Quando a jovem bruxa Brianna Silver retorna à misteriosa cidade de Raventon, ela não imagina que o destino do mundo repousa sobre seus ombros. Assombrada pelo legado de sua linhagem e perseguida por uma fenda que ameaça engolir toda a realidade, Brianna se vê dividida entre dois amores impossíveis: Peter, o lobisomem marcado pela fúria e pela lealdade, e Klaus, o vampiro enigmático que guarda segredos sombrios. Juntos, eles enfrentarão criaturas ancestrais, traições inesperadas e o poder corrosivo do Vazio — uma força antiga e devoradora que busca romper as Linhas de Poder e mergulhar o mundo no caos eterno. Entre batalhas mágicas, alianças improváveis e desejos perigosos, Brianna precisará descobrir quem realmente é... e até onde está disposta a ir para salvar aqueles que ama. Em um universo onde o amor pode ser sua maior força — ou sua perdição — a maldição não é apenas mágica. Ela vive no coração de todos.
Ler maisA névoa em Raventon parecia viva naquela noite.
Era espessa, fria e pesada como os segredos que dormiam sob as pedras da cidade. Cada passo de Brianna Silver sobre o asfalto úmido soava como um feitiço antigo sendo sussurrado outra vez. Seus cabelos escuros estavam presos em uma trança bagunçada, e os olhos cinzentos examinavam cada detalhe ao redor com precisão quase felina. Ela não estava ali a passeio. Estava em busca de respostas. E vingança. A rua principal da cidade era silenciosa demais para uma sexta-feira. Aparentemente, os moradores aprendiam cedo a respeitar o cair da noite. Havia lendas — claro — sussurradas entre taças de vinho e lençóis quentes. Falam de lobos que andavam como homens. De olhos que brilhavam no escuro. De bocas que seduziam... e matavam. Brianna não se assustava com essas histórias. Ela era uma delas. Entrou na pensão onde havia reservado um quarto, recebendo da senhora idosa que a atendeu um olhar desconfiado. “Você devia saber que não é lugar pra moça bonita ficar sozinha”, disse, entregando a chave de ferro. “Não estou sozinha”, respondeu Brianna, com um meio sorriso. “Só estou... incompleta.” Subiu as escadas sem olhar para trás. Horas depois, na floresta do lado leste de Raventon... O vento rosnava entre os galhos. Era uma noite de lua crescente — a pior para quem precisava manter o controle. Peter Caravano sentia o cheiro antes mesmo de ver o vulto entre as árvores. Era um cheiro difícil de descrever — quente, picante, com algo de terra molhada e canela. Uma bruxa. E poderosa. Seu corpo inteiro entrou em alerta, como se a fera sob sua pele tivesse acordado com o desejo de correr... ou de caçar. Quando ela apareceu na clareira, seu coração quase falhou. — Está me seguindo? — perguntou Brianna, cruzando os braços. A voz era suave, mas cheia de espinhos. — Não. Mas talvez devesse. — A voz dele era rouca, profunda, o tipo que vibra nos ossos. — Você não pertence a essa floresta. — Nem você — ela rebateu, encarando-o de frente. — Mas ao menos eu não estou farejando ninguém. Peter sorriu, e naquele instante, ela viu. Os olhos dourados, o maxilar tenso, a forma como os dedos se curvavam como garras. Um lobo em pele humana. — Tem coragem, bruxinha — murmurou ele, se aproximando. — Tem ideia do que acontece quando subestimam uma Silver? — Ela girou o pulso, e uma faísca púrpura brilhou entre seus dedos. Peter parou. O ar ao redor dos dois pareceu ficar mais denso. Por um momento, o silêncio reinou, carregado de tensão e eletricidade. E algo mais. Desejo. Brianna sentiu. Um calor crescente subindo do ventre, não causado por magia. Peter também sentiu — a besta dentro dele ronronava. Mas nenhum dos dois avançou. Ainda não. Ela virou-se com um movimento fluido, deixando o cheiro de sua magia no ar. — Cuide para não se perder em mim, lobo. — E desapareceu entre os galhos. Peter ficou ali por um tempo, imóvel, lutando contra o instinto que gritava para segui-la. Havia algo nela... algo que o chamava. E que o assustava. Em outro ponto da cidade... Klaus Kemmerson observava da varanda do casarão de pedra. Tinha visto a chegada dela. Sentido a perturbação no tecido da noite. Brianna Silver. O nome vibrava em seus pensamentos como música negra. Ele sabia quem ela era. Ou achava que sabia. Um copo de cristal em mãos, vinho tinto que escondia o sangue que de fato saciava sua sede. Os olhos vermelhos analisavam cada gesto dela com precisão calculada. Ele já tivera bruxas antes. Já provara sua magia, sua carne, sua alma. Mas ela... Ela era diferente. E ele a teria. Custe o que custasse.O tempo, como o vento, não pode ser contido.Ele passa, sussurra, transforma — mas nunca apaga.Raventon, um dia marcada pela guerra e pelo luto, agora florescia em paz. As árvores que antes ardiam em chamas, hoje dançavam ao som do vento. Os rios corriam calmos, e a magia, antes tão tumultuada, fluía como um sussurro gentil entre as raízes e os céus.Na antiga torre dos Silver, transformada em lar, Peter, Klaus e Brianna permaneceram juntos. Contra todas as probabilidades, contra tudo o que o mundo dizia impossível, eles permaneceram — não como fragmentos de uma escolha, mas como uma unidade completa. Um triângulo eterno de amor, respeito e força compartilhada.Cada dia que passava sem o som dos gritos da guerra era um presente.E mesmo com a passagem dos anos, mesmo com a chegada de novas vidas e as marcas do tempo em suas peles, havia algo que nunca mudava: Lyara.Ela estava em tudo.Nas noites em que Brianna acendia as velas do altar e sentia um calor sutil no ar.Nos sonhos de Pe
