Brianna acordou com os primeiros raios de sol cortando as cortinas empoeiradas do quarto. A cidade parecia ainda dormir, mas ela já sentia a energia de Raventon pulsando sob sua pele, como se a terra respirasse — e cada respiração sussurrasse o nome dela.
Ela tomou banho lentamente, sentindo a água quente percorrer seu corpo marcado por runas antigas, tatuagens mágicas herdadas de sua linhagem. As marcas ardiam levemente, como se algo estivesse despertando ali, sob a pele. O contato com Peter na floresta havia acendido uma fagulha que ela não compreendia... e não queria admitir que desejava. Vestiu-se com uma blusa preta de tecido fino, uma saia longa com fenda e botas de couro. Deixou o cabelo solto, rebelde como sempre. Quando saiu da pensão, o sol mal tocava os telhados. Ela caminhou até o limite do centro, seguindo uma trilha de energia instintivamente, até encontrar o lugar. A velha livraria de Raventon. Era quase invisível, entre dois prédios abandonados. Uma placa enferrujada dizia “Livros & Relíquias”, e a porta de madeira parecia prestes a cair. Mas ao empurrá-la, um sininho tocou e a loja se revelou por dentro: vasta, escura, e infinitamente mais profunda do que o exterior sugeria. Magia de ilusão. Forte. — Sabia que viria aqui — disse uma voz grave. Ela virou-se devagar. Peter. Estava encostado numa estante, braços cruzados, camisa cinza justa ao corpo musculoso. Havia suor fresco em sua pele e cheiro de terra molhada no ar. Ele tinha corrido... ou se transformado recentemente. — Está me seguindo agora, de novo? — Brianna ergueu uma sobrancelha. — Estou cuidando para que você não se meta onde não deve. — Ele caminhou em sua direção, devagar, os passos firmes, os olhos intensos. — E quem decide onde eu devo estar, lobo? — A palavra foi lançada como uma provocação, com um sorrisinho nos lábios. Ele parou perto demais. Ela podia sentir o calor dele. E ele, a eletricidade dela. — Eu não gosto de bruxas em Raventon. Vocês sempre trazem tempestades. — A voz dele era rouca, baixa. — Talvez seja porque a cidade está podre por dentro e precisa ser lavada, já pensou nisso? Os olhos de Peter brilharam dourado por um segundo. A besta dentro dele respondia à ousadia dela com desejo e raiva em igual medida. — E você? — ele murmurou, mais próximo. — O que está buscando aqui? Ela o encarou por um longo momento antes de responder. — Sangue. Respostas. E talvez... — inclinou-se, a boca perigosamente perto da dele — fogo. Peter respirou fundo. Sua mão foi parar na cintura dela sem nem perceber. Os dedos fortes apertaram o tecido da saia como se sentissem a necessidade de marcá-la. Brianna não recuou. Pelo contrário, seu corpo se arqueou, aproximando os seios do peito dele. — Está brincando com fogo, bruxinha — ele sussurrou, a voz mais rouca do que antes. — Não costumo brincar. Eu... queimo. Ela o beijou. Não houve hesitação, nem doçura. O beijo foi como o primeiro trovão de uma tempestade: intenso, selvagem, feroz. A boca dele esmagou a dela com fome contida por tempo demais. Ela correspondeu, suas mãos subindo pela nuca dele, puxando os cabelos curtos. A língua dele invadiu sua boca como se estivesse marcando território. O corpo dele encostou no dela, e ela sentiu tudo — o calor, a dureza, o controle que ele mal conseguia manter. Ele a empurrou contra a estante, os livros tombando em volta como testemunhas mudas. As mãos de Peter apertavam sua cintura, sua coxa, e a boca dele desceu por seu pescoço até morder levemente a curva entre ombro e clavícula. Ela gemeu, sentindo a energia mágica pulsar entre eles, como uma explosão prestes a acontecer. E então ele parou. Ofegante, os olhos queimando âmbar, ele se afastou. — Isso não devia acontecer — disse, como se tentasse convencer a si mesmo. — Você está mexendo com forças que não entende. — E você está com medo? — Brianna ajeitou a saia, o olhar desafiador. O corpo dela ainda queimava, implorando por mais. Mas ela jamais imploraria. — Não de você — ele respondeu, virando-se de costas. — Mas do que vou fazer se continuar perto de mim. Sem olhar para trás, ele sumiu entre as sombras da livraria, deixando o ar denso de desejo, raiva e promessas não cumpridas. Brianna ficou ali por um instante, com os lábios ainda trêmulos e o corpo vibrando. Algo havia sido selado naquele beijo — uma conexão antiga, perigosa. Ela o sentia em sua pele como um feitiço. E sabia que aquilo era apenas o começo.