Capítulo 3
— Olha só, não é a ex-herdeira da família Santos, a esposinha do Sr. George? Como é? Veio aqui tomar uma bebida? Você veio tomar uma bebida, mas por que está vestida com o uniforme daqui?

Assim que o homem terminou de falar, uma risada em coro se espalhou pela sala.

Eu segurei com mais força a alça do carrinho de bebidas e respirei fundo.

Já era, eles me pegaram. E, pelo jeito, estavam querendo me humilhar, então não adiantava tentar fugir. O melhor seria seguir em frente, talvez até conseguisse tirar alguma gorjeta deles.

A pressão das dívidas estava insuportável. Meu pai não parava de dizer que não queria mais viver, minha mãe vivia chorando, meu irmão se matava fazendo entregas... E eu me importando com um orgulho e uma dignidade que não valiam mais nada?

Empurrei o carrinho e fui até eles, tentando manter um sorriso forçado, mas ainda assim educado.

— Só me encontrei com vocês aqui! Que coincidência, né? Já que estão aqui, que tal dar uma força para o meu "negócio"? Se se divertirem, uma gorjeta para mim seria bem-vinda. — Eu disse, tentando brincar para aliviar o clima.

— Olha só. — Pedro começou a rir com escárnio.

Eu me lembro dele, sempre se arrastando atrás de mim e do meu irmão, como se fôssemos amigos. Agora, com a nossa situação difícil, ele estava ali, todo cheio de si, e eu não via a hora de dar um tapa na cara dele.

Mas agora não era hora de agir por impulso. O mais importante era tentar ganhar dinheiro.

Eu continuei sorrindo, sem dizer mais nada.

Pedro se inclinou e se aproximou de mim, com um sorriso malicioso no rosto.

— Olha só, olha só, é mesmo a Srta. Valentina, aquela que achava que estava no topo do mundo. Como assim caiu tanto? Puxa, que mudança!

Imediatamente, todos riram.

André, também com um sorriso cruel, disse:

— Você acabou de falar em dar uma força para o seu "negócio", mas esse lugar... Será que o seu "negócio" é esse tipo de coisa? Hahaha, se for, melhor tirar logo a roupa e mostrar o produto, né? Se não for bom, como vamos saber se vale o que estamos pagando?

Eu segurei com força a garrafa de bebida e olhei discretamente para George.

Ele estava lá, calado, fumando, como se nada daquilo tivesse chegado até ele, ou talvez, ele simplesmente não se importasse.

Eu abaixei os olhos e fui colocando as garrafas uma a uma no balcão do bar, tentando manter o sorriso.

— Ah, pessoal, acho que houve um mal-entendido... Eu estava me referindo ao meu "negócio" de bebidas, claro. Sabem que, como somos velhos conhecidos, podem pedir diretamente de mim. Assim eu fico com uma comissão maior.

— Ah, então é por isso... Agora você está tão apertada assim, Valentina? — Pedro pegou um cartão e o bateu no balcão com um gesto exagerado, sorrindo com deboche. — Esse cartão tem trinta mil. Se você se jogar no chão e fizer uns latidos de cachorro, isso é todo seu, o que acha?

Mais risadas e assobios ecoaram pela sala. Todos os olhares estavam voltados para mim. Eu podia sentir a pressão aumentando.

Até George me observava. Seu rosto estava tranquilo, mas seus olhos eram tão profundos que me deixava desconfortável demais para tentar entender o que ele estava pensando.

Eu não me movi, e André, percebendo a minha hesitação, jogou mais um cartão no balcão.

— Então, olha, aqui tem cem mil. Só se você fizer o que o Pedro falou, e, quem sabe, passar a noite com a gente. Com essa grana, o problema é seu.

Eu fiquei em choque e olhei para ele, sem acreditar no que havia acabado de ouvir.

Ok, a gente estava mal de grana, mas eu ainda era a esposa do George. Ele estava ali, sentado à mesa, então como é que o André tinha coragem de fazer uma proposta dessas na frente dele?

A única explicação seria que George já havia contado para eles que tínhamos nos separado e, pior, que ele não gostava mais de mim. Só assim eles teriam coragem de me humilhar desse jeito.

— Ah, não está precisando de dinheiro, é? Mas não consegue abrir mão nem da sua dignidade para sair por aí, é? — André zombou. — A gente está sendo até generoso, né? Se você tivesse que vender seu corpo por aí, ia precisar fazer muito mais "trabalho" para conseguir essa grana.

Era verdade, eu estava precisando de dinheiro. Mas abrir mão de toda minha dignidade não significava que eu ia perder os limites.

Olhei para o André e, que estava ali, com aquele sorriso malicioso, senti um nó na garganta de repulsa.

