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Capítulo 2 — "Você é uma fera, e eu adoro isso."

Pov Lianna Aslan

O som do celular ainda vibrava na minha mente, insistente, como se zombasse da minha ingenuidade.

Zayden soltou o braço dela por um instante, enfiou a mão no bolso e, sem olhar a tela, desligou a chamada. Friamente. Como quem desliga um incômodo.

Meu coração se partiu um pouco mais naquele gesto simples.

Ele sabia que era eu.

Sabia.

Camille passou a mão pelo braço dele, teatralmente, inclinando-se para dizer algo. Eu estava perto o suficiente para ouvir, embora desejasse não estar.

— Você precisa relaxar, amor. Foi só um corte. — A voz dela era mansa, quase infantil.

— Eu não devia ter me empolgado tanto ontem — ele respondeu, tenso, mas ainda assim doce. — Foi demais… acho que acabei me empolgando.

“Ontem.”

A palavra ecoou como um soco no peito. Ontem eu sofri um acidente e ele não veio me ver. Ontem era nosso aniversário de casamento e ele não apareceu. Agora entendi... ele estava com ela o tempo todo.

Camille riu, aquele riso abafado que eu conhecia desde criança, cheio de veneno e prazer.

— Empolgado? — ela provocou, mordendo o lábio inferior. — Quase me deixou sem andar, Zayden.

Meu estômago revirou.

Um som rouco escapou da minha garganta, mas eles não perceberam.

Ela se inclinou mais, apoiando a cabeça no ombro dele, como se precisasse de amparo.

— Você é uma fera, e eu adoro isso.

— Camille, aqui não. — Ele olhou em volta, tentando parecer contido, mas o sorriso no canto da boca o traía. — Estamos num hospital.

— Então por que me trouxe? — ela perguntou, brincando com o colar dele.

— Porque você se machucou, e eu não quis que ficasse uma marca. — Ele passou o polegar no queixo dela, carinhoso, possessivo. — Eu cuido do que é meu.

Do que é meu.

A frase me atravessou forte.

O homem que eu amava, o mesmo que me pediu pra largar a medicina porque “não precisava provar nada pra ninguém”, o mesmo que me jurou amor eterno... agora era o amante da minha irmã.

A minha irmã!!! Porra, eu não mereço isso.

E aqui estou, de pé, com o exame de ultrassom tremendo nas mãos, o coração fragmentado e duas vidas pulsando dentro de mim.

Zayden passou o braço em volta dela e a conduziu até a recepção, onde uma enfermeira perguntou algo. Ele respondeu, sereno, como se tudo fosse banal. Como se eu nunca tivesse existido.

Senti as pernas fraquejarem. Me apoiei na parede fria e respirei fundo. A náusea subiu, queimando.

Não chora, Lianna. Não aqui.

Peguei minha bolsa com dedos trêmulos e comecei a andar, devagar, tentando não chamar atenção.

Mas cada passo era uma implosão silenciosa.

A voz dele me alcançou de novo, cortando o ar.

— Vou te levar pra casa. Depois quero que descanse.

Casa. A mesma palavra que ele usava comigo, o mesmo tom protetor. Só que agora ela era o “amor”. E eu era o erro.

Meu corpo inteiro doía. A cicatriz recente no joelho latejava, mas o que me despedaçava era invisível.

Quando passei pela saída do hospital, o vento frio da madrugada bateu no meu rosto, misturando lágrimas e chuva. Segurei o envelope dos exames com tanta força que o papel amassou.

Abri, só pra confirmar o que eu já sabia: “Gestação gemelar – seis semanas”.

Dois corações. Dois milagres. Filhos de um homem que acabava de escolher outra mulher.

Olhei o nome no topo do laudo: Lianna Aslan Cross. E percebi que, naquele instante, aquele sobrenome já não me pertencia.

Pensei em voltar, em jogar o exame na cara dele, gritar que ele era pai, que eu o amava, que ainda havia tempo de consertar tudo. Mas não. Alguma coisa dentro de mim, talvez o amor-próprio que ele tentou apagar, me impediu.

A imagem dele beijando Camille se repetia como um filme antigo queimando no projetor. A voz dela, suave, falsa, ecoava dentro da minha cabeça: Você é uma fera.

Eu ri. Um riso rouco, amargo, que me escapou sem controle. Porque era isso, não era? Ele era uma fera. E eu, a idiota que acreditou poder domar o monstro.

Respirei fundo. Uma, duas, três vezes. O cheiro do hospital ficou para trás, e o gosto do adeus se instalou na língua.

“Você está grávida.” “Você é uma fera.” As duas frases se misturavam na minha mente como cicatrizes sobrepostas.

Quando o táxi parou diante de mim, entrei sem olhar pra trás.

— Pra onde, senhora? — o motorista perguntou.

Olhei pela janela, para o letreiro iluminado do hospital. Atrás do vidro, a silhueta dele ainda estava lá, cuidando dela. Camille. A mulher que roubou tudo.

— Para casa do Zayden Cross. — murmurei. — Pai dos meus filhos.

Mostrei o meu celular com o endereço.

O motorista viu o endereço imediatamente,  uma área nobre, com mansões cercadas por jardins impecáveis ​​e visíveis elétricas.

— Deve ser bom viver em uma família rica, né? — comentou ele, dando uma risadinha enquanto ligava o motor. — Aposto que vocês têm tudo o que querem.

O carro arrancou, o ronco do motor abafando o choro que finalmente explodiu de mim. 

Eu me encolhi no banco de trás, o mundo lá fora passando em borrões, enquanto o peso da traição e da perda me esmagava. 

Como explicar que aquela “família rica” era justamente o que estava me destruindo?

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