mas eu precisava de silêncio para não desmontar.Quando o portão da casa se abriu, a vida... cruelmente, continuava.As crianças riam.Selina corria pelo jardim com o vestido ainda sujo de tinta guache. Selin tentava equilibrar uma bola grande demais para o corpo pequeno. A babá ria com eles, completamente alheia ao fato de que o mundo adulto tinha acabado de desmoronar dentro de mim.Eles estavam bem. Eles estav
POV LIANNA Eu fiquei alguns minutos parada, encarando a porta fechada como se ela pudesse se abrir sozinha outra vez.Não abriu.Mas a presença dele ficou.Essas coisas não vão embora fácil.Bebi o café já frio, sem sentir o gosto, e forcei meu corpo a voltar ao modo automático. Jaleco. Crachá. Postura. A médica respeitada. A mulher que ninguém imagina que treme por dentro.O hospital acordava aos poucos. Passos apressados. Conversas baixas. O mundo seguindo, indiferente ao fato de que o meu tinha acabado de rachar mais uma vez.— Lianna?A voz de Adrian veio do corredor antes mesmo que eu o visse. Grave. Segura. Familiar demais para alguém que eu ainda dizia a mim mesma que não estava “acelerando as coisas”.Levantei os olhos.Ele estava parado a alguns passos da porta da minha sala, ainda de roupa civil, o cabelo levemente bagunçado, expressão atenta demais para ser casual.— Você não respondeu minhas mensagens. — disse, entrando com cuidado. — Fiquei preocupado.Claro que ficou. A
POV LIANNAA emergência não avisa. Ela simplesmente acontece.O chamado veio seco, urgente, atravessando o corredor como um disparo:— Sala vermelha agora! Acidente grave, múltiplas vítimas!Eu já estava de pé antes mesmo de desligarem o comunicador.O relatório veio picotado enquanto eu caminhava rápido:— Assistente de trânsito… falha grave na sinalização… colisão em cadeia… três vítimas em estado crítico… uma politraumatizada… hemorragia interna suspeita…Meu cérebro entrou no modo automático. O mundo afinou. Tudo ficou mais nítido, mais rápido, mais frio.Portas se abriram. Luvas. Máscara. Touca.— Quem é a mais instável? — perguntei, já lavando as mãos.— Mulher, cerca de trinta e cinco anos. Pressão despencando. Abdome rígido. Pupilas reativas, mas confusas.— Sala um. Agora.A maca entrou quase voando.O cheiro de sangue fresco misturado ao de asfalto e metal queimado tomou o ambiente. A paciente gemia baixo, olhos arregalados, tentando entender por que o mundo tinha virado de
POV LIANNAAcordar ao lado dele foi… perigoso.Não no sentido físico. No sentido emocional mesmo. Aquele tipo de perigo silencioso, que não grita, não ameaça... apenas fica ali, confortável demais, certo demais, insinuando que talvez aquilo pudesse virar rotina. E eu não estava pronta para rotina nenhuma que envolvesse sentimentos ainda em carne viva.Abri os olhos devagar.A luz da manhã entrava filtrada pela cortina clara do quarto de hóspedes... meu quarto, agora e o corpo de Adrian estava próximo o suficiente para que eu sentisse o calor dele sem tocá-lo. Ele dormia de lado, virado para mim, uma das mãos relaxada perto do meu travesseiro, como se tivesse parado ali por instinto durante a madrugada.Fiquei observando por alguns segundos. O peito subindo e descendo. O rosto sereno. A barba por fazer. O homem que, em poucos dias, tinha virado abrigo, caos e tentação.Respirei fundo.Era hora de levantar.Quando tentei sair da cama sem acordá-lo, ele se mexeu.— Fugindo? — a voz saiu





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