CAPÍTULO 02

RENZO ALTIERI

— Senhor, a noiva vai entrar.

A voz de Marvin soou pelo comunicador preso ao meu ouvido como um sussurro abafado, mas foi como se o mundo parasse por um segundo.

Meu coração... aquele maldito traidor... sorriu antes de mim.

Minhas mãos cerraram ao redor da bengala e um sorriso lento se desenhou sob a máscara. Ninguém o veria — mas eu o sentia. Era o sorriso de um homem diante de um milagre. Do meu milagre.

— Como está o perímetro, Marvin? — perguntei, sem tirar os olhos das portas pesadas da catedral. Meu olhar estava afiado como lâmina. Bianca estava prestes a cruzar aquelas portas e não haveria espaço para falhas.

— Os snipers estão em seus lugares, senhor. — ele respondeu firme. — Os drones estão sobrevoando a área. A segurança foi reforçada por causa da mídia e de alguns curiosos. Temos seguranças e policiais disfarçados no meio da multidão.

Assenti em silêncio.

— E o helicóptero?

— A um minuto da igreja, senhor.

— Ótimo. — murmurei, com o mesmo tom gélido que usaria para autorizar uma execução.

A catedral estava em silêncio.

Até que a música começou.

A porra da música.

"My Only One (No Hay Nadie Más)".

A melodia invadiu os vitrais da Duomo como uma lembrança viva. O piano suave, os acordes sutis, e a voz suave de Sebastián Yatra começaram a preencher cada canto daquele templo sagrado. Eu conhecia aquela música. Ela sempre a colocava nos stories do I*******m. Sempre que estava sorrindo. Sempre que tirava uma foto. Era a trilha sonora dela.

Do meu anjo.

Dio... Aquela música me quebrava.

E então...

As portas da catedral se abriram.

E o tempo. Simplesmente. Parou.

Ali estava ela.

Minha Bianca.

Meu anjo vestido de noiva.

A luz natural invadiu a igreja pelas portas abertas, emoldurando a pequena silhueta de branco como se o próprio céu a empurrasse para mim. Vestido Mikado branco, ombro a ombro. Decote profundo, mas sem vulgaridade. Cintura fina, marcada como se tivesse sido desenhada por deuses. A saia princesa se abria com suavidade, sem exagero. Simples, elegante... e completamente letal.

Mas foi o rosto dela...

Dio... Il suo volto...

Cabelos presos num penteado que deixava algumas mechas soltas, moldando o rosto como uma pintura viva. A maquiagem era quase inexistente, mas isso só realçava a beleza crua, etérea, irreal. Os cílios brancos... as sobrancelhas brancas... intactas, naturais, perfeitas. E os lábios… aquele formato de coração, rosado, puro. Ela sorriu. Para mim.

Aquele mesmo sorriso de três anos atrás, quando a vi pela primeira vez no escritório de Juan Bianchini. O mesmo sorriso das fotos que ela me mandava, escondida, durante a última semana.

Mas os olhos…

Aqueles olhos.

Azuis e lilás. Uma mistura de céu e crepúsculo. Um paradoxo impossível. Um olhar que atravessava a máscara, a carne, os ossos... e me desnudava por inteiro.

E então, ela deu um passo à frente.

Ao seu lado esquerdo, surgiu Juan Bianchini, de terno escuro e rosto emocionado. Ele se inclinou, beijou a testa da filha e sussurrou algo que a fez sorrir ainda mais.

E do lado direito...

— Puta que pariu... — murmurei por trás da máscara.

LOKI.

Não era um cachorro.

Não era um lobo comum.

Era um monstro magnífico.

Pelagem preta, espessa, brilhando sob a luz. Olhos dourados e selvagens. A criatura caminhava ao lado de Bianca com uma elegância ameaçadora, como se soubesse que ali era território sagrado — e que ele era o guardião do próprio céu. O maldito era quase da altura dela. Um ser mitológico.

— Santo Dio... — Marino resmungou ao meu lado. — Eu pensava que era um lobo, tipo... do tamanho de um cachorro. E não a porra de um lobo modificado em laboratório do tamanho de um cavalo. Fanculo!

— Está parecendo a Daenerys de Game of Thrones. — Lorenzo comentou com um tom sério demais. — Só falta os três dragões.

Virei o rosto lentamente para eles.

