Capítulo 79

O vale dos espíritos ficou para trás, mas o ar ainda tremia, como se o mundo não tivesse decidido se deveríamos continuar existindo.

Atravessamos a planície silenciosa, e a névoa prateada foi cedendo lugar a uma claridade quente, estranha, viva demais.

O calor não vinha do sol.

Vinha do chão.

O primeiro estalo fez o coração gelar.

Era o som de rocha rachando, de raízes queimando por dentro.

A terra sob nossos pés se moveu, e o ar ganhou cheiro de enxofre e sangue.

Danilo puxou-me pelo pulso.

— Recuar. Agora.

Mas não havia mais volta.

O solo se abriu diante de nós, rasgando-se como ferida antiga.

Das fendas, saiu fumaça negra, e algo se ergueu.

Algo que não tinha forma certa, sombra e carne, fogo e vazio.

Um corpo feito de todas as coisas que a lua esqueceu e o fogo nunca quis purificar.

A loba dentro de mim uivou.

Não é fera. É castigo.

A criatura tinha olhos de carvão e dentes longos demais para caberem na boca.

Seu rugido era mistura de vento e grito humano, e a vibração
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