A noite se abriu diante de nós como uma garganta escura.
O vento cortava a pele, úmido, impregnado de fumaça e de um cheiro que eu aprendi a temer desde criança: prata.
A prata tem um som próprio, um assobio frio que entra pelo ouvido e desce até os ossos.
E agora eu o ouvia por todos os lados.
Corremos.
Não como humanos, não como lobos por inteiro.
Corremos como quem carrega um mundo nas costas e, ainda assim, recusa-se a soltá-lo.
A floresta se movia em manchas.
Galhos, sombras, olhos.
O chão parecia ceder e se reafirmar a cada passo, e o ar vinha em golpes, em punhos, como se a própria noite tentasse nos deter.
Atrás, os uivos cresceram, escalonados, marcando distância e direção.
Havia muitos.
Alguns eram nossos, outros não.
E, misturados a eles, o estalo seco de armas, o silvo das flechas, o estilhaço de prata batendo em pedra.
Danilo ia à frente, o corpo ferido desenhando uma linha de fogo que eu podia ver mesmo no escuro.
A energia que saía dele tinha gosto de brasa, de ferro qu