A noite em Raventon tinha gosto de pecado.
Brianna andava lentamente pelas ruas estreitas, sentindo cada olhar que a cidade lhe lançava. As sombras pareciam cochichar ao seu redor, contando histórias que ela ainda não conhecia, mas que pulsavam em sua pele como se fossem parte de sua própria carne. Estava cansada da presença de Peter em seus pensamentos. Do toque dele, ainda marcado em sua pele. Do cheiro, do gosto, do controle... e da forma como ele a fazia querer ceder. Isso a irritava. E excitava. Uma combinação perigosa. Ela seguiu o chamado mágico que sentira desde que entrara na cidade. Não era um feitiço comum. Era mais antigo. Um encantamento ancestral que dançava entre as veias da cidade como veneno adormecido. E ele a guiou direto ao portão do casarão de pedra. A mansão Kemmerson. O portão rangeu ao abrir-se como se desse boas-vindas à visitante inesperada. O jardim era silencioso e belo, com flores que pareciam murchar e desabrochar à luz da lua. No topo da escadaria, ele já a esperava. Klaus. Vestia preto como a própria noite. Alto, esguio, belo de forma cruel. Seus cabelos escuros estavam perfeitamente penteados para trás, e os olhos, vermelhos como brasas adormecidas, a observavam com uma fome calma. — Senhorita Silver — disse ele, com um sorriso suave. — Que prazer, finalmente. Brianna manteve-se firme. — Eu não marquei encontro. — Não. Mas há muito tempo marcamos destino. Ela subiu os degraus sem desviar o olhar. Klaus estendeu a mão, como um cavalheiro de outro século. Ela hesitou... e aceitou. Ao toque, um arrepio percorreu sua espinha. A pele dele era fria, mas o toque... quente. Intenso. Carregado de promessas e ameaças. — Por que me observava? — ela perguntou, entrando no salão silencioso da mansão. — Porque você é fascinante. — Ele deu-lhe um copo de cristal. Vinho. Ou talvez não. — E porque seu sangue tem história... um gosto ancestral. Uma maldição que conheço muito bem. Ela estreitou os olhos. — O que sabe sobre a maldição Silver? — Tudo. — Klaus aproximou-se, tão perto que ela podia sentir seu hálito gelado em seu rosto. — Porque fui eu quem plantou a semente. Brianna o encarou, surpresa. Mas ele apenas sorriu, como quem acabara de revelar o segredo mais doce e mais cruel do mundo. — Está dizendo que você amaldiçoou minha linhagem? — Não exatamente. Foi... um acordo. Sua ancestral queria poder. Magia ilimitada. Eu lhe dei. Em troca, pedi algo simples: sangue da linhagem dela. Uma alma por geração. Até que o pacto fosse quebrado... ou pago com sangue puro. Ela engoliu em seco. O coração acelerado. Aquilo explicava tanto... e, ao mesmo tempo, era um soco no estômago. — E agora você quer a minha alma? — Não — ele respondeu, aproximando-se ainda mais. — Agora eu quero... você. O beijo veio como uma mordida. Rápido, impiedoso, ardente. Ele a empurrou contra a parede de pedra, a taça caindo no chão e se espatifando em pedaços. A boca dele encontrou a dela com fome, mas sem brutalidade. Era um beijo de controle. De domínio. De quem saboreia antes de morder. As mãos dele deslizavam por sua cintura, pelas curvas, por sua nuca. Um toque refinado, mas letal. E Brianna, por mais que quisesse odiá-lo, sentia o corpo reagir. O prazer era afiado, quase cruel. A excitação e o medo dançavam juntos. Ela empurrou-o com força, os olhos brilhando de magia. — Isso não vai acontecer de novo. Klaus lambeu os próprios lábios, ainda sentindo o gosto dela. — Mas vai. — A voz era pura sedução. — Porque parte de você já me pertence. E outra parte... já deseja isso. Ela girou nos calcanhares, deixando o salão com passos duros. Ele não a impediu. Apenas observou. No espelho antigo da parede, a imagem de Brianna refletia-se por um segundo com olhos vermelhos, não cinzentos. A herança do pacto estava ali. Dormindo... até agora. E Klaus sabia. A bruxa estava se transformando.