O vale dos espíritos ficou para trás, mas o ar ainda tremia, como se o mundo não tivesse decidido se deveríamos continuar existindo.
Atravessamos a planície silenciosa, e a névoa prateada foi cedendo lugar a uma claridade quente, estranha, viva demais.
O calor não vinha do sol.
Vinha do chão.
O primeiro estalo fez o coração gelar.
Era o som de rocha rachando, de raízes queimando por dentro.
A terra sob nossos pés se moveu, e o ar ganhou cheiro de enxofre e sangue.
Danilo puxou-me pelo pulso.
— Recuar. Agora.
Mas não havia mais volta.
O solo se abriu diante de nós, rasgando-se como ferida antiga.
Das fendas, saiu fumaça negra, e algo se ergueu.
Algo que não tinha forma certa, sombra e carne, fogo e vazio.
Um corpo feito de todas as coisas que a lua esqueceu e o fogo nunca quis purificar.
A loba dentro de mim uivou.
Não é fera. É castigo.
A criatura tinha olhos de carvão e dentes longos demais para caberem na boca.
Seu rugido era mistura de vento e grito humano, e a vibração