Capítulo 74

O frio era quase vivo ali embaixo.

Não o tipo de frio que faz o corpo tremer, mas aquele que penetra pelos ossos e se aloja no peito, onde o coração deveria bater em paz.

A masmorra ficava sob a antiga casa do conselho, construída há séculos, quando a guerra entre as matilhas ainda deixava rastros de sangue em cada parede.

As pedras estavam úmidas, cobertas de musgo. O ar tinha cheiro de ferro e solidão.

Desci as escadas em silêncio, o capuz cobrindo o rosto, as mãos escondidas dentro do manto.

Do lado de fora, ninguém sabia que eu havia saído.

A vigília trocava de turno antes do amanhecer, e aquele era o único momento em que a entrada ficava vulnerável.

Eu sabia o caminho porque a loba o mostrara em sonho e porque o coração me conduzia com precisão de bússola.

Cada passo ecoava baixo, como se a própria terra sussurrasse advertências.

Mas nada me faria voltar.

As tochas nas paredes tremulavam, e as sombras pareciam se mover por vontade própria.

No fundo do corredor, havia uma porta de
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