O tempo seguiu seu curso silencioso, como as águas de um rio que já não teme a correnteza. Depois da travessia de Lyara, o mundo não voltou a ser o mesmo — e, de certa forma, isso era uma bênção.As linhas mágicas se mantiveram vivas e harmoniosas, como se a presença dela tivesse curado cada rachadura. A paz reinou não por imposição, mas por escolha. E a cada ciclo da lua, as sementes de esperança plantadas com sangue e coragem floresciam um pouco mais.Brianna, Peter e Klaus permaneceram juntos, unidos por algo que nem o tempo nem a dor puderam apagar. A antiga torre dos Silver se tornara lar, santuário e escola. Crianças órfãs, jovens sensíveis à magia, viajantes e até velhos guerreiros encontravam ali abrigo, ensinamentos e descanso.Foi então, alguns anos depois da despedida de Lyara, que a vida se curvou diante deles mais uma vez — oferecendo não um milagre, mas dois.O primeiro veio de Klaus.O menino nasceu numa noite silenciosa, envolto em uma névoa suave que cobria o bosque
O tempo, como sempre, seguia seu fluxo calmo e irreversível em Raventon. Desde a reconstrução, os anos haviam passado como brisas mansas, e a vila florescera com a presença constante de magia equilibrada. Era uma paz que nunca se imaginou possível no passado. Um mundo onde as crianças corriam entre os campos, as árvores floresciam em estações irregulares, e as estrelas brilhavam mais forte do que nunca.No coração disso tudo estava Lyara.As linhas de energia da terra pulsavam diferente, como se tivessem sido realinhadas por algo maior, mais antigo e ao mesmo tempo recém-nascido. Etheris não era uma entidade como as que haviam enfrentado. Não era um inimigo, nem uma força que exigisse destruição. Era um convite. Um chamado.Lyara, aos doze anos, parecia mais calma do que se esperava de uma criança diante de tal responsabilidade. Mas havia nela uma maturidade que ninguém ousava questionar. Seus olhos, ainda mutáveis como a luz, refletiam um conhecimento que ultrapassava as eras.— Eu p
O sexto inverno chegou e partiu com uma docilidade inesperada. O sétimo trouxe neve apenas nos picos mais distantes. O oitavo veio com flores antecipadas, como se o tempo estivesse desacelerando para não assustar o equilíbrio que Raventon alcançara.Lyara crescia como uma extensão viva da própria terra. Agora com oito anos, suas palavras carregavam uma sabedoria ancestral, e seu silêncio, por vezes, fazia até os mais velhos reverenciarem-na como se estivessem diante de algo sagrado. Ela já lia os grimórios da biblioteca dos Silver com fluência, conjurava pequenas auras curativas com as mãos e era capaz de atravessar a floresta sem que um único galho roçasse sua pele.Peter permanecia como seu porto seguro. Toda manhã, antes mesmo que o sol surgisse, ele já preparava a caminhada matinal com ela. Caçavam juntos — não por necessidade, mas por conexão. Peter lhe ensinava a ouvir o coração da terra, a rastrear com o olfato e a se guiar pela lua. Havia nele uma serenidade que antes não exis
Cinco invernos haviam passado desde que Lyara nasceu.O tempo, antes fragmentado por batalhas, perdas e escuridão, agora corria com uma cadência serena, quase sagrada. Raventon deixara de ser apenas uma cidade reconstruída — tornara-se um refúgio de equilíbrio. E, em seu centro, pulsava a luz viva que era Lyara Silver Caravano Kemmerson.Ela agora corria pelos campos como um raio de vento encantado, com cabelos longos que mudavam de tonalidade conforme as estações, e olhos que pareciam guardar as histórias de todas as eras. Seu sorriso era constante, espontâneo, e fazia florescer pequenas margaridas onde seus pés descalços tocavam a terra. Não havia malícia em sua alma, nem dúvida em sua presença. Apenas uma força silenciosa, porém inabalável.Peter demorara a aceitar que o mundo, talvez, não representasse mais um risco iminente à filha. Por anos, seu instinto lupino permanecera alerta, mesmo diante da calmaria. Cada sombra, cada ruído distante, ainda o fazia virar os olhos em alerta.
O tempo não voltara a ser o mesmo desde o nascimento de Lyara. Na verdade, ele parecia agora dançar em torno dela, adaptando-se ao ritmo dos seus risos, das suas lágrimas e dos seus olhares que pareciam enxergar além do que qualquer adulto poderia compreender. Meses haviam passado desde o primeiro choro, mas era difícil determinar quantos exatamente. A menina crescia como uma nascente mágica — fluida, veloz, incontrolável.Ela já se sentava sozinha, observando o mundo ao redor com olhos que mudavam de tonalidade conforme o ambiente: ora dourados como o sol da alvorada, ora azul-acinzentados como o céu de tempestade. Seus cabelos, finos e sedosos, haviam adquirido uma coloração quase prateada sob a luz da lua, e brilhavam em reflexos dourados quando banhados pelo sol. Seu sorriso, contudo, era o que mais desarmava todos. Havia nele uma pureza tão antiga que até os mais endurecidos sentiam-se tocados no âmago.Na torre dos Silver, agora sede de estudos, curas e encontros mágicos, Lyara
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