Peguei o cartão de cem mil e joguei de volta nele, com um sorriso forçado.

— Esse dinheiro de cem mil não vale nada. Se você tem coragem, tire um milhão e coloque na mesa, vamos ver se você é realmente grande coisa.

Eu conhecia bem o André. Ele não tinha muito dinheiro, vivia às custas dos outros e sempre tentava se passar por alguém que tinha grana, mas no fundo, era um miserável. Passava o tempo todo tentando se mostrar generoso, mas se tivesse que comprar um presente, nem com um desconto ele compraria.

Poderia até dizer que, se eu pedisse dez mil, seria o mesmo que arrancar um pedaço da carne dele.

Mas agora, para me humilhar, ele estava disposto a tirar cem mil do bolso. Isso só mostrava o quanto ele realmente me desprezava.

Aquilo me fez refletir. Será que eu fui tão ruim assim no passado? Será que realmente merecia todo esse desprezo?

— Hahaha, André, você também é mesquinho, né? Como se ela não fosse mais a Srta. Valentina, a esposa do Sr. George. Agora vai pagar ela por uma noite? Só cem mil? Que vergonha!

O pessoal da sala deu mais uma risada.

A cara do André ficou vermelha instantaneamente, ele me olhou com ódio e, com desprezo, disse:

— Eu acho que cem mil é até muito para ela.

Eu não dei bola para o deboche do André e fui direto. Peguei o cartão de trinta mil do Pedro e perguntei:

— Você realmente está falando sério, Pedro? Se eu latir igual a um cachorro, essa grana é minha?

Pedro ficou surpreso, parecia que ele não esperava que eu fosse levar aquilo tão a sério. Ele e o André eram iguais, dois pão-duros.

Aquela grana de trinta mil provavelmente era o que ele tinha de reserva.

— Você sempre se achou a última bolacha do pacote, agora quer virar um cachorro? Pelo amor de Deus, né? Isso é piada. — Disse Pedro, tentando puxar o cartão de volta.

Eu esquivei da mão dele e, com um sorriso sério, falei:

— Não é piada, não. Latir não é difícil, e, de quebra, ainda ganho trinta mil. Não parece um bom negócio?

Pedro ficou visivelmente irritado, olhando para o cartão com uma expressão de raiva, como se quisesse arrancá-lo da minha mão.

André, todo sarcástico, comentou:

— Então, vai lá, vamos ver você fazendo esse show, Valentina. Quero ver como você vai rebolar para agradar a gente e ainda pedir "por favor".

Minha antiga arrogância tinha ido embora. A minha cabeça estava cheia de imagens dos cobradores, dos meus pais chorando, do meu irmão trabalhando feito um condenado.

Eu respirei fundo e, finalmente, falei:

— Está bem.

Mas, quando estava quase me ajoelhando, uma mão grande me impediu, apoiando meu cotovelo.

Eu olhei surpresa e encontrei os olhos profundos de George. Meu coração deu um pulo.

— Saíam todos. — George falou com calma, olhando diretamente para os rapazes.

Imediatamente, todos eles começaram a sair, visivelmente assustados com a ordem de George.

Pedro, ao passar, ainda teve a cara de pau de tirar o cartão da minha mão, mas eu nem me importei mais. Que engraçado.

George me observou com seus olhos escuros, profundos. Ele não parecia nem um pouco abalado, mas seu olhar me fez sentir uma tensão que eu não sabia como explicar.

— Está realmente tão sem dinheiro assim? — George perguntou de maneira fria.

Eu tirei meu cotovelo da mão dele e me afastei, respondendo sem rodeios:

— Sr. George, você não precisa perguntar, sabe muito bem a resposta.

Todo mundo no Rio sabia que minha família estava afundada em dívidas, então ele não poderia não saber.

— Sr. George? — George sorriu levemente, saboreando as palavras.

Eu não fazia ideia do que ele estava pensando e, para ser honesta, não tinha vontade de descobrir.

Pulei o assunto e, apontando para as garrafas de bebidas no balcão, disse:

— Sr. George, as bebidas que você e seus amigos pediram já estão aqui. Se achar que o serviço foi bom, também pode me dar uma gorjeta.

George ficou me olhando em silêncio. O seu olhar era como uma cortina de fumaça, impossível de entender.

Eu não estava realmente esperando uma gorjeta, estava só falando por falar. Sorri, já me preparando para sair, mas então ele disse, de repente:

— Eu te dou dez milhões.

Eu parei no meio do caminho, sem acreditar no que ele tinha acabado de falar.

— Como?

George se aproximou de mim, seus olhos como tinta negra, me observando com intensidade.

— Eu te dou dez milhões, se passar uma noite comigo.
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