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Capítulo 5 – Entre o Lobo e o Vampiro

O sol nunca parecia nascer completamente em Raventon. As manhãs eram sempre cinzentas, cobertas por uma neblina espessa que tornava tudo mais lento, mais denso. Como se a cidade se recusasse a acordar de um sonho febril.

Brianna acordou sozinha.

A clareira estava silenciosa, com o chão ainda úmido da chuva. Havia marcas no tronco da árvore. Riscos de unhas. Impressões de corpos. Ela sorriu, quase envergonhada. Quase.

Mas o calor do momento já havia dado lugar ao frio da dúvida.

Peter a tomara com uma paixão violenta, mas fugira em silêncio antes do amanhecer. Sem uma palavra. Sem um toque. Como um lobo que caça e some entre as sombras.

Ela levantou-se, ajeitou as roupas e sussurrou um feitiço para limpar a sujeira visível — mas não havia encantamento no mundo capaz de apagar o que sentia por dentro.

Horas depois, ao cair da tarde, Brianna caminhava pelo centro da cidade. Os olhos de alguns moradores ainda a acompanhavam com desconfiança. Outros, com um interesse doentio.

Ela entrou na pequena loja de chá e ervas de Raventon — um dos poucos lugares em que podia respirar. O cheiro de lavanda, mirra e sálvia a reconectava com suas raízes. Estava distraída preparando uma infusão quando sentiu a presença.

Klaus.

Ele surgiu atrás dela como a própria sombra da noite.

— Vejo que teve uma noite... intensa.

Brianna não se virou.

— Está me seguindo agora?

— Não. Estou cuidando do que é meu. — Ele falou devagar, como se cada sílaba tivesse sido escolhida com precisão.

Ela girou o corpo, encarando-o.

— Eu não sou de ninguém.

Klaus sorriu.

— Ah, Brianna... você ainda acredita nisso?

Antes que pudesse responder, a porta da loja se abriu com força. O vento entrou como um aviso.

Peter.

Camisa escura, olhar feroz. O cheiro de terra e floresta ainda impregnado em sua pele. Quando viu Klaus tão próximo dela, os olhos dele brilharam em fúria. O lobo estava acordado. E faminto.

— Afaste-se dela — rosnou, cada palavra pesada como pedra.

Klaus nem piscou.

— Ah, o cão ciumento chegou. — Deu um passo em direção a Peter. — O que foi? Vai morder se eu encostar na sua cadelinha?

Brianna sentiu a tensão se espalhar como eletricidade. Tentou intervir:

— Os dois, parem. Agora.

Mas não adiantava.

Peter avançou. Klaus não recuou. Eles estavam frente a frente, dois predadores alfa prestes a se despedaçar.

— Ela não é brinquedo seu, vampiro — cuspiu Peter. — Eu sinto ela. Eu conheço cada parte dela.

— Você a possuiu com o corpo — respondeu Klaus, frio — mas fui eu quem invadiu a alma dela.

Peter rosnou e deu um soco. Rápido, brutal. Klaus desviou com elegância, mas o impacto do movimento derrubou frascos e estilhaçou vidro.

Brianna ergueu as mãos e gritou:

— Parietem Flamma!

Uma barreira de fogo surgiu entre eles, separando-os. O calor era real. O aviso, claro.

Ambos recuaram, ofegantes, mas ainda com os olhos queimando.

Ela caminhou até o centro da sala, os cabelos soltos e a aura tão poderosa quanto um furacão.

— Eu não sou prêmio de guerra entre vocês dois.

Silêncio.

— Se querem se matar, façam longe de mim. E longe desta cidade. — Sua voz era grave, firme, com a força de todas as bruxas que a antecederam.

Klaus foi o primeiro a falar, com a elegância de quem sabe que perdeu uma batalha, mas não a guerra.

— Raventon ainda não viu o pior, Brianna. E nem você.

Ele desapareceu na sombra, como fumaça sendo sugada pelo ar.

Peter ainda estava ali. Parado. Observando-a com uma mistura de raiva, culpa e desejo.

— Eu não queria brigar. Mas ver ele perto de você me tira do controle.

— Isso é seu problema, não meu — ela respondeu, embora os olhos dela o traíssem.

Ele se aproximou, mas dessa vez não a tocou.

— O que aconteceu entre nós... não foi só sexo, Brianna.

— Não foi? — ela sussurrou.

— Não. Foi marca. Foi laço. Eu te sinto aqui. — Tocou o próprio peito. — E sei que você me sente também.

Ela desviou o olhar.

— E mesmo assim... fugiu.

— Porque eu tive medo. Medo de te machucar. Medo do que estou sentindo.

Ela queria responder. Queria gritar, beijá-lo, afastá-lo... tudo ao mesmo tempo. Mas não conseguiu. Em vez disso, virou-se e saiu da loja.

Deixando Peter ali, sozinho, com o coração batendo como tambor de guerra.

E na floresta, escondido sob a terra, algo despertava. Antigo. Faminto.

A maldição estava prestes a reclamar sua próxima alma.

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