Marino estava estatelado, olhos arregalados. Lorenzo engoliu seco.

— De onde o pai dela tirou esse lobo?! — Lorenzo perguntou com um tom quase infantil de pânico.

— Não faço ideia de onde ele tirou esse bicho... — murmurei, voltando o olhar para ela. — Mas ele é dela.

Bianca começou a caminhar até mim.

Sorrindo.

Caminhava como se flutuasse sobre o chão de pedra polida da catedral. Ao seu lado, o pai. E o lobo. Os três formavam uma visão que deixava todos os presentes em silêncio absoluto. Ninguém ousava se mexer. Não por medo do lobo. Mas porque... ela não parecia humana. Era como se o céu tivesse se manifestado em forma de mulher.

Um anjo.

No altar, minhas mãos tremeram pela primeira vez em anos.

Ela se aproximou... e o cheiro.

Dio... o cheiro dela.

Morango. Aquele aroma suave, adocicado, que queimava em mim como se cada partícula de ar fosse feita para me enlouquecer.

Quando parou diante de mim, senti meu mundo se alinhar.

Juan beijou os cabelos dela com reverência. Depois, ergueu os olhos e me encarou.

— Cuida da minha bambina, Altieri. — ele disse com firmeza.

— Sempre vou cuidar, Bianchini. — respondi com a voz baixa, mas tão firme quanto. Minha mão enluvada tocou a dela... minha pequena.

E quando segurei sua mão...

Dio...

Mesmo com a luva, senti a pele quente dela. Foi como se mil descargas elétricas atravessassem meus nervos e me conectassem diretamente ao paraíso. Ela sorriu, olhando para mim como se não houvesse ninguém mais no mundo. E não havia.

Bianca era minha.

E diante de Deus e dos homens, do submundo e da mídia...

Eu era o monstro que havia se ajoelhado para o seu anjo.

Juan caminhou com passos firmes até o lado esquerdo do altar. O lobo... o maldito lobo preto me lançou um olhar direto e rosnou. Mostrou os dentes. Aqueles caninos afiados pareciam dizer que ele arrancaria a garganta de qualquer um que ousasse tocar na mulher que caminhava comigo. E eu? Eu apenas encarei de volta.

Loki caminhou com a mesma elegância silenciosa de um predador e parou ao lado de Juan. Os olhos dele fitaram Marino e Lorenzo com uma intensidade tão assassina que até eu senti um arrepio subir pela espinha. E aqueles dois... bom, reagiram como qualquer homem sensato diante de um demônio peludo do tamanho de um cavalo.

— Caralho, por que ele tá olhando pra gente, Marino? — Lorenzo sussurrou, sem tirar os olhos do lobo.

O padre pigarreou, chamando nossa atenção.

— Estamos em uma igreja — disse ele com uma voz tranquila, mas firme.

— Perdono, padre. Não irá se repetir — Marino respondeu, ainda mantendo o olhar fixo na criatura ao nosso lado.

Então... eu ouvi. A risada. A porra da risada mais linda do mundo. Baixa. Sutil. Como uma brisa suave. Me virei, incapaz de ignorar aquele som.

Bianca.

— Está tudo bem, Loki — ela disse com uma doçura que me destruiu por dentro, olhando para o animal como se ele fosse uma criança. — Eles são amigos.

E, Dio... o lobo... ele simplesmente se sentou. Olhou para ela como se ela fosse sua deusa pessoal. Aquela criatura mortalmente selvagem se rendeu àquela mulher. A mesma mulher que, naquele instante, era toda minha.

— Vamos começar? — perguntou o padre.

Eu puxei Bianca com suavidade para frente, até estarmos de frente um para o outro. O vestido branco realçava tudo o que ela era: etérea, intocável, celestial. O sorriso dela... o sorriso dela era a porra da luz no fim do meu inferno. E os olhos... Dio... aqueles olhos azul-lilás me desarmavam, me queimavam, me faziam querer ajoelhar e prometer minha alma.

Me aproximei mais, como se o mundo não existisse ao redor, e fechei os olhos, inalando o cheiro dela.

— Um marshmallow com cheiro de morango — sussurrei, para ela, só para ela.

Ela sorriu. Um sorriso envergonhado que me fez sorrir também, por baixo da máscara.

— Gostou do vestido? — ela murmurou, os olhos fixos nos meus.

