Quando a jovem bruxa Brianna Silver retorna à misteriosa cidade de Raventon, ela não imagina que o destino do mundo repousa sobre seus ombros. Assombrada pelo legado de sua linhagem e perseguida por uma fenda que ameaça engolir toda a realidade, Brianna se vê dividida entre dois amores impossíveis: Peter, o lobisomem marcado pela fúria e pela lealdade, e Klaus, o vampiro enigmático que guarda segredos sombrios. Juntos, eles enfrentarão criaturas ancestrais, traições inesperadas e o poder corrosivo do Vazio — uma força antiga e devoradora que busca romper as Linhas de Poder e mergulhar o mundo no caos eterno. Entre batalhas mágicas, alianças improváveis e desejos perigosos, Brianna precisará descobrir quem realmente é... e até onde está disposta a ir para salvar aqueles que ama. Em um universo onde o amor pode ser sua maior força — ou sua perdição — a maldição não é apenas mágica. Ela vive no coração de todos.
Leer másO tempo, como o vento, não pode ser contido.Ele passa, sussurra, transforma — mas nunca apaga.Raventon, um dia marcada pela guerra e pelo luto, agora florescia em paz. As árvores que antes ardiam em chamas, hoje dançavam ao som do vento. Os rios corriam calmos, e a magia, antes tão tumultuada, fluía como um sussurro gentil entre as raízes e os céus.Na antiga torre dos Silver, transformada em lar, Peter, Klaus e Brianna permaneceram juntos. Contra todas as probabilidades, contra tudo o que o mundo dizia impossível, eles permaneceram — não como fragmentos de uma escolha, mas como uma unidade completa. Um triângulo eterno de amor, respeito e força compartilhada.Cada dia que passava sem o som dos gritos da guerra era um presente.E mesmo com a passagem dos anos, mesmo com a chegada de novas vidas e as marcas do tempo em suas peles, havia algo que nunca mudava: Lyara.Ela estava em tudo.Nas noites em que Brianna acendia as velas do altar e sentia um calor sutil no ar.Nos sonhos de Pe
O tempo seguiu seu curso silencioso, como as águas de um rio que já não teme a correnteza. Depois da travessia de Lyara, o mundo não voltou a ser o mesmo — e, de certa forma, isso era uma bênção.As linhas mágicas se mantiveram vivas e harmoniosas, como se a presença dela tivesse curado cada rachadura. A paz reinou não por imposição, mas por escolha. E a cada ciclo da lua, as sementes de esperança plantadas com sangue e coragem floresciam um pouco mais.Brianna, Peter e Klaus permaneceram juntos, unidos por algo que nem o tempo nem a dor puderam apagar. A antiga torre dos Silver se tornara lar, santuário e escola. Crianças órfãs, jovens sensíveis à magia, viajantes e até velhos guerreiros encontravam ali abrigo, ensinamentos e descanso.Foi então, alguns anos depois da despedida de Lyara, que a vida se curvou diante deles mais uma vez — oferecendo não um milagre, mas dois.O primeiro veio de Klaus.O menino nasceu numa noite silenciosa, envolto em uma névoa suave que cobria o bosque
O tempo, como sempre, seguia seu fluxo calmo e irreversível em Raventon. Desde a reconstrução, os anos haviam passado como brisas mansas, e a vila florescera com a presença constante de magia equilibrada. Era uma paz que nunca se imaginou possível no passado. Um mundo onde as crianças corriam entre os campos, as árvores floresciam em estações irregulares, e as estrelas brilhavam mais forte do que nunca.No coração disso tudo estava Lyara.As linhas de energia da terra pulsavam diferente, como se tivessem sido realinhadas por algo maior, mais antigo e ao mesmo tempo recém-nascido. Etheris não era uma entidade como as que haviam enfrentado. Não era um inimigo, nem uma força que exigisse destruição. Era um convite. Um chamado.Lyara, aos doze anos, parecia mais calma do que se esperava de uma criança diante de tal responsabilidade. Mas havia nela uma maturidade que ninguém ousava questionar. Seus olhos, ainda mutáveis como a luz, refletiam um conhecimento que ultrapassava as eras.— Eu p
O sexto inverno chegou e partiu com uma docilidade inesperada. O sétimo trouxe neve apenas nos picos mais distantes. O oitavo veio com flores antecipadas, como se o tempo estivesse desacelerando para não assustar o equilíbrio que Raventon alcançara.Lyara crescia como uma extensão viva da própria terra. Agora com oito anos, suas palavras carregavam uma sabedoria ancestral, e seu silêncio, por vezes, fazia até os mais velhos reverenciarem-na como se estivessem diante de algo sagrado. Ela já lia os grimórios da biblioteca dos Silver com fluência, conjurava pequenas auras curativas com as mãos e era capaz de atravessar a floresta sem que um único galho roçasse sua pele.Peter permanecia como seu porto seguro. Toda manhã, antes mesmo que o sol surgisse, ele já preparava a caminhada matinal com ela. Caçavam juntos — não por necessidade, mas por conexão. Peter lhe ensinava a ouvir o coração da terra, a rastrear com o olfato e a se guiar pela lua. Havia nele uma serenidade que antes não exis
Cinco invernos haviam passado desde que Lyara nasceu.O tempo, antes fragmentado por batalhas, perdas e escuridão, agora corria com uma cadência serena, quase sagrada. Raventon deixara de ser apenas uma cidade reconstruída — tornara-se um refúgio de equilíbrio. E, em seu centro, pulsava a luz viva que era Lyara Silver Caravano Kemmerson.Ela agora corria pelos campos como um raio de vento encantado, com cabelos longos que mudavam de tonalidade conforme as estações, e olhos que pareciam guardar as histórias de todas as eras. Seu sorriso era constante, espontâneo, e fazia florescer pequenas margaridas onde seus pés descalços tocavam a terra. Não havia malícia em sua alma, nem dúvida em sua presença. Apenas uma força silenciosa, porém inabalável.Peter demorara a aceitar que o mundo, talvez, não representasse mais um risco iminente à filha. Por anos, seu instinto lupino permanecera alerta, mesmo diante da calmaria. Cada sombra, cada ruído distante, ainda o fazia virar os olhos em alerta.
