— Estava pensando em você há muito tempo... — O homem murmurava ao meu ouvido. Na escuridão da noite, ele me beijava sem vergonha. Ele era meu marido, aquele que entrou para minha família. Depois de uma noite de bebedeira, acabei indo para a cama com ele, e a situação virou um grande escândalo. Por causa disso, como uma filha rica e mimada, fui obrigada a aceitar que ele, um rapaz sem nada, se casasse comigo. Por orgulho, eu o humilhava, o xingava e, sempre que podia, o fazia sofrer. Mas ele nunca se irritava, parecia sempre calmo e obediente. Quando eu comecei a gostar dele, ele pediu o divórcio. O homem, que antes era calmo e submisso, de repente se mostrou uma pessoa completamente diferente, cheia de intenções sombrias. Em um piscar de olhos, tudo mudou. Minha família caiu, e ele prosperou. O marido, que eu havia pisoteado, se transformou no meu patrocinador.
Ler mais— Não se deixe enganar pelo sucesso do George, viu? Mesmo agora, nessa família, tem muita gente que morre de inveja dele. — Jaqueline soltou a frase, com aquele tom carregado de quem vivia aquilo na pele.Assenti de leve, porque de fato era impossível fingir que não percebia. Ainda há pouco, só pela maneira como o pessoal, lá embaixo, olhava para ele, já dava para sentir na pele o quanto queriam se aproximar, mas, ao mesmo tempo, odiavam o sucesso que ele conquistou.Jaqueline ficou ainda mais brava quando continuou:— Você nem imagina as coisas que já falaram do George por aqui! Desde que ele se casou com você, passaram a debochar ainda mais... Dizem que ele não tem vergonha, que casou com você só para se dar bem, que é uma vergonha para a família Fonseca! E vivem inventando que você e sua família tratam ele mal, que usam ele como se fosse empregado... Já escutei tanta piadinha sobre ele! Só que, mesmo ficando velha e meio esquecida, eu não sou boba, não. Sei direitinho que tudo isso
Jaqueline assentiu, mas logo seu olhar se tornou melancólico, trazendo à tona lembranças do passado.— O George… Esse menino realmente sofreu demais na vida. Sou muito grata por você ter dado a ele um lar, de verdade. Você não imagina quantas vezes pedi para ele te trazer aqui em casa, só para eu te ver de perto. Sempre pensei que se ele escolheu você, é porque você é alguém especial, em quem ele pode confiar de verdade. Só que ele sempre dizia que você estava recuperando a saúde, que não podia sair de casa, aí acabei deixando para lá, respeitei.Ela respirou fundo antes de continuar, com a voz um pouco embargada:— Mas dois anos atrás, fiquei bem doente, bateu aquele medo de não te conhecer pessoalmente... Insisti para ele te trazer de qualquer jeito, só queria te ver uma vez.Não aguentei, abaixei a cabeça e as lágrimas escorreram sem controle. Era só isso... Jaqueline só queria ver a esposa do neto, e eu tinha tratado ela tão mal antes, sem nem saber. Que vergonha! Sentia o peito ap
— Desculpa. — Pedi mais uma vez, quase por instinto, falando baixo e cheia de respeito, ainda sentindo o peso do arrependimento por ter feito Jaqueline esperar, por ter tomado o tempo do George e, principalmente, pelo jeito ingrato como tratei aquela senhora que sempre foi tão doce comigo. No fundo, eu sabia o quanto aquilo era injusto da minha parte. Me condenava em silêncio, sentindo a culpa crescer cada vez mais forte, como se fosse me sufocar.Justo quando eu pensava que não dava para me sentir pior, Jaqueline simplesmente me puxou para sentar ao lado dela. Ela abriu um sorriso cheio de ternura.— Ah, minha Valentina, imagina! Não precisa pedir desculpa, bobinha. Homem tem mais é que aprender a esperar pela esposa, não é?Eu fiquei sem saber o que dizer, só olhei para ela meio pasma. Será que Jaqueline ainda não tinha ideia de que eu e o George já não estávamos mais juntos? Pelos olhos dela, nem parecia estar chateada comigo... Pelo contrário, tinha até carinho no olhar. Era uma s
Passei longos instantes em silêncio, com a cabeça baixa, sem encontrar palavras que explicassem tudo que se passava dentro de mim. Às vezes, nem eu mesma entendia como pude chegar àquele ponto. Eu nunca me considerei arrogante, e a Clara sempre dizia que meu coração era doce demais para alguém criada como filha de uma família tradicional. Eu buscava ser tranquila, evitava discussões, nunca liguei para status. Só que quando se tratava de George, parecia que todas as minhas barreiras se erguiam ao máximo. Diante dele, toda a minha insegurança virava orgulho e ironia. Não sabia como explicar ou de onde tanta resistência nascia.No fundo, o que restava agora era o arrependimento. Olhando para trás, via claro o erro do passado. Só que sofrer ou pedir desculpa não mudava nada. Apertei a mão machucada, sentindo a pele arder, tentando não esquecer que cada palavra também tinha deixado cicatrizes nele e em mim.Encolhida no canto, com a voz finalmente retomando alguma firmeza, ergui a cabeça
George não acreditava em mim e, obcecado com aquela ideia de que existia algo entre mim e Bruno, acabou me cercando num silêncio opressor que restava só a mim engolir, por orgulho e exaustão. Quando não disse nada, ele se aproximou, ameaçador, bloqueando até a pouca luz do corredor, e tornou tudo mais intimidador. Meu corpo reagiu sozinho, me fazendo recuar instintivamente.A voz dele saiu dura, cheia de uma frieza pesada, quase cortante:— Você vai ser humilhada, não duvide disso. Mas, antes de tudo, o que eu quero é que peça desculpas para minha avó.A frase me pegou completamente desprevenida.Desculpas? Por qual motivo exatamente? Que mal eu teria feito à avó dele?Com a minha expressão confusa, George apenas sorriu, carregado de desprezo.— Eu sabia que você tinha péssima memória. Mal passaram dois anos e já esqueceu como tratou minha avó naquele tempo?Foi como se um estalo dolorido ecoasse na minha cabeça. Dois anos atrás... Eu forcei a memória, e cada detalhe daquela época com
— Val, sua mão... — A voz do Bruno cortou o burburinho do salão, alta e cheia de preocupação. Ele segurou minha mão, com olhos arregalados diante do ferimento. — O que houve? Olha isso, está sangrando. Você precisa cuidar disso agora, vem comigo buscar um remédio.Antes mesmo de eu reagir, ele já tentava me arrastar para o jardim. Só que, naquela mesma hora, eu senti todos os olhares gelados da família Fonseca cravados em mim, como lanças ansiosas para ver meu próximo erro, como se eu tivesse virado o espetáculo da noite. A pressão era tão sufocante que, mesmo querendo recuar, não via saída possível, pois fugir seria pior e resistir seria inútil.— Está tudo bem, Bruno, não se preocupa. — Consegui dizer, afastando calmamente a mão dele. Eu não queria chamar ainda mais atenção para mim, muito menos no meio daquele ninho de cobras.— Val, não pode ser assim. Com a mão nesse estado, você precisa cuidar logo disso.— Já falei, não é nada. Foi só um arranhão. — Falei com aquela exaustão de
Último capítulo