— Você está perfeita, meu anjo — respondi apertando sua mão com delicadeza, como se ela fosse feita de vidro. Porque pra mim, ela era. Um anjo frágil que eu protegeria com cada gota do meu sangue.

O padre começou a cerimônia, mas eu não ouvi nada. Nada. Só via ela. A minha Bianca. A mulher que sorria pra mim como se eu fosse merecedor do céu, quando o inferno era tudo o que eu conhecia.

Ela apertou minha mão.

— Não chore, meu anjo — sussurrei, sentindo minha garganta travar.

— Estou chorando de felicidade — ela respondeu, a voz emocionada, o aperto intensificado.

Dio...

O padre anunciou que era hora dos votos e das alianças. Levei a mão direita ao bolso interno do paletó e retirei a caixa. Três anéis. Três promessas eternas.

Entreguei a caixa ao padre, que a abriu revelando: o anel de noivado de ouro negro com uma pedra de ametista em formato de coração, a aliança dela — de ouro negro cravejada de ametistas com meu nome gravado por dentro — e a minha de ouro negro cravejada de ametista, grossa, pesada e com o nome dela gravado por dentro...

Segurei a mão dela — junto do buquê — e respirei fundo.

— Eu, Renzo Altieri, aceito você, Bianca Bianchini, como minha legítima e única esposa e prometo te amar, te respeitar na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, e por todos os dias da minha vida, até que a morte nos separe, meu anjo — minha voz não tremeu. Não poderia. Cada palavra era verdade.

Ela me olhou. Seus olhos brilhavam.

— Eu, Bianca Bianchini, aceito você, Renzo Altieri, como meu único e legítimo esposo — sua voz estava trêmula, tomada pela emoção. — Eu prometo te amar em todos os momentos, principalmente na escuridão, na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, e por todos os dias da minha vida e além. E nem a morte vai me separar de você, garotão.

Dio...

O padre falou:

— Renzo Altieri, você aceita Bianca como sua esposa?

— Sim — respondi sem pensar. Porque não havia outro destino.

— Bianca Bianchini, você aceita Renzo Altieri como seu esposo?

— Sim — ela disse com a suavidade de um beijo.

— As alianças — o padre estendeu a pequena caixa. — Abençoe, Senhor, estas alianças, que ides entregar um ao outro como sinal de amor e de fidelidade.

Soltei as mãos dela. Respirei fundo. Retirei a luva da minha mão esquerda.

Silêncio.

Mortal.

As cicatrizes estavam ali. Cruas. Visíveis. Uma lembrança do passado que eu nunca pude apagar. Mas eu olhava apenas para ela. Para ver o que ela via.

Bianca... ela sorriu. Mais ainda. Nos olhos dela não havia nada além de amor. Nada. Nem medo. Nem pena. Nem desconforto. Só... fascínio. Encantamento. Devozione.

Soltei o ar preso no peito. E peguei o anel de noivado.

Segurei sua mão. Quente. Macia. Perfeita. E deslizei o anel por seu dedo. Em seguida, a aliança.

— Aceite essa aliança como prova do meu amor, devoção, lealdade e proteção — falei, a voz firme como aço.

Ela apertou minha mão, como se quisesse se fundir a mim. Depois pegou minha aliança, beijou, e...

— Receba essa aliança como prova do meu amor eterno e da minha fidelidade — ela disse, colocando-a no meu dedo. O toque da joia foi gélido, mas o efeito dela foi o oposto.

O padre falou:

— Se tem alguém contra essa união, fale agora ou cale-se para sempre.

Silêncio.

— Eu vos declaro marido e mulher. O que Deus uniu, o homem não separa.

O “pode beijar a noiva” não veio. Eu pedi.

Olhei nos olhos dela. Ela sabia. Já esperava.

— Vou beijar você na nossa noite de núpcias, meu anjo — disse.

Ela sorriu e assentiu. Dio, ela entendia tudo sem que eu precisasse explicar.

Segurei a mão dela. Caminhamos juntos pela nave da igreja, lado a lado. Loki se posicionou ao lado oposto, como um guardião imortal. As palmas ecoaram pela Duomo.

Marino e Lorenzo seguiram à frente, atentos. Agora não era mais só por mim. Agora... tínhamos ela. Minha esposa.

Bianca Altieri.

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