A fronteira ficou para trás, mas o mundo diante de nós não parecia uma continuação.
Era outro lugar, outro tempo, talvez outra vida.
O ar tinha cheiro de chuva que ainda não caiu e terra que nunca foi tocada.
A luz não vinha do sol, e mesmo assim tudo brilhava, suave, pálido, como se o próprio ar fosse feito de prata dissolvida.
Caminhávamos em silêncio.
As pegadas que deixávamos se apagavam assim que o vento passava.
Nenhum som de pássaro, nenhum inseto.
Somente o farfalhar distante de folhas que não se moviam.
O vale dos espíritos não era vivo, mas também não era morto.
Era um entre.
Um espaço de lembranças que não conseguiram se desfazer.
A loba dentro de mim andava alerta.
O corpo dela em minha mente estava inteiro, os pelos ouriçados, os olhos brilhando num tom prateado quase branco.
Não tema, filha da lua. Eles estão vindo.
— Quem? — perguntei em voz baixa.
Danilo olhou para mim, sem entender.
— O que foi?
— Eles.
— Não vejo nada.
— Ainda não.
A névoa começou a se erguer ao redo