O apartamento estava mergulhado em silêncio quando o sol se pôs atrás dos prédios de concreto. Paloma não acendeu as luzes de imediato. Permaneceu sentada no sofá estreito, o rosto apoiado entre as mãos, tentando organizar os próprios pensamentos.
Durante o dia, havia recebido a ligação dele. A mesma voz autoritária, segura, anunciando que não aceitaria que o filho nascesse em São Paulo. Tinha falado em voltar para Cabeceiras, em contratos, em arranjos que soavam mais como fusões empresariais do que como casamento. Paloma desligara o telefone tremendo de raiva, jurando que não cederia jamais.
Mas agora, sozinha, sem emprego, sem dinheiro, sem apoio além das promessas da tia… a dúvida corroía. O bebê era real, e dependia dela.
Um bater firme à porta a fez pular. O coração disparou. Ela não precisava adivinhar quem era.
Por um segundo, pensou em fingir que não estava. Mas os passos pesados no corredor, a autoridade quase palpável do toque, denunciavam que César Monteiro não sairia dali