O tempo não voltara a ser o mesmo desde o nascimento de Lyara. Na verdade, ele parecia agora dançar em torno dela, adaptando-se ao ritmo dos seus risos, das suas lágrimas e dos seus olhares que pareciam enxergar além do que qualquer adulto poderia compreender. Meses haviam passado desde o primeiro choro, mas era difícil determinar quantos exatamente. A menina crescia como uma nascente mágica — fluida, veloz, incontrolável.Ela já se sentava sozinha, observando o mundo ao redor com olhos que mudavam de tonalidade conforme o ambiente: ora dourados como o sol da alvorada, ora azul-acinzentados como o céu de tempestade. Seus cabelos, finos e sedosos, haviam adquirido uma coloração quase prateada sob a luz da lua, e brilhavam em reflexos dourados quando banhados pelo sol. Seu sorriso, contudo, era o que mais desarmava todos. Havia nele uma pureza tão antiga que até os mais endurecidos sentiam-se tocados no âmago.Na torre dos Silver, agora sede de estudos, curas e encontros mágicos, Lyara
O primeiro dia completo com Lyara foi um amanhecer de milagres. Enquanto o sol ainda subia sobre os telhados de Raventon, uma brisa suave carregada de perfume de lavanda cruzava os campos, trazendo consigo uma sensação de paz que a vila não conhecia havia décadas. O nascimento da menina havia se tornado um símbolo. Não apenas de esperança, mas de cura.Na torre Silver, tudo começava a florescer novamente. Literalmente. As plantas que antes resistiam com dificuldade ao solo cansado cresceram vigorosas em apenas uma noite. As rosas negras, antes raras, multiplicaram-se em volta das colunas de pedra, enredando-se em harmonia com as folhas douradas das heras encantadas.Brianna acordou com os primeiros raios de sol atravessando os vitrais coloridos. Ao seu lado, Lyara dormia com uma expressão serena, os pequenos punhos cerrados contra o peito e um brilho difuso que parecia emanar de sua pele. Peter e Klaus revezavam-se em silêncio para cuidar das duas. Aquela nova rotina ainda era carrega
O sol ainda não havia rompido o véu das montanhas quando o primeiro choro de Lyara cessou. Na torre Silver, o tempo parecia suspenso. Brianna repousava envolta em mantas brancas, exausta, mas com um brilho incomum nos olhos. Peter e Klaus estavam ao seu lado — um de cada lado da cama, os dedos tocando suavemente a pele ainda quente da recém-nascida, como se temessem quebrar algo tão puro com um toque mais firme.Lyara dormia em paz sobre o colo da mãe, envolta por uma luz suave que parecia emanar da própria pele. Seus cabelos, tão claros que pareciam prata em brasa, espalhavam-se como raios de luar sobre o peito de Brianna. Mesmo adormecida, a aura mágica ao redor dela fazia os cristais da torre vibrarem com tons sutis, quase como um cântico.— Ela respira diferente — murmurou Klaus, a voz embargada. — Como se o ar estivesse obedecendo.— Não é só o ar — completou Peter, os olhos fixos nela. — A Terra pulsou com o nascimento. Você sentiu?Brianna assentiu lentamente. — Como um segundo
A chuva cessou ao cair da noite, deixando no ar um cheiro de terra molhada e flores que não haviam sido plantadas por mãos humanas. A torre dos Silver, iluminada por velas e cristais encantados, vibrava com uma energia que nenhum dos presentes ousava nomear. Era como se a própria terra prendesse o fôlego. Como se o mundo esperasse.Brianna acordou com a dor.Não era como nas histórias antigas, onde as contrações vinham em ondas suportáveis e espaçadas. A dela era uma chamada profunda, um chamado antigo que vinha do âmago da terra e que reverberava em seu ventre. A runa sob sua pele brilhava em dourado vivo, pulsando como um coração à parte.Ela gritou.Peter foi o primeiro a sentir. Do lado de fora, onde treinava com Thanar, caiu de joelhos, as mãos pressionando o peito. Klaus, dentro da torre, derrubou o livro que lia ao sentir o ar rarefeito, como se alguém tivesse sugado o oxigênio do cômodo. A luz tremeluziu. A torre inteira pareceu inclinar-se por um instante, como se se curvasse